22 Março 2024
Segundo especialistas, relatório da FAO errou ao não incluir a redução do consumo de carne bovina em roteiro contra a crise climática e a fome.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 21-03-2024.
Um grupo de cientistas criticou publicamente a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) por “rejeitar” em um relatório recente o potencial de proteínas alternativas, como carne de origem vegetal, para reduzir o impacto da pecuária sobre o clima global. A crítica foi divulgada na revista Nature Food.
Segundo os especialistas, é “preocupante e surpreendente” que a principal organização internacional para a alimentação negligencie o impacto da pecuária sobre o clima e as possibilidades de substituição dessa proteína por alternativas com pegada de carbono menor ou zero.
O relatório em questão foi publicado pela FAO na época da Conferência do Clima de Dubai (COP28), no final do ano passado. A publicação define um “mapa do caminho” para a redução das emissões dos sistemas alimentares globais e o combate à fome. No entanto, as proteínas de origem vegetal e outros tipos de solução acabaram escanteadas em favor de recomendações para intensificar a eficiência das técnicas de criação de animais.
“É muito surpreendente que a FAO não inclua uma das intervenções mais claras que ajudariam a cumprir as metas ambientais e de saúde. Também surpreende o fato de a FAO rejeitar completamente as proteínas alternativas”, afirmou a pesquisadora Cleo Verkuijl, do Stockholm Environment Institute (SEI) e uma das autoras da crítica, ao Guardian.
Outra reclamação dos especialistas é a ausência de qualquer citação à iniciativa One Health no relatório da FAO. Essa abordagem conecta a saúde humana, animal e ambiental e vem sendo defendida por diversas entidades internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e, curiosamente, a própria FAO.
“Algumas das intervenções propostas no roteiro da FAO, como a transição da carne bovina para a de frango e a intensificação da pecuária, poderiam manter ou mesmo aumentar significativamente os riscos de resistência antimicrobiana e/ou doenças zoonóticas”, afirmaram os autores.
Em tempo
Um relatório da organização Feedback Global mostrou como os principais bancos do mundo continuam investindo em cadeias produtivas de alimentação com grande impacto climático, como a da produção de carne bovina e de laticínios. Entre 2015 e 2022, as 55 maiores empresas pecuárias industriais do mundo receberam cerca de US$ 77 bilhões anuais em financiamento. Esses recursos permitiram a expansão da produção de carne bovina (9%) e de laticínios (13%) nesse período. O relatório cita os principais frigoríficos brasileiros – JBS, Marfrig e Minerva – como alguns dos maiores beneficiários desse crédito. A notícia é do Guardian.
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Cientistas criticam proposta net-zero da FAO para alimentação sem redução do consumo de carne - Instituto Humanitas Unisinos - IHU