09 Mai 2024
Enquanto o exército israelense arrasa Rafah, o Partido Popular, a embaixada de Israel na Espanha e organizações como o Movimento contra a Intolerância agitam o discurso sionista contra aqueles que denunciam o genocídio.
A reportagem é publicada por El Salto, 09-05-2024.
Desde que na última segunda-feira, 6 de maio, Israel finalmente lançou sua incursão terrestre contra Rafah, considerada até então uma "zona segura" e ao mesmo tempo alvo de numerosos bombardeios durante os sete meses de duração da ofensiva sionista, sucederam-se as denúncias das organizações internacionais diante da catástrofe humanitária que representa o ataque a este pequeno enclave onde mais de um milhão e meio de habitantes de Gaza deslocados buscavam refúgio, e a interrupção de todo tipo de entrada de ajuda humanitária em Gaza após a tomada pelo exército de ocupação do posto de Erez. Esta manhã, a UNRWA voltou a pedir um cessar-fogo, informando que pelo menos 80.000 pessoas teriam fugido desde o início da invasão do leste de Rafah. A agência das Nações Unidas, que Israel tenta destruir, lembrou que não há mais nenhum lugar seguro para onde os gazatíes possam se dirigir.
Enquanto isso, nas redes, as próprias pessoas palestinas refugiadas em Rafah transmitem mais uma vez seu medo de que esta seja a última vez que possam se comunicar com o mundo, e pedem que suas vozes sejam lembradas. Gazatíes que têm relatado em primeira pessoa sua experiência do genocídio, enquanto relatavam para os meios de comunicação o dia a dia da ofensiva israelense contra a faixa, expressavam sua desesperança diante da iminente massacres que se abate sobre o sul de Gaza, enquanto os bombardeios continuam em todo o território. É o caso da jornalista da Al Jazeera, Hind Khoudary, que na noite de 8 de maio compartilhava sua dor e insônia pela sorte das pessoas refugiadas nas barracas.
Sleepless, thinking of all the people displaced on the sidewalks living in their fragile tents.
— Hind Khoudary (@Hind_Gaza) May 8, 2024
As autoridades palestinas denunciaram ontem que 49 novos corpos foram encontrados enterrados em valas comuns no hospital de Al Shifa. Assim, são pelo menos 520 as pessoas que foram assassinadas pelo exército de ocupação e enterradas nas sete valas comuns encontradas em três hospitais em Gaza. A violência aplicada a esses corpos continua revelando a brutalidade dos soldados sionistas; profissionais médicos denunciaram que alguns desses cadáveres foram encontrados sem cabeças. Mais de 34.800 pessoas já morreram em Gaza vítimas da ofensiva israelense, segundo o Ministério da Saúde da faixa.
As imagens de tanques disparando contra barracas ou crianças esmagadas sob os escombros estão alimentando a resposta global, com acampamentos se espalhando por todo o mundo. O mesmo não está acontecendo com a ação dos governos, que continuam sem romper relações com Israel ou reafirmando a amizade com o Estado sionista, como fez ontem o ministro das Relações Exteriores, Jose Manuel Albarés.
Israeli tanks shooting at tents in Rafah. pic.twitter.com/0bpbLfcmp4
— Lowkey (@Lowkey0nline) May 8, 2024
Ao mesmo tempo em que perpetua o genocídio, Israel continua impondo sua narrativa no poder: enquanto um grupo de senadores americanos escrevia uma carta ameaçando o Tribunal Penal Internacional caso emitisse um mandado de prisão contra Benjamin Netanyahu e o líder republicano no Senado criticava ontem a suspensão temporária de um envio de armas a Israel decidido por Biden em resposta à invasão de Rafah, nos Estados Unidos se discute a introdução na legislação federal da definição de genocídio da IHRA — que confunde em seus exemplos antissemitismo com antissionismo e crítica ao Estado de Israel —, adotada já por dezenas de estados.
Na Espanha, os acampamentos contra o genocídio foram relacionados ao Hamas por Borja Semper, do Partido Popular. Enquanto isso, a embaixada israelense reagiu às palavras do Ministro de Assuntos Sociais, Consumo e Agenda 2030, Pablo Bustinduy, chamando as empresas a considerar o risco de estarem contribuindo para o genocídio, com um comunicado acusando declarações como a do ministro de "dar asas ao Hamas e incitar o ódio e o antissemitismo".
Esto que cuenta Helios, hace referencia a un informe de Movimiento Contra la Intolerancia (Esteban Ibarra) que lleva años señalando activistas antirracistas y movimientos indepes. Un informe financiado por @inclusiongob para criminalizar la solidaridad y justificar el genocidio. https://t.co/ZlpNa3wD8f
— Youssef M. Ouled (@ymouled) May 7, 2024
A penetração do discurso sionista no Estado replica estratégias já desenvolvidas nos Estados Unidos por organizações como a Liga Antidifamação, central em utilizar a narrativa dos discursos de ódio para censurar qualquer crítica a Israel e propagar a confusão entre sionismo e antissemitismo. A tal propósito se teria unido na Espanha o Movimento Contra a Intolerância — como denunciava recentemente o ativista antirracista e jornalista Youssef M. Ouled —, em um relatório da organização apresentado em 1º de maio e focado em denunciar o antissemitismo na Espanha, no qual abraça a definição da IHRA.
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Israel em Rafah: tanques contra barracas e imagens de crianças massacradas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU