10 Setembro 2024
"Com este escrito Frei Luiz Turra recorda e reatualiza em primeiro lugar o que a Igreja no Brasil através de suas diretrizes para a evangelização tem insistido quando diz que na pastoral, é preciso superar a ideia de que agir já é uma forma de oração", escreve Eliseu Wisniewski, presbítero da Congregação da Missão (padres vicentinos) Província do Sul, mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), em resenha do livro "Oração: respiração da vida: peregrinos na esperança", de Frei Luiz Turra, em artigo enviado ao Instituto Humanitas Unisinos — IHU.
Em seus mais de quarenta anos de vida religiosa e presbiteral, Frei Luiz Sebastião Turra, como franciscano capuchinho, sempre se dedicou ao estudo, à prática e ao ensino da liturgia e canto. No Brasil e no exterior, participou e assessorou inúmeros cursos de atualização litúrgica, seja na formação dos candidatos ao presbiterado, seja na formação de agentes pastorais nas comunidades paroquiais. Também foi assessor da música litúrgica da CNBB. Como compositor brindou-nos com diversas músicas litúrgicas marcantes que fazem parte do hinário litúrgico.
"Oração: respiração da vida: peregrinos na esperança", livro de Frei Luiz Turra (São Paulo: Paulinas, 2024, 120 páginas).
Ele é também o autor da obra "Oração: respiração da vida: peregrinos na esperança" (Paulinas, 2024, 120 p.). Classificando a oração é a respiração da vida este livro não apenas explora a oração como um elemento central da vida espiritual, mas também resgata a inspiração bíblica, testemunhos de vida e oração, e contribuições significativas de preces que se tornaram um patrimônio orante para todos nós.
O referido autor salienta que “sem nenhuma pretensão de êxito literário, nem teológico, tampouco ideológico, procurei dedicar tempo e cuidado para oportunizar um subsídio pastoral às pessoas simples e abertas de coração e, também, a grupos que desejam ampliar sua visão e suas motivações relacionadas à oração. Pode-se não concordar com tudo o que está dito; pode-se achar insuficiente o que está escrito para nos convencer da importância da oração; pode-se negar o valor da oração, achando que é uma atividade irrelevante, ou inútil. Contudo, se este livro nos deixar inquietos, certamente já alcançou o seu objetivo” (p. 12).
Na obra estruturada em quatro partes: 1) A Bíblia nos inspira (p. 15-30); 2) Testemunhas de oração e vida (p. 31-59); 3) Oração: o que dizem os papas mais recentes (p. 61-71); 4) Orações ao alcance de todos (p. 73-109), Frei Luiz Turra não se limita a discutir teoricamente a oração; ele também oferece uma reflexão prática sobre diversos modos e modelos de oração, sobre os diferentes modos de orar (p. 103-107), bem como, suportes e métodos de oração (p. 109-110). Pontua que: “A Trindade sempre se comunicou e se comunica com o mundo criado no amor de infinitos modos. Por esse motivo, não há como menosprezar ou negar os incontáveis modos de oração que sempre animaram e animam indivíduos, grupos e a humanidade em suas mais diversas experiências e expressões religiosas da história. À iniciativa da comunicação do amor de Deus, são incontáveis os modos de o ser humano dialogar” (p. 103). No entanto, observa “a oração cristã não se sustenta no ‘espontaneísmo’ nem se aperfeiçoa no improviso, sem exercícios, sem suportes, ou até mesmo sem método. Somos humanos necessitados de tudo. A oração como respiração da vida, é um dom que vem da fé, mas é também uma responsabilidade a ser assumida e exercitada para seu aprimoramento e eficácia” (p. 109).
Na Introdução (p. 13-14), o autor ressalta que “vivendo e acompanhando , como frei capuchinho, a história da Igreja Católica na preparação, no acontecer e na caminhada pós-Concílio Vaticano II, confirmo o inquietante e salutar movimento desencadeado pela ação do Espírito Santo, com a mediação de tantos homens e mulheres que colaboraram nesse processo de renovação da Igreja, começando por São João XXIII” (p. 13). E noutro parágrafo pontua que “dentre os tantos teólogos luminares do tempo do Concílio Vaticano II, lembramos Karl Rahner, personalidade teológica das mais ricas, vigorosas e originais que o século XX conheceu. Despontando como homem da Tradição, profundamente fiel a Igreja, cito o seu nome para lembrar a célebre frase que continua ressonado em nosso tempo como uma forte provocação: ‘o homem do futuro, ou será um místico, ou deixará de ser cristão’” (p. 13). Levando em conta essa provocação de Rahner, o qual insistia que uma das tarefas da “teologia deve ajudar a elaborar um novo conceito e uma prática correspondente da oração” (p. 14), que motivou o Frei Luiz Turra na elaboração do presente guia pastoral que “olha o passado, o presente e futuro, e quer ser uma ajuda para podermos peregrinar na esperança” (p. 14).
Com este escrito Frei Luiz Turra recorda e reatualiza em primeiro lugar o que a Igreja no Brasil através de suas diretrizes para a evangelização tem insistido quando diz que na pastoral, é preciso superar a ideia de que agir já é uma forma de oração. Quando confundimos agir com rezar, chegamos a abreviar ou dispensar os tempos de oração e de contemplação. Quando reduzimos tudo ao fazer, corremos o risco de nos contentar apenas com reuniões, planejamentos e eventos. Estes são importantes no cotidiano pastoral, mas não substituem a vida de oração. Ao contrário, devem decorrer dela e a ela conduzir. Muitas atividades podem facilmente levar os cristãos a caírem em tentações como ativismo, vaidade, ambição e desejo de poder. Nessa perspectiva, os agentes de pastoral correm o risco de se esquecer da dignidade batismal, como verdadeiros sujeitos eclesiais, reduzindo-se a meros voluntários.
Este subsídio pastoral escrito com simplicidade, objetividade, altamente reflexivo traz presente a inspiração bíblica, as testemunhas de vida e oração, com suas mensagens, as iluminações do Magistério da Igreja e a contribuição das preces que permanecem disponíveis para nós como um patrimônio orante – torna-se uma ferramenta essencial para aqueles que buscam aprofundar sua vida de oração e peregrinar na esperança, uma vez que “não há como peregrinar na esperança sem o recurso da oração, pois esta é a respiração da vida” (p. 111).