21 Mai 2024
Entre os dias 13 e 15 de junho acontecerá – na região da Apúlia, na Itália – a Cúpula de Líderes do G7, organização responsável pelas políticas neocoloniais e financeiras aplicadas no mundo inteiro. Nesta reunião, posterior às eleições dos eurodeputados, serão tratadas a derrota militar sofrida pela OTAN na Ucrânia, a fragilidade produtiva frente à China e a estratégia de aliança necessária para enfrentar os BRICS+, que continuam persistente e pacientemente com o seu processo gradual de dolarização e autonomia soberana.
A reportagem é de Jorge Elbaum, publicada por Página|12, 20-05-2024. A tradução é do Cepat.
Estas encruzilhadas explicam a insistência do Departamento de Estado em garantir o controle estratégico da região que seguem considerando o seu quintal ou “jardim da frente”, segundo a nova definição dada pelo atual presidente Joe Biden. O Comando Sul e as diferentes agências dos EUA são responsáveis para garantir que o referido espaço próximo permaneça sob seu controle. Para garantir este objetivo, dedicam-se a empoderar políticos, empresários, lobistas ou propagandistas com a tarefa de se tornarem delegados e embaixadores dos seus interesses na região. As suas tarefas básicas – na atual fase de relativa perda de poder hegemônico do Ocidente neocolonial – terão como objetivo básico a demonização dos líderes políticos que pensam em privilegiar a soberania em detrimento da globalização transnacional e financeira. Estes últimos serão rotulados como autocráticos e classificados como inimigos da democracia.
A tentativa de assassinato do primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, é um exemplo de como devem ser tratados aqueles que ousam questionar a política de guerra da OTAN, que cercou e ameaçou a Federação Russa até 2022: o New York Times, na sua edição de 16 de maio – um dia após o ataque –, reduziu o acontecimento a um epifenômeno previsível devido à prática populista estabelecida pela própria vítima: “A política eslovaca era tóxica muito antes do seu primeiro-ministro ser baleado”.
A guerra híbrida que caracteriza o confronto global entre o globalismo unilateral e o soberanismo multilateral tem oito dimensões medulares: (a) o acesso aos recursos naturais, (b) a disponibilidade bélico-estratégica, (c) a produtividade econômica, (d) o controle dos circuitos financeiros, (e) as capacidades científico-tecnológicas, (f) a influência propagandística, midiática e noticiosa, (g) o controle dos circuitos logísticos, e (h) o domínio de dados, matéria-prima básica para a configuração de algoritmos e a implantação da inteligência artificial.
Várias destas dimensões foram abordadas por militares que assumem responsabilidades diplomáticas obscuras: na sua última viagem à América Latina, a general Laura Jane Richardson afirmou que a região “não se beneficia” com a cooperação com a República Popular da China. Os jornalistas presentes não puderam consultá-la sobre as vantagens proporcionadas pelos bloqueios e sanções unilaterais ou a influência concedida aos governos mais reacionários da região.
Relativamente aos investimentos de Pequim em infraestruturas críticas – exemplificada no porto de Chancay, no Peru –, os oradores da Conferência de Segurança argumentaram que representa uma perigosa presença chinesa, passível de ser utilizada, no futuro, para fins militares. Pequim costuma responder com veemência que os Estados Unidos não têm autoridade para opinar sobre os planos de guerra, uma vez que têm “800 bases militares no exterior, com 173.000 militares uniformizados, baseados em 159 países”.
Enquanto o evento acontecia na Flórida, agências internacionais ligadas à informação energética divulgaram a notícia de que a companhia marítima russa RosGeo havia descoberto uma reserva de 511 bilhões de barris de petróleo na Antártida, mais que o dobro das reservas da Arábia Saudita. A descoberta foi tratada pelo Comitê de Auditoria Ambiental da Câmara dos Comuns britânica, interessado em se apropriar desses recursos.
Outro aspecto que preocupa a lógica globalista é o controle da comunicação cada vez mais associado aos algoritmos. Por essa razão, Washington aprovou uma normativa para proibir a rede social TikTok, a única das dez mais utilizadas no mundo cuja sede não está no seu território. É do conhecimento de todos que as plataformas desempenham um papel cada vez mais decisivo na configuração cognitiva da população mundial: “Quem vai ter todos esses dados?”, perguntou Richardson retoricamente, para responder sem corar: devemos “promover alternativas democráticas na cibersegurança, que protejam os direitos humanos e assegurem os dados”. Palavras de um norte civilizado, sempre atento aos grandes valores da humanidade.
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Guerras híbridas na América Latina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU