Os bispos admitem a sua falta de controle sobre possíveis “missas fictícias” usando Inteligência Artificial

Foto: CNS

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23 Novembro 2023

  • “Para nós não passa pela cabeça que um padre fizesse isso. E se não for, não tem valor, porque estamos falando de presença, e o que os seus olhos têm que ver é a presença de um padre celebrando. A outra coisa é suspeita, não é confiável”, diz Lorca Planes;

  • “Imaginem que o Papa dê a bênção urbi et orbi com indulgência plenária no Natal. Eu registro essa bênção e a uso 300 vezes. Esta é uma bênção que nos chega através dos meios de comunicação, mas só é válida uma vez. “Não é uma novela, que é transmitida e pode ser vista a qualquer hora”.

A reportagem é de Jesus Bonito, publicada por Religión Digital, 23-11-2023. 

Imagine uma missa, transmitida pela internet, com fiéis, um altar…. E é completamente falso. É possível, hoje, graças à Inteligência Artificial. Mas que valor isso tem? Nenhum. “Agora a imaginação é enorme e podem haver todas as possibilidades”, lamentou o bispo de Cartagena-Murcia e presidente da Comissão Episcopal para as Comunicações Sociais, José Manuel Lorca Planes.

Ao seu lado, o bispo de Ourense e presidente da Comissão de Liturgia, Leonardo Lemos, mostrou que “tudo o que se refere à IA é um desafio para nós”, durante a apresentação das ‘Orientações sobre as transmissões de celebrações litúrgicas’, documento aprovada nesta Plenária e que será públicado em breve.

Um texto que procura evitar a presença de “padres showman” que “editam, gravam, fazem as leituras, a homilia, a coleta…” afirmou Lorca Planes.

“Você pode se passar por uma pessoa perfeitamente, até mesmo usar a mesma voz que a pessoa tinha”, acrescentou. “Para nós não passa pela cabeça que um padre fizesse isso. E se não for, não tem valor, porque estamos falando de presença, e o que os seus olhos têm que ver é a presença de um padre celebrando. A outra coisa é suspeita, não é confiável.”

Não aos padres “showman”

No texto, observou Lemos, “não tocamos nisso diretamente, mas indiretamente”. E é que “a possibilidade de um sacerdote fictício, de uma homilia, de uma Eucaristia fictícia estão na ordem do dia”. Portanto, é necessário, e como consta nas ‘Orientações’, que “onde quer que a Eucaristia seja celebrada e transmitida, haja autorização. Quem oficia deve ter a aprovação ou conhecimento da delegação episcopal de Liturgia e dos meios de cada diocese. Obviamente, a primeira coisa que é preciso saber é qual padre o celebra, porque pode haver ‘padres cowboys’ que vão por conta própria”, lamentou.

É preciso, então, “evitar que um padre se torne um ‘showman’ que faz a transmissão, as leituras, tudo”, disse Lemos, que também alertou para as celebrações que ficam gravadas, para que qualquer pessoa, a qualquer momento, possa vê-los novamente. E, talvez, sentir que o sacramento é celebrado novamente. “Seria interessante se depois de transmitido ele fosse 'apagado'. O mistério acontece aqui e agora”, exclamou o bispo de Ourense, dando um exemplo gráfico. “Imaginem que o Papa dê a bênção urbi et orbi com indulgência plenária no Natal. Eu registro essa bênção e a uso 300 vezes. Esta é uma bênção que nos chega através dos meios de comunicação, mas só é válida uma vez. Não é uma novela, que é transmitida e pode ser vista a qualquer momento.”

Equilíbrio após a pandemia

“É aconselhável procurar um equilíbrio”, afirmaram ambos os bispos na apresentação do documento, que procura dar respostas a uma realidade que surgiu, com força, durante a pandemia, e que procura “que as celebrações sejam dignas e possam ser realizada nas melhores condições.” 

O documento tem seis pontos e uma conclusão e aconselha, entre outras questões, a banir a ideia de que a missa “é um espetáculo”. “Aconselhamos que estas celebrações sejam realizadas a partir de um espaço sagrado e não de uma sala (...), que haja uma ‘presença virtual’”. E “preservar o mistério”. Algo cada vez mais difícil nos dias de hoje.

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