05 Outubro 2024
O artigo é de Alver Metalli, jornalista, em artigo publicado por Religión Digital, 04-10-2024.
Um conhecido de Nápoles me escreveu perguntando se na Argentina se vive bem e se a vida é barata, pelo menos para um europeu que tem euros. Naturalmente, isso me fez pensar nas razões que ele poderia ter para estar interessado, e é o que vou explicar mais adiante. Outro amigo de Roma me perguntou pessoalmente, como quem não quer nada e num tom divertido, se na Argentina há bons lugares para iniciar um negócio. Ambos estavam brincando, mas isso não é o que importa.
Na Bélgica, um país para onde muitos italianos foram trabalhar depois da Segunda Guerra Mundial, o Papa Francisco disse: "Estamos perto de uma guerra quase mundial". Há cinco anos ele falava de uma guerra mundial "em pedaços", mas agora se tornou "quase mundial".
Nos tempos não tão distantes do Covid-19, houve pessoas – na Europa e nos Estados Unidos – que abandonaram as grandes cidades e foram morar em locais mais afastados. Dessa forma, pensavam escapar do flagelo do vírus, que era especialmente virulento em lugares onde sua concentração era maior. Alguns tinham uma casa no campo e a usaram para morar, outros compraram uma e a adaptaram, e outros se mudaram para vilarejos pequenos ou enviaram suas famílias para lá. Até houve pessoas que compraram propriedades para viver e levaram o que precisavam para continuar seus negócios.
A Covid-19 acabou – pelo menos por enquanto e da forma como a conhecemos – e alguns dos que haviam se distanciado do vírus voltaram para suas cidades de origem, mas mantiveram um pé nas áreas periféricas, pois nunca se sabe o que pode acontecer no futuro. Para eles, é relativamente fácil e barato se deslocar de um lugar para outro, já que as distâncias na Itália são curtas em comparação com as da América do Sul. O objetivo era atravessar uma pandemia que, mais cedo ou mais tarde, iria diminuir, mas cujo principal epicentro eram as grandes concentrações humanas.
Mas se a guerra que os europeus presenciam em seu continente se tornar global e nuclear, deslocar-se algumas dezenas ou centenas de quilômetros já não será suficiente. Mudar-se de Barcelona para Salamanca ou de Milão para Bari não basta para evitar as partículas radioativas ou as bactérias dispersas na atmosfera. A segurança –mesmo que relativa – só pode ser encontrada em outro continente. E que outro continente é mais familiar a um espanhol, italiano ou libanês do que a América Latina? E, na América Latina, Argentina ou Uruguai?
Na última vez que estive na Itália, apresentei essas observações a um grupo de amigos com quem estava jantando. Também mencionei a possibilidade, e não é ficção científica, de que uma nova emigração europeia para a América do Sul possa ocorrer. Uma emigração diferente da do passado, desta vez composta por pessoas ricas, ou pelo menos com boa situação financeira, porque mudar-se de um continente para outro requer dinheiro. A segurança, agora, é cara e há quem esteja disposto a pagar por ela. A reação da mesa de compatriotas diante do ousado raciocínio foi de surpresa no início, e depois começaram os comentários divertidos, mas não o suficiente para impedir que voltassem pensativos para casa.
Os argentinos a quem ensino em um bairro pobre da capital, Buenos Aires, ouviram esse mesmo raciocínio com muita atenção. Alguns eram filhos ou descendentes de imigrantes – italianos, espanhóis ou árabes – e têm uma ideia do que significa emigrar. Fizeram perguntas, todas orientadas a compreender a verossimilhança do que estavam ouvindo. Depois, também houve piadas, como "estamos esperando por eles", "que venham, serão bem recebidos", "precisamos de euros", "alugo meu rancho para eles". Mas era evidente que o assunto não lhes parecia totalmente improvável.
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Terceira Guerra Mundial. E se fossem os europeus a emigrar em busca de segurança? Artigo de Alver Metalli - Instituto Humanitas Unisinos - IHU