12 Janeiro 2024
Com uma coletiva à imprensa, a Comissão Especial para Ecologia Integral e Mineração da CNBB e organizações parceiras assumiram um posicionamento público após a visita de solidariedade ao Povo Ka’apor (MA).
A reportagem é de Osnilda Lima.
Foram dois dias de imersão e convivência com o povo Ka’apor, na maior Terra Indígena (TI) do Maranhão, ao Noroeste do estado. Ao retornarem da missão, o grupo realizou, no dia 21/12, uma coletiva de imprensa no Instituto de Estudos Superiores do Maranhão (IESMA), para partilhar o que ouviram e viram junto ao povo Ka’apor.
Foto: Elitiel Guedes
O território está inserido no Mosaico Gurupi, do qual fazem parte as TIs Awa, Caru, Alto Turiaçu e Reserva Biológica do Gurupi. Nesse espaço, o Conselho dos Tuxa Ta Pame, conselho dos ancestrais, convidou membros da Comissão Especial para a Ecologia Integral e Mineração da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CEEM-CNBB), da Rede Igrejas e Mineração, do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), do Movimento dos Trabalhadores/as Rurais Sem Terra (MST) e do Grupo de Estudo sobre Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente, da Universidade Federal do Maranhão (GEDMMA-UFMA), para escutar e ver a realidade de ameaças e destruição que o povo e seu território estão vivendo. Participou também o padre Paulo Ricardo, referente pela pastoral indigenista da Diocese de Zé Doca. Os Ka’apor vivem sob constantes ameaças de madeireiros, garimpeiros e de empresas de mineração. As comunidades também vêm sofrendo com a sedução dos projetos para créditos de carbono.
Foto: Elitiel Guedes
O bispo de Floresta (PE) e membro da Comissão para a Ecologia Integral e Mineração, dom Gabriel Marchesi, conta: “O povo está em situação de invasões e ameaças, não só do território, mas da própria vida. Uma coisa que aprendemos junto com eles é que a vida do povo Ka’apor é interligada com a vida da floresta: educação, saúde, defesa do território. Tudo depende da floresta. Eles falam de aprender com a floresta. E a vida na floresta é fundamental para a cultura deles”.
Foto: Elitiel Guedes
O bispo conta que o povo Ka’apor está sofrendo invasões por parte de caçadores, madeireiros e mineradoras. “Essas empresas, muitas vezes, atuam sem nenhuma autorização, isso fragiliza ainda mais a reação e resistência dos povos. Essas ações, além de provocar a devastação, promovem a divisão nessas comunidades, por meio de privilégios e favores; isso cria conflito de interesses”, descreve dom Gabriel.
“O povo Ka’apor pediu para nossa Comissão e para a Igreja em geral que pudéssemos tomar consciência de sua realidade, ver e escutar as suas palavras, se dar conta dos sofrimentos e das preocupações e por fim dar ressonância pelo Brasil afora do que está acontecendo com os Ka’apor. Vida e dignidade não podem ser trocadas por dinheiro. Encontramos duas realidades, uma de defesa da vida e da floresta e outra de destruição e morte da vida e da floresta”, conclui dom Marchesi.
Foto: Elitiel Guedes
O coordenador da colegiada do Conselho Indigenista Missionário do Maranhão (Cimi-MA), Gilderlan Rodrigues, lembra que nessa luta de defesa e proteção dos territórios os Ka’apor são criminalizados e deslegitimados. “É um trabalho que busca o autogoverno, que visa integrar a questão da saúde, da educação, como forma interligada de conexão com o território”.
O assessor da CEEM-CNBB, padre Dário Bossi, afirma que a missão continua, depois da visita, com o compromisso e uma aliança selada pela Igreja junto ao povo Ka'apor, a partir do pedido de colaboração deles, primeiramente dando visibilidade às denúncias deste povo e reforçar suas reivindicações junto ao Ministério Público Federal do Maranhão.
Foto: Elitiel Guedes
Padre Dário ressalta que um relatório detalhado da visita está sendo preparado, como insumo para outras ações de incidência política, com particular destaque na luta contra a impunidade frente às ameaças e às mortes que o povo Ka'apor sofre. “Neste sentido, membros da missão confirmaram sua participação na próxima Marcha da Floresta, prevista em 2024 para honrar a memória do líder indígena Sarapó”. Sarapó era um dos principais responsáveis pela criação de sistemas de autodefesa indígena do país; era alvo de ameaças e integrava o Programa de Proteção a Defensores e Defensoras de Direitos Humanos do Maranhão desde 2015. O líder indígena morreu de forma misteriosa, com fortes suspeitas de envenenamento, no dia 14 de maio de 2022, aos 45 anos.
O assessor conclui que “os membros da missão ofereceram sua disponibilidade para colaborar na formação sobre os riscos e as ambiguidades dos projetos de crédito de carbono. Também, abrem-se perspectivas de colaboração para denúncias e incidência internacional, junto a instituições de defesa dos direitos, com participação ativa da Igreja”.
Com a colaboração de fotos e informações de Elitiel Guedes
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O povo Ka’apor pede ajuda à Igreja na defesa da vida e da floresta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU