02 Fevereiro 2024
Como a mudança climática impacta as águas das diferentes regiões do Brasil?
Para responder a essa e outras perguntas, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) lançou a primeira edição do estudo Impacto da Mudança Climática nos Recursos Hídricos do Brasil nesta quarta-feira, 31 de janeiro. O lançamento aconteceu durante a live da ANA que deu início à Jornada da Água 2024 e que revelou o tema do Dia Mundial da Água (22 de março) no Brasil neste ano: A Água nos Une, o Clima nos Move.
A reportagem é publicada por EcoDebate, 01-02-2024.
O novo levantamento da ANA apresenta de forma inédita, considerando a escala de sub-bacia, os efeitos da mudança climática na disponibilidade de água no Brasil e pode ser utilizado como referência para o planejamento e a gestão dos setores de recursos hídricos e de saneamento básico por parte de comitês de bacias, órgãos públicos que cuidam dessa temática, pesquisadores e usuários de água. Esse estudo indica um cenário com tendência de redução na disponibilidade hídrica para quase todo o País, incluindo grandes centros urbanos e regiões importantes para produção agrícola, como a bacia do rio São Francisco, considerando cenários de curto, médio e logo prazo – respectivamente os períodos de 2015 a 2040, de 2041 a 2070 e de 2071 a 2100.
Segundo a publicação, a disponibilidade hídrica pode cair até 40% em regiões hidrográficas do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e parte do Sudeste até 2040. Com essa redução, existe uma tendência de aumento do número de trechos de rios intermitentes (que secam temporariamente) especialmente na região Nordeste. Essas situações demandam preparação e podem afetar a geração hidrelétrica, a agricultura e o abastecimento de água nas cidades dessas regiões. Por outro lado, o Sul possui uma tendência de aumento da disponibilidade hídrica em até 5% até 2040, mas com uma maior imprevisibilidade e um aumento da frequência de cheias e inundações, como vem ocorrendo na região nos últimos anos.
Dentre as cinco regiões, o Centro-Oeste possui uma maior divergência entre as tendências das projeções dos diversos modelos climáticos, o que traz incertezas nas condições futuras do clima da região. Ainda assim, é necessário avaliar a adoção ou não de medidas que considerem possíveis cenários de escassez hídrica na região. Com a necessidade de aprimoramento dos instrumentos de tomada de decisão mesmo sob incertezas, o Centro-Oeste é uma região estratégica por ter nascentes de importantes rios – como o Tocantins, o Araguaia, o Paraguai e afluentes formadores do rio Paraná– e por concentrar grandes áreas de produção agrícola.
No Nordeste há uma tendência de redução das vazões dos rios e dos volumes médios de chuvas, trazendo uma perspectiva de diminuição da disponibilidade de água da região e intensificação da seca tanto no Semiárido quanto na faixa litorânea. Com isso, o estudo indica a necessidade de medidas de convívio com períodos de seca mais severos e prolongados, que levem ao aumento da oferta de água e à racionalização dos usos na região semiárida e no litoral nordestino.
De acordo com o estudo da ANA, o Norte possui tendência de redução nas vazões e volumes médios de chuvas e a perspectiva de secas mais frequentes e intensas nessa região que abriga grande parte da Amazônia. Esse quadro requer medidas de gestão da demanda hídrica no Norte, incluindo o aprimoramento da infraestrutura da região para possibilitar a mobilidade para comunidades mais isoladas que dependem da navegação em rios para se locomoverem e serem abastecidas, além de preparação para a proteção dos ecossistemas em um cenário de maior escassez de água.
O Sudeste ainda apresenta certa divergência entre os resultados dos modelos, mas predomina, sobretudo na faixa litorânea, a tendência de redução nas vazões em função da mudança climática, ocasionando a diminuição da disponibilidade de água nas bacias hidrográficas do Sudeste. Como a região concentra a maior população regional e grandes centros urbanos – como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte –, é necessário investir em estratégias de adaptação à mudança do clima, maior eficiência no uso e na gestão de recursos hídricos e ampliação da infraestrutura hídrica para as populações mais vulneráveis.
Diferente do restante do Brasil, o Sul possui uma tendência de aumento na disponibilidade hídrica. No entanto, há uma tendência de aumento de imprevisibilidade climática na região, com eventos concentrados de cheias e secas, e, por isso, será necessário adotar medidas de preparação para oscilações desde excesso de água até a escassez do recurso. Será necessário, ainda, adotar medidas de gestão da demanda hídrica e considerar a questão da infraestrutura de proteção contra cheias.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Disponibilidade de água no Brasil pode diminuir 40% até 2040, alerta relatório da ANA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU