07 Março 2024
Laura Boldrini, deputada do Partido Democrático e presidente da Comissão Permanente de Direitos Humanos da Câmara, atende o telefone de um ônibus que atravessa o deserto do Sinai em direção ao Cairo. Com ela estão treze colegas deputados, todos da oposição. A delegação, em missão com a rede de ONG italiana Aoi, visitou a passagem de Rafah, na fronteira entre Gaza e o Egito: “Estamos abismados. A situação está além do que poderíamos imaginar."
A entrevista é de Serena Riformato, publicada por La Stampa, 06-03-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
O que vocês viram?
Há mais de 1500 caminhões de ajudas parados. Entram como conta-gotas, enquanto do outro lado, em Gaza, as pessoas estão morrendo de fome. Os controles israelenses em cada veículo são exaustivos, duram até mais de trinta dias. Há bens essenciais que são inexplicavelmente rejeitados e permanecem no grande complexo da Crescente Vermelha egípcia.
Que tipo de artigos?
Cilindros de oxigênio, incubadoras para bebês prematuros, ambulâncias, muletas, cadeiras de rodas, geradores. E se houver algum item não autorizado, todo o caminhão é barrado.
Qual é a razão?
Israel não presta contas a ninguém do que faz, decide arbitrariamente. Não existe uma lista que estabeleça formalmente o que pode entrar. Há necessidade de tudo na Faixa. Como é possível recusar uma barraca por causa do tecido? São pretextos. Querem tornar impossível a vida dos palestinos em Gaza, aniquilar um povo.
Por enquanto, o governo italiano não tem intenção de liberar fundos para a UNRWA, a agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos, sob investigação pelo suposto envolvimento de doze funcionários no massacre de 7 de outubro.
Reunimo-nos com representantes da UNRWA em Gaza e prometemos-lhes que faremos todo o possível para garantir que os financiamentos sejam restaurados. A Agência demitiu os funcionários envolvidos na investigação e iniciou uma investigação interna. Não pode se tornar uma desculpa para uma punição coletiva. A UNRWA é a espinha dorsal do sistema de assistência, reduzir a sua capacidade de ação significa desestabilizar a região.
Por que vocês foram aí?
Queríamos conferir a situação pessoalmente. Da passagem de Rafah queríamos gritar ‘cessem o fogo imediatamente’. É a pré-condição para as operações de socorro. Limitar o número de comboios significa fazer as pessoas morrerem de fome, é um ato realmente criminoso.
Por que não há deputados da maioria?
Eu também me pergunto isso. Teria sido bom para eles também verem com os próprios olhos. Preferem fugir da realidade.
O governo está fazendo o suficiente?
O primeiro-ministro não deu seguimento à moção de cessar-fogo aprovada pelo Parlamento. Não participa das negociações, não age. No entanto, trata o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, como um bom amigo. Talvez seria bom poder dizer aos bons amigos: ‘Pare, não é aceitável o que você está fazendo’ Não vemos esse empenho.
O que lhe disseram os representantes das ONG que encontraram?
Descreveram-nos uma situação impossível. ‘Catastrófico’ ou ‘apocalíptico’ são termos insuficiente. Um deles nos contou sobre uma família de amigos que já foi rica. Não conseguem comer há mais de uma semana. O pai dá aos filhos três colheres por dia de comida de cachorro vencida.
O início do Ramadã parecia poder coincidir com uma trégua. As negociações, no entanto, continuam no impasse. Qual foi sua impressão? Existe esperança no desespero?
O porta-voz da UNRWA em Gaza disse-nos: ‘Agora até a esperança morreu aqui’. Esse é o sentimento que se sente entre a população. Não acreditam mais em nada. Eles se sentem abandonados.
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“Morre-se de fome na Faixa. Netanyahu aniquila os palestinos” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU