05 Março 2024
"A Igreja não é apenas aquela que se autodenomina como tal e os cristãos não são apenas aqueles que se dizem assim. Em outro aspecto, complementar a tudo isso, poderíamos até acrescentar que não basta se autodenominar cristão para sê-lo de fato", escreve Danilo Di Matteo, médico e filósofo italiano, em artigo publicado por Settimana News, 05-03-2024.
O grande teólogo Karl Rahner nasceu em 5 de março de 1904 e faleceu em 30 de março de 1984: confio que os dois aniversários representem ocasiões para refletir sobre sua obra. Tive a oportunidade de estudar seu pensamento alguns anos atrás, percebendo, por exemplo, a influência exercida sobre ele por filósofos como Kant e Heidegger, além, é claro, de Tomás de Aquino.
Assim, com o benefício da retrospectiva, descobri que tive uma influência religiosa rahneriana. Estávamos no final dos anos 70 e início dos anos 80: ainda se sentia a longa onda do Concílio Vaticano II ou o eco do livro de Milan Machovec, "Jesus para os ateus", e o pároco e professor de religião da minha infância e início da adolescência, ao responder a uma pergunta minha que evocava justamente o texto, propôs uma série de semelhanças, imagens, metáforas muito próximas à ideia dos cristãos anônimos (cristiani inconsapevoli, em italiano). Os "cristãos de fato", como os nomeei na época.
Uma concepção maturada precisamente por Rahner, como se sabe, com base na ideia da abertura "transcendental" dos humanos à dimensão do divino e do infinito. Uma abertura constitutiva de cada um de nós, embora seja Deus, livremente, a corresponder a ela, a vir ao nosso encontro. A graça, o dom divino, permanece tal, mas nós estamos inclinados a recebê-la. Não apenas isso: é sempre o Criador que, livremente, se manifesta e se dirige a nós de várias maneiras. Com a Palavra, certamente, ou com os sacramentos; mas também de formas diferentes, talvez imprevisíveis ou inimagináveis para nós, distantes de nosso campo de visão extremamente limitado.
Uma concepção que não deixa de apresentar aspectos problemáticos, como se pode imaginar. Se considerarmos, por exemplo, Mahatma Gandhi como um "cristão inconsciente" (talvez como um "cristão apesar de si mesmo"), corremos o risco de não respeitar plenamente sua diferença, sua singularidade, sua alteridade; corremos o risco de não reconhecer totalmente a originalidade de sua mensagem e ignorar sua matriz cultural e religiosa.
Rahner, obviamente, não afirmava que todos são cristãos. A dele era mais uma atualização da ideia, própria da tradição cristã, da "igreja invisível". A Igreja não é apenas aquela que se autodenomina como tal e os cristãos não são apenas aqueles que se dizem assim. Em outro aspecto, complementar a tudo isso, poderíamos até acrescentar que não basta se autodenominar cristão para sê-lo de fato.
Podemos provisoriamente afirmar que não seria correto ver um cristão por trás de cada pessoa generosa, gentil, justa, amorosa, piedosa. O diálogo inter-religioso correria o risco de naufragar antes mesmo de começar. No entanto, também não devemos nos contentar em falar apenas de homens e mulheres "de boa vontade". O que está por trás, e além, dessa boa vontade? Como entender adequadamente, e em profundidade, o seu significado?
Talvez sejam algumas das questões que o importante teólogo do século XX continua a nos apresentar.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Karl Rahner: 5 de março de 1904. Artigo de Danilo Di Matteo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU