06 Setembro 2024
O relatório da Universidade Católica Argentina reflete as consequências diretas das políticas de ajuste implementadas pela equipe econômica, afetando especialmente os setores mais vulneráveis.
A reportagem é publicada por Página/12, 05-09-2024. A tradução é do Cepat.
A pobreza atingiu 52,0% da população e a indigência 17,9% no primeiro semestre, segundo o Observatório da Dívida Social Argentina (ODSA) da Universidade Católica Argentina (UCA), números significativamente maiores aos reportados pelo INDEC em 2023, que registravam 41,7% de pobreza e 11,9% de indigência. Estes valores são os mais elevados desde 2004.
O relatório reflete as consequências diretas das políticas de ajuste implementadas pela equipe econômica, afetando especialmente os setores mais vulneráveis. Agustín Salvia, diretor do ODSA, destacou que, apesar da gravidade da situação, não é tão crítica como a crise de 2001-2002, uma vez que o desemprego, por enquanto, não atingiu os níveis desse período, quando atingiu taxas de 20%.
Os dados do primeiro trimestre de 2024 indicam que 54,9% dos argentinos estavam abaixo da linha da pobreza e 20,3% estavam em situação de indigência, enquanto no segundo trimestre os indicadores caíram para 49,4% e 15,9%, respectivamente. Esses cálculos se baseiam em microdados da Pesquisa Permanente a Domicílios (EPH).
Salvia explicou que dois fatores mantêm elevados os níveis de pobreza e indigência: a perda de emprego no setor informal e os baixos salários dos trabalhadores formais. Cerca de 50% dos trabalhadores formais do setor privado recebem rendimentos inferiores à Cesta Básica Total (CBT), que em julho subiu para 900.648 pesos, com um aumento acumulado de 81,7% até esta altura do ano.
Paralelamente, uma pesquisa do UNICEF revelou que a renda de 48% das famílias argentinas não é suficiente para cobrir as despesas mensais, um aumento de 7% em relação ao ano anterior e de 15% em relação a 2022. Além disso, um milhão de crianças na Argentina vão para a cama sem jantar, enquanto 4,5 milhões de adultos são forçados a saltar uma refeição.
A ligeira queda trimestral dos indicadores de pobreza e indigência é atribuída ao abrandamento da inflação e ao aumento dos salários dos trabalhadores formais no setor privado, embora esta recuperação tenha sido parcial. Por outro lado, os trabalhadores informais e os funcionários públicos experimentaram uma menor recomposição salarial, o que aprofunda a desigualdade entre os diferentes setores.
O Estimador Mensal da Atividade Econômica (EMAE) do INDEC mostra quedas significativas em setores-chave como a construção (-23,6% interanual em junho), a indústria de transformação (-20,4%) e o comércio atacadista e varejista (-18,6%).
No futuro, o ODSA prevê uma estabilização na redução da pobreza e da indigência, impulsionada por uma ligeira recuperação do consumo, do subsídio de Natal, do aumento das aposentadorias e de melhorias nos planos sociais.
Contudo, não se espera uma queda pronunciada destes indicadores. Uma avaliação mais completa do panorama social e econômico acontecerá em dezembro, quando termina a pesquisa nacional do observatório, que analisa variáveis como rendimento, emprego, insegurança alimentar, sofrimento psíquico e índice de pobreza multidimensional. A situação social continua se desgastando rapidamente com as políticas de ajuste, enquanto a atividade econômica continua a aprofundar a crise.
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Argentina. O efeito do desemprego, da precarização do trabalho e dos baixos salários - Instituto Humanitas Unisinos - IHU