25 Setembro 2024
Em dezembro, Hany Bseiso, um médico palestino, teve de escolher entre amputar a perna de sua sobrinha A'hed, de 18 anos, na mesa da cozinha com tesoura, agulha e linha, sem anestesia, ou vê-la sangrar até a morte. A garota havia sido ferida em sua casa na Cidade de Gaza e os combates ao redor deles os impediam de chegar a um hospital ou clínica. O hospital al Shifa, por exemplo, que ficava a menos de dois quilômetros de distância. Assim, o Dr. Bseiso pegou a tesoura e a gaze que tinha em sua maleta médica e removeu a parte inferior da perna dela. Sabemos o quanto a garota sofreu e gritou porque outro parente filmou a amputação sem anestesia. Sabemos o quanto ela gritou diante do coto de sua perna sobre a mesa da cozinha.
A reportagem é de Francesca Mannocchi, publicada por La Stampa, 24-09-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Um anestesista de Gaza que trabalhou no hospital al-Shifa até ser invadido pelas tropas israelenses em novembro disse à Reuters que o hospital às vezes fazia 20 amputações por dia: “Havia crianças no chão cobertas de queimaduras com pés amputados, bebês sem mãos. Lembro-me de uma criança pequena cujo braço e perna direitos haviam sido arrancados e que parecia estar com uma hemorragia; não tínhamos nem mesmo um tubo torácico, não tínhamos nada para lhe dar para aliviar a dor”.
O cirurgião britânico-palestino Ghassan Abu Sitta, especialista em medicina de guerra, que trabalhou 43 dias nos hospitais Al-Shifa e Al-Ahli em Gaza antes de ser evacuado da Faixa de Gaza em novembro, disse ao New Yorker: “As tropas israelenses cercaram o banco de sangue, portanto não podíamos fazer transfusões. Se um membro estivesse sangrando profusamente, éramos obrigados a amputá-lo”. A escassez de suprimentos médicos básicos devido aos bloqueios também contribuiu para o número de amputações. Sem a possibilidade de medicar imediatamente um ferimento, a infecção e a gangrena ocorriam com frequência. O passo seguinte era para todos a amputação.
Abu Sittah lembrou que ele e outros médicos e enfermeiros colocaram todos os membros amputados das crianças em pequenas caixas de papelão, nas quais escreviam o nome da criança e a parte do corpo: Mohammed, braço esquerdo. Reema, pé direito. “Algumas das crianças feridas eram muito pequenas para saber seus nomes, tivemos uma criança que devia ter um ano de idade. Ela foi o única a ser retirada com vida dos escombros de um prédio”. Todos os médicos que estão tratando as mutilações da guerra concordam que, se os feridos pudessem ter chegado aos hospitais ou sido evacuados do país mais rapidamente, muitas amputações poderiam ter sido evitadas.
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Os pequenos mártires de Gaza operados sem anestesia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU