10 Julho 2024
A viragem bélica e a promoção da indústria militar que o discurso europeu tem tomado precisa de ser alimentada com matérias-primas que não se encontram no continente. A forma de obter a suposta soberania estratégica é alcançada através de acordos comerciais que moldam um novo neocolonialismo extrativista que sangra os países do sul global. Para alcançar este esforço de guerra, as matérias-primas necessárias e, além disso, uma blindagem total das fronteiras europeias, a UE redesenhou o seu poder brando e as ferramentas de ação sem a necessidade de controle democrático.
A reportagem é de Yago Álvarez Barba, publicada por El Salto, 05-07-2024.
Esse poderia ser o resumo do relatório A União Europeia e o capitalismo militar verde: matérias-primas e acordos comerciais para o extrativismo neocolonial, de Pedro Ramiro e Juan Hernández Zubizarreta das organizações Ecologistas en Acción, OMAL e Paz con Dignidad. No documento, os investigadores mostram a relação direta entre a pressa em assinar alguns dos acordos de comércio livre, como o UE-Mercosul, com a regulamentação de matérias-primas críticas que "foi assinada em tempo recorde e com o fato de quase inusitado de que todas as organizações e partidos políticos tenham concordado”, explicou Ramiro na apresentação do relatório na última quarta-feira.
Este novo regulamento de matérias-primas críticas estabelece 34 delas que a UE considera essenciais para a soberania e autonomia da União. “Vários deles são necessários para a indústria militar”, diz Ramiro.
A nova estratégia europeia e a sua relocalização geoestratégica no mundo não podem ser estudadas de um único ângulo. Por isso, neste estudo analisaram as cinco orientações fundamentais que se impõem às instituições europeias e à sua relação com o resto do planeta: a renovação da agenda comercial, a garantia do acesso às matérias-primas, a promoção de acordos de investimento, o desenvolvimento de alianças público-privado e promover a autorregulação empresarial. Centrando-se mais na vertente comercial, os investigadores chegam à conclusão de que “este reposicionamento estratégico da UE ocorre de forma coordenada nas políticas de migração, defesa e comércio”.
Na passada sexta-feira, sem esperar pela renovação das novas posições das instituições europeias, a Comissão Europeia publicou a sua Agenda Estratégica 2024-2029, o documento que marca a agenda política da UE para os próximos cinco anos que mostra, sem muitos tapujos, que os novos pilares estratégicos se concentrem no mantra “segurança, defesa e competitividade” que, segundo Ramiro, nada mais são do que eufemismos para se referir à militarização, ao controle de fronteiras e ao extrativismo.
A mudança em relação ao plano anterior, o de 2019, é fundamental. O retoque do capitalismo rumo a um modelo verde e digital, onde a transição energética e a digitalização servem como “as duas chaves para o rearranjo empresarial”, como explica Ramiro, tornou-se um capitalismo “verde militar ou verde azeitona”. “A supremacia ecológica que se verifica no plano estratégico de 2019 dá um passo em direção ao capitalismo militar”, lamenta o investigador.
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Militarização, fronteiras e extrativismo: o novo paradigma da Europa militarizada - Instituto Humanitas Unisinos - IHU