15 Abril 2024
Uma assembleia com “um clima muito leve, de fraternidade, de comunhão”, que o bispo da diocese de Roraima, dom Evaristo Spengler, pensa que é devido ao fato de ter começado com o retiro, o que “criou um clima de uma busca comum, intensa, mais do que nas outras assembleias”. Isso o leva a dizer que “me sinto mais integrado a esse corpo da Igreja Católica, ao episcopado, na busca de comunhão e também de caminhos para nossa Igreja no Brasil”.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Dom Evaristo Spengler participou intensamente da celebração em que uma catequista de sua diocese, dona Deolinda Melchior da Silva, indígena Macuxi da região Maturuca, no município de Uiramutã, recebeu o ministério de catequista. Numa região de 70 comunidades, algumas de difícil acesso, o bispo destaca dona Deolinda pela sua história. “Ela vem de uma família de uma participação na Igreja muito antiga, uma família que contribuiu muito no processo eclesial, mas também no processo de reconhecimento da região da Raposa Serra do Sol como um território integral indígena”.
Segundo dom Evaristo Spengler, “essa comunhão entre o social, a defesa do território, a defesa da cultura indígena, da língua, ela participou de todo esse processo, e já desde o pai dela vinha participando, e agora tem um sobrinho que terminou a teologia, talvez seja ordenado no próximo ano. Uma família muito integrada na Igreja e nas lutas sociais”. O bispo insistiu em defini-la como “uma pessoa de muita fé. Dona Deolinda busca ter uma vida de oração muito profunda, e hoje até a postura dela na Igreja chamava a atenção, como ela é respeitosa, como ela de fato é acolhedora com o sagrado, porque a mística indígena, a espiritualidade indígena, ela integra o todo, tudo fala de Deus, tudo respira Deus e ela manifesta Deus na vida dela”.
Quando dom Evaristo Spengler entregou a Bíblia à catequista indígena, o bispo se ajoelhou e beijou a mão dela. Isso porque “dona Deolinda não representa uma pessoa naquele momento, ela representa os povos indígenas do Brasil. Então, eu me sinto humilde diante de uma história tão grande desse povo indígena que lutou pela sua terra há 500 anos e, diante dela, eu me ajoelhei e beijei a mão dela, porque eu trato ela com grande respeito, porque ela simboliza o povo indígena que recebeu a Boa Nova de Jesus Cristo, e agora se torna protagonista da evangelização, ela fez esse processo, agora está evangelizando. É uma pessoa que foi evangelizada por pessoas que vieram de fora, e ela se tornou uma protagonista do anúncio de Jesus Cristo e da Palavra de Deus”.
Falando sobre a evangelização, tema principal da 61ª Assembleia Geral da CNBB, dom Evaristo Spengler disse que “algumas coisas são permanentes, a liturgia, a espiritualidade, a catequese, o anúncio da Palavra, a caridade, a missão, é permanente”. Ele disse que “o que me chama a atenção nessas diretrizes que estão sendo propostas agora, é o espírito de pertença à Igreja, a diocesaneidade, a participação da Igreja do Brasil e universal”.
O bispo de Roraima afirma que “hoje a tendência é ser um cristão muito individual, que não precisa da comunidade, que não precisa da sua paróquia, que não necessita da Igreja universal e ele faz também a sua teologia”. Ele ressalta que “aqui estamos diante de uma questão do comunitário, do espírito de pertença. Quando a pessoa crê em Jesus Cristo, ela se torna anunciadora de Jesus Cristo, mas ela é também formadora de comunidade. Esse espírito eclesial é muito forte nessas Diretrizes que estão sendo propostas”.
“Isso vai chegando na base”, segundo dom Evaristo Spengler. Ele destaca que “esse espírito de comunhão, de sinodalidade, criar conselhos e todos os níveis como se propõe, já a Igreja tem essa tradição no Brasil, mas agora tentando alargar a tenda Tudo isso vai ajudar de fato a nós termos cristãos mais conscientes no futuro”.
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Me ajoelhei e beijei sua mão porque “dona Deolinda não representa uma pessoa naquele momento, ela representa os povos indígenas do Brasil”, informa D. Evaristo Spengler, bispo de Roraima - Instituto Humanitas Unisinos - IHU