15 Novembro 2023
Nos próximos dias 18 e 19 de novembro em Palermo, Itália, no Gonzaga Campus, ocorrerá o IV Fórum de Ética Civil. O tema será “Um sonho civil, em um tempo de complexidade e crise”, que contará com a reflexão dos participantes da iniciativa promovida por uma série de realidades culturais e sociais enraizadas em todo o território italiano.
Nos últimos anos, o Fórum de Ética Civil propôs à sociedade italiana uma série de questões estreitamente ligadas ao desenvolvimento cultural, político, econômico e social da Itália. Sobre a etapa siciliana do fórum, conversamos com Simone Morandini.
Coordenador do Fórum de Ética Civil e vice-diretor do Instituto de Estudos Ecumênicos San Bernardino, de Veneza, Morandini dirige a revista Credere Oggi e é membro do Comitê Científico da Fundação Lanza. Também faz parte do grupo Custódia da Criação da Conferência Episcopal Italiana.
A entrevista é de Rocco Gumina, publicada por Pastoral da Cultura da Diocese de Palermo, na Itália, e republicada por Settimana News, 06-11-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Professor Morandini, qual sonho civil é possível nos tempos atuais, caracterizados pela complexidade e pela crise perene?
Certamente, a dimensão da crise parece-nos dominante, especialmente quando a violência volta a explodir na terra de Israel. O sonho civil se caracteriza nesta fase sobretudo pela tenacidade na busca de objetivos de convivência possível, para além da emergência.
A imagem da cidade (civis) lembra-nos justamente que conviver é possível, mesmo entre as diferenças, se cada um se esforçar ativamente nesse sentido. Guardar com responsabilidade tal realidade, fortalecendo-a, na variedade de suas dimensões, é trabalhar por um sonho civil. Porém, essa também é uma reivindicação exigente, que requer superar a cultura do inimigo, reconhecendo na presença das alteridades uma riqueza, e não um fato negativo.
A cidade vive e prospera se for plural e dialógica; definha quando busca homogeneidades impossíveis, talvez excluindo alguns; morre quando tenta eliminar ou marginalizar um ou outro de seus componentes. Esse é um testemunho precioso que o presidente Mattarella também oferece nestes dias, ele que é uma referência preciosa para os participantes do fórum
O Fórum de Ética Civil chegou a 10 anos de caminho. Quais foram os objetivos alcançados e quais foram as questões críticas ao longo do percurso de vocês?
Dez anos de caminho são um tempo longo, e o fórum mudou e cresceu nesses anos. Nem todos os que estiveram presentes nas primeiras fases ainda fazem parte dele, mas muitos outros aderiram, trazendo contribuições preciosa para fortalecer sua ação. A variedade de sujeitos (associações, revistas, centros culturais) que fazem parte dele garante atenção a uma variedade de dimensões da vida civil. Particularmente importante entre elas é o crescimento da atenção à dimensão intergeracional, que esteve no centro do III Fórum (Florença, 2019).
Em uma sociedade que vive um inverno demográfico, a relação entre gerações corre o risco de se romper, e nos últimos anos a contribuição oferecido pela entrada no fórum de presenças jovens, estimulantes e vivazes, foi essencial. A ética civil também vive dessa renovação constante – de sujeitos, de categorias, de análises do real. Por isso, quisemos pôr em debate diversas experiências de subjetividade juvenil na mesa redonda do sábado à tarde, para valorizar sua contribuição de novidade.
Repensando esses 10 anos de caminho, certamente também nos damos conta de como estamos longe de alcançar os objetivos que nos propusemos. Basta pensar na dimensão ambiental – essencial para um pensamento civil atento ao futuro: nos últimos anos, a crise climática se agravou, e a vontade da comunidade internacional de se encarregar disso responsavelmente certamente não aumentou.
No entanto, está ficando cada vez mais claro que uma boa cidade vive apenas em uma relação positiva com a terra – em sua dimensão local e também global. O apelo da Laudate Deum é um convite a olhar nessa direção, e essa também será a fala de Grammenos Mastrojeni durante o fórum.
O tema do diálogo aparece como central na programação do IV Fórum de Ética Civil. Na sociedade da indiferença e dos fechamentos, qual o sentido da grande questão do diálogo?
Dialogar significa reconhecer um valor na diversidade: o que o outro diz me interessa e me interroga. Então, torna-se central a exigência da escuta – tão central também nas dinâmicas sinodais destes dias –, mas também a capacidade de se fazer perguntas uns aos outros, para chegar a descobrir o que pode ser compartilhado, para constituir um espaço comum.
A fala de Sihem Djebbi vai nos oferecer intuições importantes nesse sentido, mas gostaria também de lembrar que o diálogo é central justamente naquela prática da sinodalidade que a Igreja Católica está redescobrindo como possibilidade de renovação e de crescimento.
Por outro lado, não é nenhuma coincidência que terão amplo espaço nos trabalhos do fórum as mesas em que os participantes poderão colocar a diversidade das experiências e das competências de que são portadores a serviço da reflexão comum. Daí também deverá surgir o texto final – o “pacto”, para retomar a linguagem dos fóruns anteriores – com o qual o evento se concluirá.
No centro das temáticas da etapa siciliana do fórum estarão os jovens, o Mediterrâneo, a paz entre as culturas e as fés. A partir de que perspectivas vocês discutirão essas questões?
São temas que surgiram progressivamente em sua centralidade por meio das diversas etapas preparatórias do fórum (Florença, Molfetta, Turim). Contextos diferentes – por localização geográfica, assim como por tecido sociocultural – mas que sinalizaram exigências comuns.
O primeiro dado é a atenção à complexidade: os temas mencionados só podem ser apreendidos em sua relação mútua, como componentes de um único desafio que põe em jogo o próprio futuro. A paz, por exemplo, só pode ser expressada hoje junto com a justiça e o cuidado da terra, em uma perspectiva articulada. A política também deve ser pensada nas características singulares que ela assume nesta fase caracterizada pela presença determinante das mídias digitais, que levantam questões e oportunidades absolutamente inéditas.
Olhamos com particular preocupação para o Mediterrâneo: em sua história, ele carrega poderosas palavras de paz e de cooperação (é fácil recordar aqui o sonho de La Pira), mas o presente, ao invés disso, parece caracterizado pelo fortalecimento de um ódio que não sabe construir reciprocidade. Islã, judaísmo e cristianismo devem redescobrir sua própria vocação autêntica, como construtores de paz na justiça e no respeito aos outros, superando a tentação de ceder à violência.
Por isso, é de particular importância que o IV Fórum se realize em Palermo, graças à hospitalidade do Gonzaga Campus e ao eficaz trabalho do Instituto de Formação Política Pedro Arrupe: uma cidade situada no coração do Mediterrâneo, testemunha de histórias de diálogo e de convivência, de compromisso com a legalidade e contra a máfia. Escutaremos com viva atenção os testemunhos sobre sua vida civil que nos serão oferecidos no sábado à noite.
Que contribuição a ética civil oferece para a desarticulada política nacional?
A renovação da política constitui uma das dimensões-chave do trabalho do fórum, e a primeira manhã irá olhar precisamente nessa direção. A ética civil olha para uma política alta, que supere a contraposição e a deslegitimação do outro como estilo de ocupação do espaço público. Olha para uma política clarividente, capaz de agir também por objetivos de longo prazo, sem se achatar na gestão das emergências, embora necessária.
Pedimos a Debora Spini, com sua experiência internacional e com suas raízes na cultura protestante, que nos ajude a compreender quais percursos e quais perspectivas podem nos ajudar nesse sentido. Para usar uma metáfora, o desafio é o de construirmos juntos uma bela cidade aberta, em que a solidez das muralhas seja acompanhada pela abertura das portas, para permitir uma cotidianidade serena e acolher quem vem procurar abrigo.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Ética civil: o desafio de um mundo complexo e em crise. Entrevista com Simone Morandini - Instituto Humanitas Unisinos - IHU