Dia Internacional da Mulher e a resistência feminina na guerra e no nosso cotidiano. Destaques da Semana do IHU

Confira os destaques de 02 a 08 de março

Arte: Marcelo Zanotti | IHU

Por: João Vitor Santos | 11 Março 2024

Nesta edição, refletimos sobre as lutas cotidianas das mulheres, em alusão ao dia 8 de março. Também nestes tempos sombrios de guerra, são elas as mais impactadas e, ao mesmo tempo, as que promovem a resistência. Ainda destacamos os novos apelos do Papa com o olhar em Gaza e começamos a fazer memória do Golpe de 1964.

Dia Internacional das Mulheres

No Brasil, em 2023, uma mulher morreu a cada seis horas vítima de feminicídio!

Com esse dado assustador lembramos aqui as mulheres, suas resistências e vivências, ainda na semana em que se celebra o Dia Internacional das Mulheres.

Este ano, mais uma vez, o IHU trouxe muitas reflexões para discutir esse abismo de gênero.

Além dos textos em nosso site, promovemos dois encontros virtuais. Um deles abordou a estarrecedora realidade de violência contra as mulheres, que no Rio Grande do Sul tem números altíssimos.

É uma violência que ocorre sempre e de muitas formas. E o pior: reiteramos estas violências no instante em que não entendemos que há distinções quando se aborda a temática a partir do viés masculino ou do viés feminino. Milly Lacombe, aliás, nos dá uma aula sobre isso.

Lutas e resistências cotidianas

Em outra live promovida pelo IHU nesta semana, a ideia foi ouvir as histórias de luta e resistência de mulheres que estão entre nós. Confira.

Mulheres na Igreja

Ainda sobre o tema, outra discussão que não podemos perder de vista é sobre o espaço das mulheres na Igreja. Nesta semana, publicamos as reflexões de Andrea Grillo a partir das provocações de Luigino Bruni.

E agende: o IHU também está organizando outras conferências sobre o tema. Em breve, divulgaremos a programação.

Na guerra, a dor delas

No atual contexto de guerras, também são as mulheres as mais atingidas, assim como as crianças. De Gaza à Ucrânia, é das mulheres, muitas vezes, a responsabilidade de reerguer e manter a família. Difícil imaginar de onde tiram tanta força em meio a dor.

Novos bárbaros

Leonardo Boff também nos provoca a pensar sobre as mulheres nestes tempos de guerra. Segundo ele, chegamos a essa barbárie especialmente por não reconhecer o outro. E, quando se fala em outro, é sempre o “diferente de mim”, seja mulher, um outro gênero ou aquelas e aqueles de uma cultura e hábitos diferentes “dos meus”. Boff diz: “nunca se reconheceu, de fato, o outro como seu semelhante e nunca se respeitou de forma consequente o diferente”. É uma lógica que parece especialmente viva na Europa, e que se irradiou pelo mundo desde o século XVI.

Fome, dor e trauma

É muito triste ver que enquanto uma pequena criança traz memórias tão duras da guerra, e que a marcarão para sempre, as discussões parecem reduzir este diferente, o outro, a inimigo.

Em Gaza, quem não morre diretamente com a guerra, morre de fome. Para dizimar o “inimigo”, vale tudo, até bloquear comida que chega como ajuda humanitária.

Falcões à espreita

E no meio de tanta dor e morte, ainda tem quem fature. São como falcões que miram as presas mais fragilizadas. A reportagem de Pablo Elorduy aborda as intenções de poderosos se associando à indústria bélica. E são muitos que faturam com a guerra, seja em Gaza, seja na Ucrânia ou em qualquer canto do planeta. Como aponta o professor Edelberto Behs: “o diabólico neste processo é que a indústria bélica do ocidente lucra com a destruição da Ucrânia na medida em que combate as tropas russas, e lucra com as multinacionais da construção civil e outros fornecedores, depois, na 'reconstrução’”

Um preço alto

Estes negociantes da morte não se dão conta de que a humanidade inteira pode pagar um preço bem alto. Se as guerras avançam, a ameaça de Armagedom e a explosão do mundo crescem com elas. Domenico Quirico, jornalista italiano, nos chama à reflexão: “talvez devamos perguntar-nos se não chegamos a um daqueles momentos, 1914, 1939, em que a definição humana que demos às coisas desaparece e elas nos olham com toda a horrível primitiva estranheza que geralmente é velada pelos pesadelos”.

Ainda sobre a guerra, o preço alto que se paga e as dificuldades de acolher o outro, vale a leitura do artigo Varsóvia e Gaza: 80 anos depois, dois guetos e o mesmo nazismo... e a mídia finge não ver o terror de Estado de Netanyahu, de Luiz Cláudio Cunha. O texto já foi publicado há alguns dias, mas vale retomar pele densidade que tem e a complexidade da questão que aborda.

Basta, por favor!

Vendo cenas como essa acima, em que  alguém teve que dar de comer a quem está em desespero pela morte e medo, é possível sentir a força do apelo do Papa Francisco para que parem com a guerra.

A voz de Francisco se ergueu mais uma vez durante o Angelus do domingo, 03-03-2024. Foi neste mesmo dia em que o pontífice clamou ao mundo que parem com a guerra e que o medo seja transformado em confiança.

Abutres do Conclave

Francisco parece mesmo incansável com seus apelos pelo fim das guerras, isso do alto de seus 87 anos, dificuldades de locomoção e entre um resfriado e outro. O Papa está mais do que vivo, mas até diante destes seus posicionamentos mais radicais frente às dores do mundo, como bem aponta Robert Mickens, os abutres estão de olho e à espreita de um novo conclave.

Influenciadores digitais católicos

Que Francisco tem opositores dentro da própria Igreja, isso não é novidade. Mas o que tem chamado a atenção é a grande articulação destes opositores no ambiente das redes digitais. São os chamados influenciadores digitais católicos. É bem verdade que entre esses não há somente opositores ao pontificado ou alas mais conservadoras, mas o crescimento deste fenômeno no Brasil despertou a curiosidade de um grupo de pesquisadores que se dedicou ao tema.

(Foto: Divulgação)

A pesquisa deu origem ao livro Influenciadores digitais católicos: efeitos e perspectivas. Nesta semana, o livro foi tema de debate no IHU, com a presença de Dom Joaquim Mol, bispo auxiliar de Arquidiocese de Belo Horizonte, e dos professores Moisés Sbardelotto, coordenador do Grupo de Reflexão sobre Comunicação da CNBB/Grecom e parceiro do IHU, e Aline Amaro da Silva, vice-secretária da Sociedade Brasileira de Teologia Sistemática – SBTS.

Fim da Igreja?

Ainda sobre conjuntura eclesial, vale a leitura da reflexão de Carolina Montero Orphanopoulos, que nos leva a pensar se estamos no fim da velha ideia de Igreja, tomando uma ideia de vulnerabilidade.

Golpe de 64

Em 2024, lembramos os 60 anos do Golpe de 1964, mais precisamente em 31 de março. O IHU está preparando uma programação especial para refletirmos sobre este pesado capítulo da história brasileira. As videoconferências começam na próxima semana. Em breve divulgaremos mais detalhes. Mas já se agende: a primeira será na próxima quarta-feira, às 10h.

Enquanto isso, vale a leitura do artigo de Dênis de Moraes, intitulado A esquerda e o golpe de 1964.

Em 2014, o IHU também fez memória ao começo da Ditadura Civil-Militar. Relembre as discussões nas edições 437 e 439 da Revista IHU On-Line:

 

Arrupe e Rahner

Para encerrar, fazemos a memória de duas figuras emblemáticas e que podem indicar luzes para construímos caminhos nestes nossos tempos perigosos. O primeiro é Karl Rahner, lembrado agora em março pelos 120 anos que estaria completando. Romero Venâncio nos convida a voltar a Rahner para pensar alternativas a uma ainda resistente oposição ao Vaticano II. A segunda figura é Pedro Arrupe, que Javier Duplá nos convida a olhar para este sujeito que também pensou uma outra Igreja, mas que foi incompreendido e marcado por isso.

Uma ótima semana a todas e todos!