23 Fevereiro 2024
Segundo o Ministério da Saúde, o número de mortes indígenas na Terra Yanomami cresceu em relação a 2022, mas subnotificação na gestão Bolsonaro impede comparação.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 23-02-2024.
A crise humanitária na Terra Yanomami, em Roraima, resultou na morte de 363 indígenas em 2023. O número representa aumento de 20 óbitos em relação a 2022, de acordo com dados do Ministério da Saúde. O levantamento mostra que a situação no território ainda é delicada mesmo depois da decretação de emergência em saúde pública, feita pelo presidente Lula em janeiro do ano passado.
O crescimento no número de mortes, no entanto, não indica necessariamente uma piora da situação. Isso porque, segundo profissionais da saúde, houve uma subnotificação elevada de casos na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022). Ao mesmo tempo, com as ações mais proativas do governo federal a partir de janeiro de 2023, o acompanhamento está sendo mais detalhado.
De toda forma, o número de mortes ainda é elevado e indica que as comunidades indígenas continuam sofrendo com malária, desnutrição e outros problemas de saúde decorrentes da ou potencializados pela presença de garimpeiros ilegais na Terra Yanomami.
TI Yanomami ainda no abandono ▶️Guerrilha no meio da floresta e a urgente necessidade de ações concretas - Folha BV https://t.co/IMiUBWu1oW
— Bruce Albert (@Bruce_Albert) February 20, 2024
Depois da expulsão da maior parte dos garimpeiros do território nos primeiros meses de 2023, a redução da fiscalização, provocada pelo recuo das Forças Armadas nas ações de campo, permitiu o retorno de alguns dos invasores. Isso se refletiu na condição dos indígenas, com novos episódios de violência.
Como a Folha assinalou, a desnutrição persiste em comunidades das regiões de Auaris e Surucucu, que também sofrem com surtos frequentes de malária. Curiosamente, essas áreas contam com Pelotões Especiais de Fronteira (PEF) do Exército, o que deveria significar uma garantia de proteção. Infelizmente, a omissão dos militares colocam essas aldeias na linha de frente da crise humanitária no território Yanomami.
Além das mortes em campo, outro problema é a dificuldade para identificar os restos mortais dos indígenas. Segundo o InfoAmazonia, pelo menos seis corpos de Yanomami aguardam identificação há mais de um ano no IML de Boa Vista.
A Funai é a responsável por buscar familiares para fazer a identificação, mas afirma que vem enfrentando dificuldades nessa tarefa. De acordo com o órgão, os corpos são provavelmente de pessoas do subgrupo Yanomami conhecido como Yawari, fortemente afetado pelo garimpo.
Metrópoles e Poder360 também abordaram o número de mortes Yanomami no ano passado.
Ouçam o que Bruce Albert está falando. Não é uma pessoa qualquer. É um dos maiores conhecedores do povo Yanomami que já esteve inúmeras vezes no território atualmente invadido por garimpeiros. Nós temos um genocídio acontecendo em nosso território. https://t.co/AgExBz7Jou
— Rodolfo Salm 🌳🌴🌴🌴🏹😺 (@rodosalm) February 21, 2024
Em tempo: A Funai está monitorando uma situação na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia. Em dezembro passado, um grupo de oito indígenas isolados apareceu em uma mata ao sul do território. De acordo com o órgão, eles podem ser parte dos “Isolados do Cautário”, responsável pela morte do indigenista Rielo Francisco em 2020 durante uma ação para proteger os indígenas na zona rural de Seringueiras. Outra possibilidade, levantada pelo indigenista Antenor Vaz, é que o grupo seja da etnia conhecida há anos pelo povo Amondawa como Yrapararikuara, o que confirmaria a presença de mais uma comunidade de indígenas isolados dentro do território. A notícia é da Agência Pública.
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Terra Yanomami tem 363 mortes registradas no 1º ano do governo Lula - Instituto Humanitas Unisinos - IHU