12 Dezembro 2023
Quem imagina que a inteligência artificial irá destruir o trabalho humano deve saber que, na realidade, a diminuição da quantidade de trabalho “disponível” (junto com o aumento da produtividade) é uma tendência histórica que está em curso há quase 200 anos.
A opinião é do administrador italiano Francesco Delzio, professor da Luiss Business School, em artigo publicado por Avvenire, 08-12-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
No Humans Here. É a frase que se destaca na entrada do hangar de um gigante do setor de tecnologia da informação na Costa Oeste dos Estados Unidos: naquele espaço, trabalham dezenas de máquinas inteligentes, robôs equipados com inteligência artificial generativa e, portanto, capazes de aprender com suas experiências.
Programados para interagir uns com os outros, mas não com o ser humano. Não é ficção científica, já é realidade: dentro de alguns anos, o custo dessa tecnologia cairá até se tornar conveniente para grande parte do sistema empresarial. Estamos prontos para enfrentar essa revolução?
Só poderemos estar prontos se formos capazes de superar a visão “apocalíptica” da IA que se espalhou como um incêndio por todo o Ocidente, mais na Itália do que em qualquer outro lugar. Quem imagina que a inteligência artificial irá destruir o trabalho humano deve saber que, na realidade, a diminuição da quantidade de trabalho “disponível” (junto com o aumento da produtividade) é uma tendência histórica que está em curso há quase 200 anos.
Em 1891, havia cerca de 40 milhões de italianos que trabalhavam 70 bilhões de horas por ano. Atualmente, somos 50% mais – cerca de 60 milhões – mas trabalhamos 60% menos, cerca de 40 bilhões de horas. Nessa perspectiva, o advento da IA não será revolucionário: apenas poderá acelerar um processo já amplamente consolidado.
Além disso, os principais “saltos tecnológicos” que enfrentamos até agora na história industrial – acompanhados dos mesmos medos que registramos hoje frente à IA – sempre tiveram um efeito duplo no mundo do trabalho, nunca unívoco: destruíram os postos de trabalhos “humanos” menos eficientes, mas criaram novos, deslocando continuamente o centro de gravidade da quantidade para a qualidade.
De acordo com um estudo “preditivo” realizado pela EY, ManpowerGroup e Sanoma Italia, até 2030 o advento da IA mudará o mercado de trabalho para oito em cada 10 profissões. Mas o que poucos sabem é que o impacto mais violento da IA afetará os perfis profissionais de qualificação média, como os funcionários que gerenciam dados: já hoje, na Itália, uma série de grandes empresas estão confiando amplamente a “máquinas inteligentes” funções como o setor de compras, a gestão contábil e o contact center.
O verdadeiro problema não será, portanto, o impacto da IA no trabalho em geral, mas sim a gestão da fase de transição de uma era para a outra, que será muito complexa por dois motivos. Primeiro: a “compensação” entre trabalho destruído e trabalho criado não será simultânea, porque a onda destrutiva chega primeiro, depois serão geradas novas competências profissionais e novos postos de trabalho. Segundo, os beneficiários dos novos empregos serão em grande parte diferentes daqueles que perderam seus antigos empregos.
Na Itália, a gestão da transição será agravada pela existência de um número maior de pessoas permanentemente excluídas do circuito de formação-trabalho, devido às três “patologias italianas” evidenciadas pelos nossos recordes negativos na Europa: os “nem-nem”, desemprego feminino e maiores de 55 anos expulsos do processo produtivo.
Temos poucos instrumentos para apoiar essas três categorias hoje (ou, melhor, nenhuma no caso dos maiores de 55 anos) e que funcionam muito mal. Antes que a onda chegue, é necessário implementar uma série de medidas inovadoras: em “L’Era del Lavoro Libero” [A era do trabalho livre, em tradução livre] (Ed. Rubbettino), eu proponho, por exemplo, um plano de digitalização em massa para os nossos jovens do Ensino Médio realizado em parceria público-privada, a criação de um “Fundo Futuro” para financiar a formação de qualidade dos nossos jovens da classe média, reativando o ascensor social, um novo instrumento para requalificar os maiores de 55 anos expulsos das empresas que investem em novas tecnologias.
Mas, entre as consequências do advento da inteligência artificial, haverá uma extremamente positiva. No momento em que delegarmos uma grande quantidade de funções manuais e intelectuais básicas a máquinas inteligentes, como consumidores começaremos a pedir, escolher e recompensar aquela criatividade, aquela paixão, aquela capacidade relacional que só o ser humano pode expressar. Surgirão empreendedores e gestores, profissionais e artesãos, professores e operários capazes de exaltar as características únicas do ser humano.
Será o momento de redescoberta do “be human”.
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Trabalho: a revolução digital nos fará redescobrir o fator humano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU