18 Agosto 2023
Dario Bossi é religioso comboniano no Brasil. Depois de passar dez anos no Maranhão – estado afetado por intensa mineração – está empenhado na defesa dos direitos ambientais dos povos. Atua na Rede eclesial pan-amazônica (REPAM) e na pastoral social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Giordano Cavallari apresentou a ele algumas perguntas sobre a preparação e os resultados da cúpula dos oito países amazônicos (Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela), realizada nos dias 8 e 9 de agosto em Belém do Pará, por iniciativa do presidente brasileiro Lula, dedicada ao tema da proteção da Amazônia.
Padre Darío Bossi. Foto: Observatorio de Evangelización en Movimiento
A entrevista é de Giordano Cavallari, publicada por Settimana News, 17-08-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Padre Dario, até que ponto puderam seguir – talvez participar – da cúpula dos estados amazônicos?
Desde janeiro - isto é, desde que percebemos que os presidentes estavam preparando essa cúpula - nos mobilizamos como rede eclesial pan-amazônica (REPAM), juntamente com a sociedade civil de todos os países envolvidos, para fazer ouvir a nossa voz: a voz das populações. De fato, não seria possível falar sobre o destino da Amazônia sem ouvir os povos que vivem dentro e ao lado da grande floresta.
Conseguimos obter um espaço de participação na preparação da cúpula, organizando cinco assembleias temáticas e três assembleias transversais com o envolvimento total de 30.000 pessoas, em relação com os governos. Por nossa conta, no entanto, promovemos a Assembleia dos Povos da Terra pela Amazônia e uma grande marcha com a participação de 5.000 pessoas, justamente nos dias em que acontecia o encontro político. Como resultado da mobilização, seis de nossos delegados foram recebidos oficialmente pelos políticos e puderam entregar o nosso plano e as nossas instâncias (aqui) para a conservação da floresta.
Estamos trabalhando pela continuidade do método participativo no âmbito da OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica), o mesmo onde ocorreu o encontro oficial. É preciso evitar de todas as formas que cada país aja por si e para si, agora que esse espaço coletivo de discussão e decisão foi revitalizado e instituído. O próximo grande encontro será em 2025. Não vamos parar de trabalhar, principalmente para que a OTCA se torne uma OTCA social, ou seja, dotada de uma representação permanente dos povos junto ao nível político dos Presidentes. A mobilização eclesial e civil tem obtido bons resultados em termos de método. Em seguida, falarei sobre os conteúdos.
O tema ambiental é, portanto, bem percebido entre os povos e as Igrejas da Amazônia?
A percepção é de que a situação é tão grave para as pessoas que não se pode esperar e suportar os longos e ineficientes tempos da política. Estamos convencidos de que só a mobilização e a participação possam mover as inércias e resistências muito fortes da política e, naturalmente, da economia. Gostaria de esclarecer que o movimento de povos nesse sentido não é apenas eclesial e não vê apenas o empenho da rede eclesial pan-amazônica: existem outras coordenações sociais que estão trabalhando muito bem juntas. Parece-me um dado muito importante.
Passemos aos conteúdos e às conclusões da Cúpula: que avaliação estão fazendo?
Em poucos dias produzimos um documento de avaliação (aqui) sobre a comunicação política final da Cúpula. Nossas avaliações não são apenas negativas. Do lado positivo, destacamos o fato de que - após 14 anos - foi restabelecido um órgão de cooperação ambiental entre os países amazônicos, posto severamente em crise pelos governos de direita. O reconhecimento vai para os presidentes Lula e Petro (Colômbia) por terem desejado essa Cúpula e por terem enfrentado não poucas dificuldades para levá-la a termo: a participação popular não era apreciada por todos e, portanto, tida como certa.
Algumas decisões tomadas não são insignificantes: em nosso documento valorizamos a decisão coletiva dos Estados de combater o narcotráfico na Amazônia com estratégias comuns e troca de informações; valorizamos também a resolução da troca de dados científicos sobre o estado de saúde das florestas, das águas e das terras devastadas pela busca ilegal de ouro.
Do lado negativo - e aqui nossa crítica é pesada - há a realidade de um acordo alcançado apenas abaixo das nossas expectativas. Deve-se dizer que os acordos da OTCA só podem ser alcançados por unanimidade. Não houve acordo sobre os grandes objetivos. Portanto, as conclusões políticas resultam vagas. Nosso objetivo era que todos os oito países amazônicos alcançassem a meta de "desmatamento zero" até 2030. Trata-se de um objetivo já adotado pelo Brasil e pela Colômbia, mas não pelos outros países. O outro grande objetivo era e continua sendo a redução progressiva - até a suspensão - da mineração e extração de petróleo na Amazônia: mas isso, infelizmente, não é mencionado de forma alguma nas conclusões da Cúpula. Estamos muito entristecidos, mas não resignados; pelo contrário, pretendemos relançar o nosso protesto e o nosso empenho.
Como avaliam, em particular, a atuação do governo brasileiro, que pareceu a alguns comentaristas eclesiais bastante contraditório, para não dizer ambíguo?
Devemos lembrar que o atual governo brasileiro é formado por uma frente política ampla e diversificada: foi construído sobre a derrota da extrema direita e sobre os quatro anos anteriores de fascismo. É, portanto, um governo frágil, que tem muita dificuldade para construir uma linha compartilhada, principalmente nos temas sociais e ambientais: na verdade, vive disputando dia a dia, tema a tema. Por isso consideramos determinante a manifestação da vontade das comunidades cristãs na sociedade civil brasileira. É preciso fazer barulho, gritar, chamar a atenção, até da comunidade internacional.
O que vocês estão gritando do Brasil e dos países amazônicos para a comunidade internacional?
Há tempo que gritamos que é preciso conter e acabar com o sistema desenvolvimentista fundado no extrativismo: não está em jogo apenas o destino da floresta amazônica e de seus povos, mas também - como todos já deveríamos saber - o destino da criação e de toda a humanidade. A década que estamos vivendo é aquela decisiva para o clima global. A floresta amazônica é um ambiente global decisivo para o clima e para o ar que todos respiramos, em todo o mundo.
Foram alcançados resultados concretos?
A pressão civil conseguiu suspender o novo projeto de extração na foz do rio Amazonas: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente não concedeu a licença à companhia petroleira interessada; mas é certo que ela voltará ao ataque para abrir os poços. E ainda tentaremos novamente resistir. Para isso, precisamos do compartilhamento e apoio da opinião pública internacional. No próximo dia 20 de agosto, será realizado um referendo no Equador para impedir as escavações no Parque Nacional Yasuní para a extração de petróleo. Isso é algo que precisa ser informado, porque é uma questão que afeta o mundo inteiro. Se o petróleo permanecer no subsolo, toda a humanidade se beneficiará. Por isso, é necessária a ajuda concreta de toda a comunidade internacional para vencer essas "boas batalhas".
Na sua opinião, o desafio do meio ambiente global algum dia será vencido ou os interesses econômicos são demasiado fortes, no Brasil, na América Latina, em todo lugar?
Naturalmente não tenho condições de responder a uma pergunta tão ampla. Aquilo de que estou convencido é que devemos continuar a travar essas boas batalhas, diariamente. Preparamos um programa concreto de ações até a COP 30 que será realizada em Belém, aqui no Brasil. Devemos nos manter constantemente mobilizados. Afinal, são os próprios governos que precisam da nossa mobilização e da força dos povos e da sociedade civil para levar a melhor sobre aqueles que, no mundo, manipulam os capitais e os interesses.
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Amazônia: preocupados, mas determinados. Entrevista com Dario Bossi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU