23 Novembro 2023
"Somos seduzidos pelas possibilidades que a IA representa para os indivíduos. A pressão da publicidade é uma astúcia simbólica que vende símbolos: não vende IA, mas prestígio, não vende IA, mas objetividade e eficiência, não vende IA, mas comodidade, vende a dignidade pelo que você usa", escreve Giuseppe Villa, padre e vigário da comunidade pastoral Virgem das Lágrima, sem artigo publicado por Settimana News, 20-11-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Nestes primeiros dias de novembro, nossos PCs foram atualizados para a "Inteligência Artificial" (doravante IA) com a versão 23H2 do Windows 11. Com esse lançamento de 2023, há um mundo inteiro em movimento.
No Sole 24 ore do último 15 de janeiro, o artigo de Barbara Carfagna afirmava enfaticamente: “2023 é o ano em que a IA entrará numa nova era, estará ao alcance de todos e transformará a economia, a segurança, o trabalho, as empresas e a própria vida dos homens”.
Em março, mil personalidades do mundo da cultura, da ciência e da economia assinaram uma “carta aberta” em que se afirma que “nos últimos meses, os laboratórios de IA empenharam-se numa corrida descontrolada para desenvolver e empregar mentes digitais cada vez mais poderosas, que ninguém tem condições de compreender, prever ou controlar de forma confiável”.
No início de novembro, cerca de uma centena de líderes mundiais discutiram sobre o desenvolvimento seguro da IA em Bletchley Park, nos arredores de Londres. A sua “declaração internacional” sobre a IA afirma que “a IA oferece imensas oportunidades globais, mas deve ser projetada, desenvolvida, distribuída e utilizada de forma responsável e centrada no ser humano”.
A IA é uma forma de inteligência que opera sobre uma enorme massa de “dados”, uma espécie de catálogo ilimitado, muito maior do que os vários “motores de busca” conhecidos e utilizados até agora até por simples particulares. Esses catálogos são organizados com critérios mais refinados, para que o usuário receba a resposta mais pertinente a uma pergunta feita. A IA também opera com uma espécie de “inteligência criativa”.
Os usuários privados são os últimos a receber IA e só podem dizer coisas mais gerais. Sabem que a IA tem sido usada com efeitos benéficos durante a epidemia de coronavírus. Hoje sabem, no entanto, que também é usada nas duas guerras em curso entre a Rússia e a Ucrânia e entre o Hamas e Israel com artefatos digitais de propaganda contra os respectivos adversários e ativamente para encontrar e atingir as forças contrárias com armas mais ou menos automatizadas pela IA.
Nós somos os destinatários de benefícios, mas também de efeitos nocivos, por enquanto não de uma guerra armada, mas certamente da pressão e da propaganda do mercado, da política internacional e de grupos anônimos de pressão.
Somos seduzidos pelas possibilidades que a IA representa para os indivíduos. A pressão da publicidade é uma astúcia simbólica que vende símbolos: não vende IA, mas prestígio, não vende IA, mas objetividade e eficiência, não vende IA, mas comodidade, vende a dignidade pelo que você usa.
O Cristianismo sempre soube que a verdade não tem nenhuma chance sem uma atração simbólica, sem capacidade de despertar um afeto ao qual não se pode renunciar: depois de vê-la, não se pode mais perdê-la. Para funcionar, isso deve ser estruturado como um sistema de pensamento que vem do abismo da afeição.
A publicidade comercial nos fala que esse é a forma e a realidade que importam. A IA recebe seu nome da inteligência humana, que significa “ler dentro” para conectar e compor um pensamento. A IA lê os dados já arquivados e elabora respostas.
Já para os humanos, basta um simples tom de voz para que a nossa sensibilidade recomponha o passado e reabra o futuro. A inteligência humana “tende para aquele estilo em que a vida humana consiste nos laços afetivos, num tecido relacional, mais do que nas questões conceituais. É esse tecido que a mantém viva, para tornar possível o que tem que ser" (cf. a minha intervenção na Settimana News).
A tensão para salvaguardar e favorecer a ternura, os afetos e as relações é a linfa vital de uma resistência eterna que mantém viva a esperança, além do niilismo dos dados não afetivos.
A política dos direitos humanos continua a inscrever o mito do sujeito autônomo (ver a “declaração internacional” no início) com uma retórica abstrata que desativa a linguagem humanista da grande tradição europeia, que trouxe à luz os princípios da responsabilidade pessoal, das virtudes sociais, das liberdades civis.
Precisamente nesta era de aliança entre a política e a ciência, por um lado, e, por outro, o individualismo ético e popular, a inteligência humana pode recompor o sentido e o poder da afeição na busca e na prática da sua justiça. É uma questão crucial tanto para a busca da verdade como para o desejo do bem.
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Inteligência artificial: fascínio e perplexidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU