05 Junho 2024
O convite a rezar por aqueles que abandonam a sua terra e são provados pela “fome, doenças, desespero". Pessoas que vivem a “experiência de Deus como companheiro de viagem”. “Quantas Bíblias, Evangelhos e Rosários acompanham as viagens através de desertos, rios e mares”.
A mensagem do Papa Francisco para o 110º Dia Mundial do Migrantes e dos Refugiado 2024, que será celebrado no domingo, 29 de setembro, foi publicada por Avvenire, 04-06-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Caros irmãos e irmãs! Foi concluída em 29 de outubro de 2023 a primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que nos permitiu aprofundar a sinodalidade entendida como vocação originária da igreja. “A sinodalidade apresenta-se sobretudo como um caminho conjunto do Povo de Deus e como diálogo fecundo de carismas e ministérios ao serviço do advento do Reino” (Relatório de Síntese, Introdução). A ênfase colocada na sua dimensão sinodal permite à igreja redescobrir a sua natureza itinerante, como povo de Deus em caminho na história, peregrino, diríamos "migrantes" rumo ao Reino dos céus (cf. Lumen gentium, 49). É espontânea a referência à narrativa bíblica do Êxodo, que apresenta o povo de Israel a caminho da terra prometida: uma longa viagem da escravidão à liberdade que prefigura aquela da igreja rumo ao encontro final com o Senhor.
Da mesma forma, é possível ver nos migrantes do nosso tempo, como naqueles de todas as épocas, uma imagem viva do povo de Deus a caminho da pátria eterna. Suas viagens de esperança nos recordam que “a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Filipenses 3,20). As duas imagens – a do êxodo bíblico e a dos migrantes – apresentam diversas semelhanças. Como o povo de Israel no tempo de Moisés, os migrantes muitas vezes fogem de situações de opressão e abuso, de insegurança e discriminação, de falta de perspectivas de desenvolvimento. Como os hebreus no deserto, os migrantes encontram muitos obstáculos no seu caminho: são provados pela sede e pela fome; estão exaustos pelos esforços e pelas doenças; são tentados pelo desespero.
Mas a realidade fundamental do êxodo, de todo êxodo, é que Deus precede e acompanha o caminho do seu povo e de todos os seus filhos de todos os tempos e lugares. A presença de Deus entre o povo é uma certeza da história da salvação: “o Senhor teu Deus é o que vai contigo; não te deixará nem te desamparará " (Dt 31,6). Para o povo que saiu do Egito tal presença se manifesta em formas diferente: uma coluna de nuvem e de fogo indica e ilumina o caminho (cf. Ex 13,21); a tenda do encontro, que guarda a arca da aliança, torna tangível a proximidade de Deus (cf. Êx 33,7); a vara com a serpente de bronze garante a proteção divina (cf. Nm 21,8-9); o maná e a água (cf. Êx 16-17) são os dons de Deus ao povo faminto e sedento. A tenda é uma forma de presença particularmente cara ao Senhor. Durante o reinado de Davi, Deus recusou ser confinado num templo para continuar a viver numa tenda e assim poder caminhar com o seu povo, “de tenda em tenda, e de tabernáculo em tabernáculo” (1Cr 17,5).
Muitos migrantes experimentam Deus como companheiro de viagem, guia e tábua de salvação. A ele se entregam antes de partir e recorrem a Ele nas situações de necessidade. Nele buscam consolo nos momentos de desânimo. Graças e Ele, existem bons samaritanos ao longo do caminho. A Ele, em oração, confiam as suas esperanças. Quantas Bíblias, evangelhos, livros de orações e rosários acompanham os migrantes nas suas viagens através de desertos, rios e mares e das fronteiras de cada continente!
Deus não só caminha com o seu povo, mas também no seu povo, no sentido de que se identifica com os homens e as mulheres em caminho através da história - em particular com os últimos, os pobres, os marginalizados – como se prolongando o mistério da Encarnação.
Por isso, o encontro com o migrante, como com cada irmão e irmã necessitados, “é também encontro com Cristo. Ele mesmo nos disse isso. É Ele quem bate à nossa porta faminto, sedento, forasteiro, nu, doente, preso, pedindo para ser recebido e assistido" (Homilia na Missa com os participantes no encontro “Livres do medo”, Sacrofano, 15 de fevereiro de 2019). O juízo final narrado por Mateus no capítulo 25 do seu Evangelho não deixa dúvidas: “era estrangeiro, e hospedastes-me” (v. 35); e mais “em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” (v. 40). Portanto, cada encontro, ao longo do caminho, representa uma oportunidade de encontrar o Senhor; e é uma ocasião cheia de salvação, porque na irmã ou no irmão necessitado de nossa ajuda Jesus está presente. Nesse sentido, os pobres salvam-nos, porque permite-nos encontrar o rosto do Senhor (cf. Mensagem para o III Dia Mundial dos Pobres, 17 de novembro de 2019).
Caros irmãos e irmãs, neste Dia dedicado aos migrantes e refugiados, unamo-nos em oração para todos aqueles que tiveram que abandonar as suas terras em busca de condições de vida dignas.
Sintamo-nos e caminho juntos com eles, façamos juntos "sínodo" e confiemos todos eles, assim como a próxima Assembleia Sinodal, "à intercessão da Beata Virgem Maria, sinal de segura esperança e de consolação no caminho do povo fiel de Deus" (Relatório de Síntese, Para continuar o caminho).
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“É assim que encontramos Cristo, no migrante exausto pelos esforços”. Mensagem do Papa Francisco para o 110º Dia Mundial dos Migrantes e do Refugiado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU