03 Junho 2024
"O Papa Francisco exorta todos os cristãos a rezar porque, com o apoio de Espírito Santo, a Igreja possa ser cada vez mais capaz de elaborar respostas e ações concretas, para reparar os danos causados pelos abusos e para evitar que tais horrores voltem a acontecer. Nessa perspectiva, a Conferência Episcopal Italiana está levando adiante há anos o seu empenho de combater o drama dos abusos com a máxima transparência, com o apoio do Serviço Nacional para a Tutela dos Menores. Em muitas dioceses italianas já foram identificados e ativados, com a participação de pessoal competente, espaços seguros para a escuta, o acompanhamento e a proteção dos menores e das pessoas vulneráveis", escreve Matteo Zuppi, presidente da Conferência Episcopal Italiana e cardeal arcebispo de Bolonha, em artigo publicado por La Repubblica, 30-05-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
No mês de março de 2023, pedindo ao mundo para rezar “por aqueles que sofrem por causa do mal recebido dos membros da comunidade eclesial, para que possam encontrar na própria Igreja uma resposta concreta à sua dor e aos seus sofrimentos”, o Papa Francisco destacou algumas características fundamentais do empenho da Igreja na prevenção e no combate aos crimes de abuso sexual. Entre estas emergem a necessidade de manter no centro da nossa atenção as vítimas, a corresponsabilidade de toda a Igreja na prevenção e na ação de combate a tais crimes e a exigência de se comprometer com a prevenção, para que horrores semelhantes não voltem a acontecer [ ..].
O Papa ressaltou também que “para que tais fenômenos, em todas as suas formas, não aconteçam mais, o que é necessário é uma conversão contínua e profunda dos corações, atestada por ações concretas e eficazes que envolvam todos na Igreja, para que a santidade pessoal e o empenho moral possam concorrer para promover a plena credibilidade da mensagem evangélica e a eficácia da missão do Igreja". Colocar no centro da nossa atenção as vítimas de abusos sexuais significa iniciar tal caminho de conversão do coração, orientando o nosso olhar para elas, para a sua dignidade e para a sua dor. Reconhecer o sofrimento, muitas vezes silencioso e escondido, de quem sofreu abusos ajuda compreender os danos físicos, psicológicos, espirituais e relacionais que tais crimes infligem a quem é vítima. Não podemos deixar de estender a mão a esses nossos irmãos e irmãs que carregam dentro de si um sofrimento indescritível e, muitas vezes, muito difícil de curar. É evidente, portanto, que todas as vítimas devem ser ouvidas com seriedade e respeito e que a primeira forma de as ajudar é assumir responsabilidades por um juízo justo.
Somente o exercício da justiça, que significa um processo com todas as garantias para todos, é a resposta eficaz ao crime. Juntamente com as vítimas de abusos sexuais, não devemos esquecer de dedicar constantemente cada nosso esforço para promover o acolhimento, o apoio e a proteção daqueles que sofreram abusos de qualquer outro tipo. Aquela da prevenção e do combate dos abusos é uma missão que, na Igreja, vê todos como corresponsáveis. É toda a comunidade eclesial, em cada membro, que é chamada, hoje mais do que nunca, a realizar todos os esforços possíveis para desenvolver e promover uma cultura de salvaguarda dos menores e das pessoas vulneráveis, que se concretize em praxes sempre mais eficazes de prevenção, de vigilância e de combate ao fenômeno. Ninguém pode se sentir alheio a esta responsabilidade.
O Papa Francisco exorta todos os cristãos a rezar porque, com o apoio de Espírito Santo, a Igreja possa ser cada vez mais capaz de elaborar respostas e ações concretas, para reparar os danos causados pelos abusos e para evitar que tais horrores voltem a acontecer. Nessa perspectiva, a Conferência Episcopal Italiana está levando adiante há anos o seu empenho de combater o drama dos abusos com a máxima transparência, com o apoio do Serviço Nacional para a Tutela dos Menores. Em muitas dioceses italianas já foram identificados e ativados, com a participação de pessoal competente, espaços seguros para a escuta, o acompanhamento e a proteção dos menores e das pessoas vulneráveis.
No entanto, o acolhimento e o apoio às vítimas constituem apenas parte da resposta da Igreja ao drama dos abusos. De fato, não podemos isentar-nos da reflexão e da discussão sobre a espinhosa questão do que pode e deve ser feito em relação àqueles que se tornaram responsáveis por tais crimes. Trata-se de um dos desafios mais exigentes que somos chamados a enfrentar, para tornar as práticas de prevenção cada vez mais eficazes e para garantir uma proteção real às vítimas e às pessoas vulneráveis. É um esforço que exige um empenho convicto e contínuo de todos e em colaboração com todos, que certamente não poderá se satisfazer com os resultados alcançados, a começar pelas orientações adotadas e pela clareza de modalidades a aplicar.
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A Igreja com as vítimas dos abusos sexuais. Vamos quebrar o silêncio em torno desse horror. Artigo de Matteo Zuppi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU