19 Outubro 2015
Parece notícia repetida, mas não é! Há pouco mais de uma semana relatamos neste espaço mais uma das inúmeras ameaças que o povo indígena Ka’apor, da Terra Indígena (TI) Alto Turiaçu, vem sofrendo no Maranhão. Infelizmente, de lá pra cá as ameaças aumentaram e continuam assombrando esse povo.
A reportagem foi publicada por Greenpeace, 14-10-2015.
No dia 23 de setembro o Conselho de Gestão Ka’apor divulgou uma carta pública denunciando novas ofensivas contra a população indígena e a ausência do poder público na região. De acordo com o grupo, homens armados vêm rondando a TI Alto Turiaçu e as lideranças estão sendo fortemente perseguidas por pistoleiros. Enquanto o Estado se omite e não toma uma atitude, a situação na região só piora e mais mortes podem vir a ocorrer.
Pior: em represália às ações de vigilância do território, os Ka’apor apontam que madeireiros e fazendeiros estão colocando fogo nos limites da terra indígena e o fogo já cercou uma das aldeias. A situação é muito difícil e o clima é de tensão total.
Segundo os Ka’apor, desde o dia 1º de outubro, três ramais que haviam sido fechados pelos “guardiões da floresta” – como são chamados os Ka’apor responsáveis pela fiscalização autônoma de seu território – foram reabertos por madeireiros que agora contam com escolta de pistoleiros. Sabendo que os indígenas fazem de forma independente a vigilância de seu território, sem contar com qualquer apoio do poder público, os madeireiros instauram uma guerra contra esse povo, especialmente nos municípios de Zé Doca, Nova Olinda do Maranhão e Centro do Guilherme. E, na calada da noite, continuam roubando madeira de dentro da TI.
No início de setembro, o Greenpeace esteve com os Ka’apor para apoiar o monitoramento autônomo feito pelos índios, que passou a integrar o uso de tecnologia às atividades de proteção do seu território tradicional. Porém as autoridades continuam inertes. A aldeia Ximborendá, onde morava Eusébio Ka’apor, assassinado em 26 de abril de 2015, está também cercada de pistoleiros. Há relatos também de que mulheres indígenas estão sendo abordadas por homens armados e encapuzados na entrada de suas aldeias.
“A cada semana existe um novo episódio lamentável, que coloca em risco a vida dos Ka’apor. A violência e a brutalidade contra os povos da floresta não é novidade para ninguém. Mesmo estes sendo os verdadeiros protetores da Amazônia, eles parecem ser invisíveis para o poder público, que dessa forma acaba sendo cúmplice desses crimes”, afirma Marina Lacôrte, da Campanha da Amazônia do Greenpeace. “Dez dias ao lado dos Ka’apor e de sua luta para proteger seu território nos deu uma visão muito clara da realidade assustadora enfrentada por este povo. Se não fossem eles e outros povos da região, o pouco que resta da Amazônia maranhense provavelmente não existiria mais, no entanto isto tem custado suas vidas”, complementa.
Há mais de 20 anos os Ka’apor sofrem com a invasão de seu território por parte dos madeireiros ilegais da região. Como resultado, 8% da área já foi desmatada. Mais recentemente, em 2013, depois de um importante processo de reafirmação dos valores de sua cultura, os Ka’apor assumiram a proteção de seu território e da floresta com as próprias mãos. No entanto, estão pagando um preço muito alto, já que por conta disto as ameaças aumentaram intensamente e os Ka’apor não contam com qualquer intervenção das autoridades para proteger a eles e a seu território.
Desde maio de 2014 o Greenpeace vem mostrando continuamente que a indústria madeireira está fora de controle. Por não ser possível confiar em papéis oficiais, quando se compra madeira da Amazônia brasileira, na verdade, pode-se estar levando para casa a destruição da floresta e a violência contra esses povos. “A extração predatória e ilegal de madeira é o grande gatilho de conflitos como estes sofridos pelos Ka’apor. O Estado precisa proteger esses territórios e seus povos, além de acabar agora com a extração ilegal de madeira para atingir a raiz do problema! Fechar os olhos só contribui para que o grau de violência continue aumentando e para que mais assassinatos aconteçam no coração da floresta”, conclui Lacôrte.
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Um grito de socorro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU