10 Julho 2024
Previsto para outubro, movimento Aliança pela Liberdade reunirá partidos conservadores da Europa e América.
A reportagem é de Alice Maciel, publicada por Agência Pública, 09-07-2024.
Após fortalecer os laços com a extrema direita dos Estados Unidos e da América Latina, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), em parceria com o ex-ministro da Casa Civil Onyx Lorenzoni (PL-RS), está articulando na Europa a fundação de uma coalizão de partidos conservadores dos dois continentes. O movimento “Aliança pela Liberdade”, com lançamento previsto para outubro em Portugal, foi tema do discurso de Lorenzoni durante o CPAC Brasil, congresso conservador realizado no último final de semana em Balneário Camboriú (SC).
“Estou há um ano e meio trabalhando para construir a Aliança pela Liberdade; reunir os partidos de direita conservadores da Europa, com o nosso PL no Brasil, com os partidos conservadores aqui da América, para que nós possamos ter, que nem a esquerda, uma estrutura com capacidade de articulação, fortalecimento, compartilhamento de experiências, para que nunca mais aconteça de o verde e amarelo ser retirado do poder da forma que foi”, afirmou o ex-ministro.
Lideranças da extrema direita estão se unindo para apoiar parceiros internacionais e ajudar a reforçar narrativas de perseguições e ataques à liberdade de expressão seguindo um modus operandi similar e coordenado, tendo políticos brasileiros como parte dessa articulação.
Lorenzoni já havia mencionado o projeto em entrevista concedida a um podcast português, em 26 de junho. Ele mudou-se para o país após perder a eleição para o governo do Rio Grande do Sul, em 2022. O político brasileiro concedeu a entrevista ao lado da deputada do Chega Rita Matias, que participou desta edição do CPAC Brasil.
Organizado pelo Instituto Conservador Liberal (ICl), de Eduardo Bolsonaro, o CPAC Brasil é a versão nacional do maior congresso anual da direita norte-americana. Durante dois dias, além de políticos e influenciadores locais, centenas de pessoas acompanharam palestras de lideranças da extrema direita dos EUA, de países europeus e latino-americanos.
“Hoje é tempo de o Brasil contagiar o mundo outra vez, contagiar Portugal, contagiar a Europa, com estes valores cristãos, com estes valores conservadores, com estes valores da família, e eu venho aqui para dizer que nós estamos juntos, nós combatemos o mesmo combate e temos um oceano que nos separa, mas muitas convicções que nos unem”, discursou Rita Matias, em Balneário Camboriú.
A deputada apresentou um vídeo da manifestação organizada por seu partido contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando ele esteve em Portugal, em abril de 2023. “Nós sabemos o que vocês passam aqui e estamos juntos para trilhar esse caminho com vocês”, concluiu a palestra sob aplausos da plateia.
Além do Chega, Onyx Lorenzoni anunciou em seu perfil nas redes sociais que o partido de extrema direita da Espanha, Vox, também fará parte da Aliança pela Liberdade. Ele divulgou a informação em 15 de abril, após ter visitado a fundação Disenso, da legenda espanhola, em Madri. “A parceria do Vox é motivo de muita honra para o nosso movimento”, escreveu o ex-ministro.
O Vox é liderado por Santiago Abascal, e o partido português Chega, pelo deputado André Ventura. Eduardo Bolsonaro mantém diálogo com ambos.
Um vídeo gravado pelo parlamentar brasileiro e Lorenzoni após um giro pela Europa, em junho de 2023, foi o prenúncio das intenções dos bolsonaristas na região. “O que nós buscamos aqui é aprender, integrar com os nossos partidos, somar experiências, e o que é mais importante: trabalhar aliados para o presente e o futuro da Europa e do Brasil”, disse Lorenzoni após ter visitado vários países com Eduardo Bolsonaro.
Eles passaram por Portugal e Itália, onde se encontraram com lideranças dos partidos da extrema direita Chega, Fratelli d’Italia e Lega Nord. “Em breve, quem sabe, a gente anuncia algumas novidades aí?”, disse Eduardo na ocasião.
A proposta da Aliança pela Liberdade se assemelha à do The Movement, organização criada pelo estrategista americano Steve Bannon com objetivo de reunir partidos de direita no mundo. Ela não deslanchou, mas Eduardo Bolsonaro, nomeado por Bannon ainda em 2019 como representante do movimento na América Latina, parece que aprendeu a lição.
“O que eu tento fazer, especialmente com Eduardo, é falar sobre como [desenvolver] um movimento nacionalista populista na América Latina, em como conectá-lo, fazer com que as pessoas de cada país se comuniquem, compartilhem ideias, digam o que está dando certo ou não”, contou Bannon em entrevista à BBC Brasil, em setembro de 2022.
Após a derrota de Jair Bolsonaro nas urnas, sob a ameaça de prisão devido aos processos a que responde na Justiça, Eduardo Bolsonaro tem usado suas relações internacionais para defender desinformação, usando as teses falsas de que as eleições no Brasil teriam sido roubadas, de que o país não seria mais uma democracia e de que seu pai estaria sendo perseguido politicamente.
Este ano, o deputado federal já viajou para os Estados Unidos, Alemanha, Bélgica, Hungria e Argentina, em algumas ocasiões acompanhado de outros parlamentares brasileiros, para expor o que eles chamam de “perseguição a críticos de Lula”. Conforme mostrou a Agência Pública, nos EUA, Eduardo Bolsonaro e comitiva articularam com parlamentares americanos punições ao Brasil.
Durante sua apresentação no CPAC, o anfitrião do evento falou da proposta do deputado republicano Chris Smith “para aprovar uma lei nos Estados Unidos que trará consequências para as autoridades brasileiras”. “A Venezuela, por exemplo, tem vários ativos congelados nos Estados Unidos devido ao seu envolvimento com o narcotráfico, devido a todas as questões de violações à liberdade. E esse deputado, Chris Smith, ele já aprovou uma lei nesse sentido contra a Bielorrússia”, afirmou Eduardo, como exemplo ao que está sendo negociado com os americanos para ser replicado ao Brasil.
A lista de participantes do CPAC Brasil no último final de semana é reflexo das articulações internacionais encabeçadas por Eduardo Bolsonaro. Representantes da extrema direita de países como Bolívia, Chile, Argentina, El Salvador, Portugal, Holanda e EUA participaram do encontro e reforçaram apoio a Jair Bolsonaro.
“Para deixar claro para todos os conservadores aqui, eu não sou nenhum pouco fã do presidente Lula. E, para ser sincero, Bolsonaro foi muito melhor”, disse o membro do parlamento europeu Rob Roos durante sua apresentação. Roos foi anfitrião de uma comitiva de deputados brasileiros, incluindo Eduardo Bolsonaro, no Parlamento Europeu, em abril.
“A preocupação que eu tenho com o Brasil é a mesma preocupação que eu tenho com todo o mundo. Em todo o mundo, a democracia está sendo ameaçada. Mas a democracia não está sendo atacada ou ameaçada pela direita radical, como a imprensa de esquerda adora dizer. A democracia e a liberdade estão sendo ameaçadas por um bando de burocratas que nunca foram eleitos por ninguém, que são pesadamente ideologizados e que assumiram o controle de todas as instituições importantes do país. As cortes, as universidades, a imprensa, o serviço público, tudo sob o controle dessas pessoas”, afirmou Roos em sua apresentação.
Frequentador de edições anteriores do CPAC Brasil, o presidente da Argentina, Javier Milei, também apostou na desinformação ao reforçar as falsas teses de que Bolsonaro sofreria perseguição judicial e de que a liberdade de expressão estaria sob ataque: “Vejam o que aconteceu na Venezuela, vejam o que aconteceu na Bolívia, vejam a perseguição policial que sofre Jair Bolsonaro aqui no Brasil”. Essa foi a primeira visita oficial de Milei ao Brasil como chefe de Estado e ele não se encontrou com Lula.
O argentino Giovanni Larosa, que trabalhou para o consultor político Fernando Cerimedo, autor de um vídeo com informações falsas sobre as urnas eletrônicas, também participou do evento. Conforme revelou a Pública, Larosa recebeu recursos da campanha de Eduardo Bolsonaro, em 2022.
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Bolsonaristas articulam na Europa criação de coalizão da extrema direita internacional - Instituto Humanitas Unisinos - IHU