Lítio, petróleo e água doce: os Estados Unidos nem dissimulam seus interesses na América Latina

Fonte: Wikimedia Commons

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28 Janeiro 2023

“Por que a América Latina é importante?”. Essa foi a pergunta retórica de Laura Richardson, chefe do Comando Sul dos Estados Unidos, em vídeo gravado para um evento do Atlantic Council, think tank ligado à OTAN. De imediato, a general norte-americana elencou uma série de razões pelas quais o país norte-americano está de olho no resto do continente. O denominador comum do inventário? Todos os aspectos destacados derivam dos “ricos recursos e elementos de terras raras”, de acordo com o discurso da própria Richardson.

A reportagem é publicada por Página/12, 24-01-2022. A tradução é do Cepat.

A militar, que visitou a Argentina no ano passado, destacou, em primeiro lugar, o triângulo do lítio, área estratégica compartilhada por Argentina, Bolívia e Chile. “60% do lítio do mundo encontra-se nesse triângulo”, disse Richardson, acrescentando que esse elemento é “necessário hoje para a tecnologia”.

Poucas horas depois da divulgação do vídeo, o ex-presidente da Bolívia Evo Morales deu-lhe uma resposta em sua conta no Twitter. “Lembramos à chefe do Comando Sul dos EUA, Laura Richardson, que a América Latina não é seu quintal ou sua fazenda para explorar os recursos naturais”, escreveu.

O relato de Richardson não terminou aí: outra razão pela qual a América Latina é importante para os Estados Unidos – sempre segundo Richardson – acabou sendo a concentração das “maiores reservas de petróleo”, incluindo as do “óleo leve e doce descoberto na costa da Guiana há mais de um ano”. “Também existem os recursos da Venezuela, com petróleo, cobre e ouro”, continuou a general, que também destacou a importância da Amazônia, descrevendo-a como “o pulmão do mundo”.

Por fim, “temos 31% da água doce do mundo nesta região”, disse Richardson. Com este inventário, a chefe do Comando Sul disse que o país norte-americano tem “muito a fazer”.

E finalizou com um objetivo?: “Temos que começar o nosso jogo”.

Atlantic Council: suas origens e o estranho prêmio que concedeu a Mauricio Macri

As declarações de Richardson são da quinta-feira da semana passada e ditas durante uma conversa para a qual foi convidada pelo think tank Atlantic Council, organização com laços estreitos com a OTAN e com chamativas fontes de financiamento.

Fundado em 1961, o Atlantic Council é integrado por figuras como Henry Kissinger e Condoleezza Rice, políticos republicanos e democratas, militares aposentados dos EUA e ex-funcionários da CIA. Desde 2007, seu presidente é o jornalista Fred Kempe, ex-repórter do jornal econômico Wall Street Journal.

O Atlantic Council está interessado acima de tudo em “construir e fortalecer a já profunda integração econômica entre a Europa e os Estados Unidos, bem como promover a liderança transatlântica na economia global”, reza um Programa de Negócios publicado na sua página corporativa.

Embora se declare uma instituição apartidária e independente do governo dos Estados Unidos, pode formar uma verdadeira seleção de ex-funcionários de alto escalão que ocupam diferentes hierarquias em seu quadro funcional. O jornalista e escritor Kempe, veterano de coberturas como o nascimento do sindicato Solidariedade na Polônia ou a invasão do Panamá, é o seu presidente, mas dois ex-secretários de Estado aparecem como diretores: o nonagenário Kissinger, que acompanhou Richard Nixon, e o octogenário Thomas Pickering, que trabalhou com Clinton.

A organização instituiu uma diretoria vitalícia ocupada por alguns poucos, como o general retirado da Força Aérea dos Estados Unidos James P. McCarthy ou o bisneto do ex-presidente Howard Taft, William Howard Taft IV, advogado que serviu em diferentes governos republicanos. Também não faltam especialistas do Centro Scowcroft para Estratégia e Segurança. Seu titular, o general James Logan Jones Jr., exerce a presidência interina do Atlantic Council.

A organização, que foi denunciada pelo New York Times por acordos de colaboração pouco transparentes como um com a FedEx, a empresa americana de correio e encomendas, defendeu-se através do seu presidente Kempe: “Não há dúvida de que o trabalho dos think tanks tem mais credibilidade do que o trabalho dos grupos de pressão, mas a única forma de preservá-lo é através da independência intelectual”, afirmou, citado por aquele jornal em agosto de 2016.

Em setembro de 2018, quando a crise argentina não cedia um centímetro, o think tank decidiu homenagear Mauricio Macri por “sua incansável e abnegada dedicação ao seu país e ao seu povo”. Nesta mesma ocasião, a primeira-ministra norueguesa, Erna Solberg, política conservadora que formou uma coalizão com o Partido do Progresso, uma força de extrema direita, também foi reconhecida com a mesma distinção. Em setembro de 2014, o New York Times informou que o Atlantic Council recebeu doações de nações estrangeiras. Uma delas foi justamente a Noruega, que contribuiu com 5 milhões de dólares.

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