13 Outubro 2024
"Hélio Pellegrino, cujo centenário celebramos, acreditava também que "a bondade, fora de qualquer dúvida, é o maior sinal da inteligência". Quem é obcecado por bens materiais, fama, poder e "prosperidade" acaba dominado por eles. Não entendeu que o dom e o bom da vida é a gratuidade", escreve Chico Alencar, professor de História e deputado federal - PSOL-RJ, ao comentar o Evangelho de Marcos, 10, 13-30, lida neste domingo.
Essa afirmação de Paulo à pequena comunidade de fiéis de Corinto (2 Cor 6, 10) sintetiza a passagem do Evangelho de Marcos (10, 13-30), lida nesse domingo.
Jesus desmonta o senso comum de seu tempo (que continua atual), segundo o qual a riqueza é sinal de benção divina e a pobreza é castigo do demônio.
Tratado pelo jovem rico e virtuoso como "bondoso Mestre", lembra, com humildade, que "bom mesmo só Deus".
Indagado sobre "como conquistar a vida eterna", manifesta carinho pelo interlocutor - cumpridor dos mandamentos - , mas propõe difícil desafio: "dê tudo o que você tem aos pobres e sigamos juntos"... Porta estreita!
Frente a apelo de tamanha radicalidade, o homem foi embora, tristonho, pesaroso. O peso das posses o possuía...
Como diz o papa Francisco, corajoso diante do cristianismo formal predominante, "a religião dele é um dever, um fazer para obter, uma relação comercial com Deus". Precária, portanto. Mais que seguir ritos, andar com fé impõe o desapego como postura de vida.
O que o Mestre propõe é ficarmos leves para seguir na caminhada! Livrarmo-nos das "riquezas" que nos amarram: ambição de acumulação de bens, que aprisiona; desejo de luxo e conforto excessivo, que acomoda e aburguesa; obsessão com sucesso e prestígio, que nos apequena como seres humanos; ânsia de ganho pessoal, que nos joga no colo do individualismo, do egoísmo, da insensibilidade para com a dor dos semelhantes.
São João Crisóstomo (349-407 d.C.), pregador da Justiça, afirmou: "o 'meu' e o 'teu' são a causa de todas as discórdias". Uma praga: pessoas matam por dinheiro, famílias brigam por herança, nações promovem guerras por interesses econômicos e controle de territórios.
O rico deste episódio - ele não tem nome, é uma classe - leva Jesus a uma constatação cortante: "é mais fácil um camelo passar por um buraco de agulha que um rico entrar no Reino dos Céus".
Trata-se, para viver fragmentos da plenitude da vida eterna desde já, de despojar-se, redescobrir a simplicidade de existir. De cultivar valores sem poder de compra, mas com poder de solidariedade, com energia de amorosidade.
Hélio Pellegrino (1924-1988), psicanalista, militante e místico, exorta, em entrevista a Clarice Lispector (1969): "a coisa mais importante do mundo é ser-com-o-outro, na calma, cálida e intensa mutualidade do amor. O Outro é o que importa, antes e acima de tudo. (...) É esta a fonte da verdadeira generosidade e do entusiasmo: Deus comigo".
Aprendamos, sempre é tempo!
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"Tristes mas sempre alegres, pobres mas enriquecendo muitos, nada tendo e possuindo tudo". Breve reflexão para cristãos ou não. Comentário de Chico Alencar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU