13 Dezembro 2023
Chamaram a atenção na última semana as projeções da Climate Central, organização de notícias relacionadas à ciência do clima, com simulações de como importantes cidades costeiras do mundo, entre elas Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre, poderão ser afetadas pela elevação do nível do mar nas próximas décadas. Nelas, um futuro de maré-alta contrasta com as imagens das cidades como as conhecemos, a continuar a escalada de aquecimento global. Impossível não sentir um gostinho de ressaca.
O texto é de Rejane Rodrigues, publicado na newsletter da Alter Conteúdo, 12-12-2023.
O Brasil tem uma extensa área costeira. São mais de 7.400 quilômetros de litoral e 279 municípios, onde vivem 39 milhões de pessoas, segundo o último censo demográfico, e que abrigam importantes atividades econômicas, especialmente turismo, comércio, pesca e logística portuária.
Para ficar somente nas questões urbanas, para onde vão e como vão sobreviver essas pessoas, em especial populações ribeirinhas e comunidades em situação de vulnerabilidade, quando a água começar a subir? Ou seremos capazes, como sociedade, de criar mecanismos para conter o avanço do mar?
Pelo menos em teoria isso parece possível. A consultoria Mckinsey, no relatório How Cities Can Adapt to Climate Change, aponta 15 maneiras de como as áreas urbanas podem se adaptar ao risco climático. No caso específico de inundações costeiras e tempestades, algumas ações apontadas como prioritárias são a construção de barreiras naturais e artificiais, edifícios resistentes, além de criação de soluções baseadas na natureza e planos de contingência.
Mas, na prática, sabemos que os impactos climáticos são um desafio monumental para um país como o Brasil, dada a imensidão do nosso território e a carência de recursos para a implementação de tecnologias eficientes capazes de conter as inúmeras transformações a que estamos sujeitos. Seja pela elevação dos oceanos, seja pelo aumento das ondas de calor e de outros eventos climáticos extremos, como secas, inundações e tempestades, o contexto de emergência climática é um alerta para a formação de novas ondas migratórias para o interior do país. Ou, recorrendo à expressão utilizada pela comunidade científica internacional para designar as pessoas afetadas pelas transformações da natureza, são os refugiados climáticos.
O tema esteve em pauta na COP28. Ativistas de todo o mundo compartilharam os impactos devastadores das perturbações climáticas nas suas comunidades. A estimativa é de que há mais de 110 milhões de pessoas em todo o mundo forçadas a fugir das suas casas devido a perigos relacionados com o clima.
Voltando à realidade brasileira, isso irá exigir das cidades um novo olhar para as novas dinâmicas populacionais e para planejamento urbano, ocupação de solo e uso de recursos naturais. Sem mencionar impactos importantes que o deslocamento populacional pode causar em biomas já comprometidos, como Mata Atlântica e Cerrado.
Essa é, portanto, uma boa oportunidade para as cidades compreenderem seus próprios riscos climáticos e começarem a agir com seriedade para as inúmeras transformações que estão por vir. O problema é complexo, e está apenas começando.
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O risco de ondas migratórias climáticas no Brasil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU