28 Mai 2024
NetLab UFRJ tem sido alvo da oposição por ter receber recursos do governo para estudar o impacto das fake news.
A reportagem é de Sérgio Spagnuolo, publicada por Núcleo, 26-05-2024.
Influenciadores e políticos bolsonaristas começaram a atacar um reconhecido grupo brasileiro de pesquisas contra fake news, divulgando informações descontextualizadas sobre financiamentos públicos a fim de inflamar apoiadores e gerar iniciativas da oposição no Congresso.
Quem é o alvo? O NetLab UFRJ, um laboratório de pesquisas sobre desinformação digital, virou alvo de bolsonaristas neste fim de semana, principalmente por conta de suas pesquisas e relatórios acerca de mentiras espalhadas sobre a atuação do poder público frente às enchentes no Rio Grande do Sul.
A linha de pesquisa do grupo tem foco em estudos de desinformação da extrema-direita, mas também aborda narrativas desinformativas da esquerda no Brasil, especialmente no contexto de polarização política.
Descontexto. Influenciadores bolsonaristas e políticos da oposição, especialmente o deputado Marcel van Hattem (NOVO-RS), têm explorado a política de transparência do NetLab para fazer associações entre as pesquisas feitas pelo laboratório e financiamentos recebidos via entidades federais.
Em um artigo de 22-05-2024 na Gazeta do Povo, van Hattem afirma que o governo "instrumentaliza e financia grupos que desmentem supostas fake news envolvendo o governo", citando nominalmente o Netlab e dizendo que presta "serviço político para Lula e o PT, pago pelo tesouro nacional".
As afirmações do deputado foram utilizadas nesse fim de semana por influenciadores de direita. O deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) disse que fará um requerimento na Câmara para solicitar informações.
Pesquisas independentes. O NetLab afirma ser um laboratório independente e que suas pesquisas não são vendidas e nem sofrem interferência de governos ou financiadores.
É muito comum pesquisas acadêmicas receberem financiamento de recursos públicos, em várias áreas, de exploração de petróleo a estudos de desinformação. No caso do NetLab, o grupo possui inclusive recursos de organizações privadas, de acordo com página publicamente disponível em seu próprio site nomeando seus apoiadores.
Em fev.2024, respondendo a uma solicitação feita via Lei de Acesso à Informação, o Netlab detalhou os projetos em andamento à época. Mais detalhes podem ser encontrados no site TransfereGov, que registra esse tipo de transferência de recursos públicos.
Por que? Desde que a escala e destruição das enchentes no Rio Grande do Sul dominaram o noticiário, muitas mentiras têm surgido nas redes sociais sobre o evento, especialmente sobre a atuação do governo federal.
Van Hattem contestou o fato de que pesquisadores acadêmicos ligados a uma universidade federal terem realizado estudos sobre mentiras espalhadas sobre o maior desastre climático da história do estado.
Segundo ele, oito dos 13 pesquisadores que assinaram um estudo sobre desinformação no RS tinham suas bolsas pagas com recursos do Fundo de Defesa de Direitos Difusos (FDD), vinculado ao Ministério da Justiça, que deveria ser usado para situações de calamidade climática.
Trata-se de um financiamento de quase R$2 milhões que o NetLab de fato recebeu para um projeto de pesquisa intitulado Observatório da Indústria da Desinformação e seu impacto nas relações de consumo no Brasil, o que não implica em venda de pesquisas para o governo.
Contatado, o NetLab informou que tem vários projetos e sua equipe colabora, mesmo que indiretamente, em todos – especialmente em ações indissociáveis como coleta de dados, por isso os nomes de pesquisadores aparecem em relatórios.
Os ataques também são agravados por conta da falta de transparência do Ministério da Justiça acerca de um contrato de R$42 milhões para monitoramento de redes sociais, também financiado pelo FDD, notícia que foi revelada primeiro pelo Núcleo em abr.2024.
A reportagem não cita o NetLab, mas isso não impediu influenciadores de extrema-direita de associarem o laboratório a esse projeto do governo para atacar o grupo.
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Bolsonaristas iniciam campanha nas redes contra grupo que pesquisa sobre desinformação no RS - Instituto Humanitas Unisinos - IHU