08 Julho 2024
"Por que as mulheres que estão no poder hoje e que chegaram ao poder contestando o poder masculino se comportam como os piores homens do passado, muitas vezes com mais ignorância e cinismo? No passado, as mulheres não prestavam o serviço militar e não chegavam ao governo, mas colocavam uma barreira humana, moral, cultural e espiritual contra a bestialidade em que muitas vezes se reduzia um mundo androcêntrico, onde vigorava a lei do mais forte, a negação dos direitos humanos e civis", escreve Rosanna Virgili, professora do Instituto Teologico Marchigiano, vinculado à Pontifícia Universidade Lateranense, no artigo publicado por Vita Pastorale, 07-10-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Ventos de direita, mesmo nas suas formas mais extremas, parecem estar preparando uma tempestade na Europa. São um sinal disso os resultados das recentes eleições. Um dado chama a atenção: que os líderes dos partidos que a propagam são quase exclusivamente mulheres! Mas o que está acontecendo? Como é possível que sejam as mulheres a defender ideias e instâncias de fechamento étnico e de rejeição dos migrantes, de uma defesa extrema das fronteiras da nação a ponto de embarcar com total despreocupação em políticas de guerra, de legitimar a repressão, até mesmo a repressão violenta, de servir a economias que privilegiam os mais ricos e poderosos em detrimento dos pobres e dos despossuídos?
Por que as mulheres que estão no poder hoje e que chegaram ao poder contestando o poder masculino se comportam como os piores homens do passado, muitas vezes com mais ignorância e cinismo? No passado, as mulheres não prestavam o serviço militar e não chegavam ao governo, mas colocavam uma barreira humana, moral, cultural e espiritual contra a bestialidade em que muitas vezes se reduzia um mundo androcêntrico, onde vigorava a lei do mais forte, a negação dos direitos humanos e civis.
Nós, garotas das décadas de 1970 e 1980, lutamos e tivemos esperança de que, quando as mulheres conseguissem chegar ao governo, tantas formas de barbárie seriam dissolvidas na doce economia da justiça e da paz. Que nunca mais nossos filhos, pouco mais que adolescentes, iriam morrer nas guerras.
Nós, mulheres cristãs, sonhávamos com a Pacem in terris, felizes por saber que a terra é somente de Deus e que ninguém pode se apropriar dela ou obrigá-la a gritar pelo sangue derramado do irmão. Que a política é a arte de transformar o inimigo em próximo. Não nos parecia verdade que a Igreja conciliar tivesse voltado a se inspirar na palavra de Deus, nas comunidades das origens, onde "era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria..."(Atos 4,32).
Ver todas essas mulheres, hoje, colocando seus sorrisos inquietantes sobre antigas, lúgubres evocações e símbolos, sem misericórdia, sem uma lágrima diante dos novos massacres de inocentes, da desfiguração do direito e da justiça, enquanto usam como propaganda a vergonhosa mentira de se declararem "mães" e até mesmo "cristãs"... tudo isso é realmente monstruoso!
Um sinal da mudança de um status antropológico da mulher e da dignidade que a ela atribuíram, ao longo da história, as civilizações, as religiões, as culturas familiares e políticas. E se nos parece que uma mulher que pratique o aborto seja vítima da desnaturação de sua humanidade materna, muito mais deveria nos chocar o fato de que as mulheres no poder decidam fazer leis orçamentárias em que o dinheiro não é destinado à saúde, mas para a fábrica de armas, não para o direito à escola dos mais pobres, mas para o enriquecimento corrupto dos já ricos.
Na tradição cristã, o feminino foi de fato submetido ao masculino, mas um masculino prepotente e proprietário, muitas vezes violento e rude em relação à ternura de que toda pessoa precisa. Mas as mulheres resistiram a essas opressões com coragem e enormes sofrimentos. As mães, as verdadeiras mães, foram motores de vida, de futuro, de fé e de esperança.
O que aconteceu, então, com as mulheres? E como o senso maternal se transformou em instintos de defesa armada, de sede de poder, de um estilo de comportamento desdenhoso e vulgar? Grande é a decepção e grande é a derrota também para a Igreja.
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As mulheres no poder hoje - Instituto Humanitas Unisinos - IHU