"[Sobre Jesus], não é questão de adorar um rei, mas de estar ali, simplesmente, junto dele, ou seja, diante de alguém que sabemos que nos ama. Esse é o desafio mais fundamental, a meu ver".
O comentário é de Faustino Teixeira, teólogo, colaborador do Instituto Humanitas Unisinos - IHU e do canal Paz Bem.
Lendo com calma a homilia do papa Francisco na celebração da Epifania do Senhor, no dia 06 de janeiro de 2024, fiquei um pouco “incomodado” com sua insistência na adoração de Jesus. Ele dizia em certa parte de sua reflexão:
“Um rei que veio para nos servir, um Deus que Se fez homem. Diante deste mistério, somos chamados a inclinar o coração e dobrar os joelhos para adorar: adorar a Deus que vem na pequenez, que habita no ambiente normal das nossas casas, que morre por amor. Deus, 'ao mesmo tempo que Se manifestava na imensidão do céu com os sinais dos astros, fazia-Se encontrar (…) num refúgio estreito; débil na carne duma criança, envolto em panos de recém-nascido, era adorado pelos Magos e temido pelos malvados' (S. AGOSTINO, Discursos, 200). Irmãos e irmãs, perdemos o hábito de adorar, perdemos esta capacidade que nos dá a adoração. Redescubramos o gosto da oração de adoração. Reconheçamos Jesus como nosso Deus, como nosso Senhor, e adoremos. Hoje os Magos convidam-nos a adorar. Há falta de adoração entre nós hoje.”
Nos meus cursos sobre a mística de Santa Teresa algo que sempre me deliciou foi a forma singular com que ela falava da humanidade de Jesus. Dizia que deveríamos ter o habito saudável de estar com ele: simplesmente estar ali diante dele para admirá-lo e sentir sua força inspiradora. Vejo essa atitude mais bonita do que aquela de adorar um rei. No capítulo 14 do livro da Vida, diz Teresa:
“Ninguém se canse em procurar sempre isso, mas aquietado o intelecto, fique ali com ele. Se puder, que se ocupe em ver o que ele olha, fazendo-lhe companhia, falando com ele (...). Se puder fazer isso, mesmo que seja no princípio da oração, terá grande proveito, pois esse modo de oração é muito benéfico” (LV 14, 22)
Não é questão de adorar um rei, mas de estar ali, simplesmente, junto dele, ou seja, diante de alguém que sabemos que nos ama. Esse é o desafio mais fundamental, a meu ver.
Gosto muito também de uma reflexão feita por um estudioso anglicano de João da Cruz, Colin P. Thompson. Ele fala em “receptividade”: estar ali diante do menino pela alegria que isso provoca no coração. Com base em Sidney Godolphin (1610-1643) ele compara o gesto dos reis com aquele dos pastores. Insiste na ideia de conhecer o menino pelo amor e não pela sabedoria. Os reis buscam o menino visando a sabedoria, já os pastores são atraídos pelo menino pela maravilha e o amor. O desafio está em deixar de lado o conhecimento e viver a experiência do maravilhamento:
“Os sábios, passadas todas as vias do conhecimento
Chegam ao fim na maravilha dos pastores”