Uma ética para tempos incertos

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17 Outubro 2023

"Nos estudos de Piana, o problema central é a relação entre o sujeito agente, sua liberdade e as exigências de uma moral objetiva. Propõe a ética evangélica autêntica, indica as derivas degradantes que os tempos podem trazer, respeitando realmente aquela mediação humanística que uma sociedade laica, democrática e pluralista pode alcançar sobre os problemas morais mais complexos", escreve Enrico Peyretti, teólogo, ativista italiano, padre casado e ex-presidente da Federação Universitária Católica Italiana (Fuci), em artigo publicado por Rocca, n. 01, 01-01-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

“A ética não nos ensina como ser felizes, mas como podemos nos tornar dignos da felicidade”: com essa bela citação de Kant conclui seu posfácio afetuoso e atento a essa coletânea o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente da Pontifícia Comissão para a Cultura e companheiro de estudos de Giannino Piana.

O texto de Ravasi destaca com precisão os vários temas morais atuais sobre os quais Piana trabalhou e lhe presta o merecido reconhecimento. Os outros dez estudos reunidos na obra são dedicados a Piana (nascido em 2 de outubro de 1939, agora infelizmente doente, mas lúcido e sereno na conversa animada, e ainda ativo) como – escrevem os dois curadores – “testemunha da evolução dos sentimentos daquela parte da Igreja italiana que em diferentes níveis pode ser indicada como culta e empenhada." Ele é uma pessoa gentil, “respeita a posição dos outros porque respeita os outros”.

Nos estudos de Piana, o problema central é a relação entre o sujeito agente, sua liberdade e as exigências de uma moral objetiva. Propõe a ética evangélica autêntica, indica as derivas degradantes que os tempos podem trazer, respeitando realmente aquela mediação humanística que uma sociedade laica, democrática e pluralista pode alcançar sobre os problemas morais mais complexos. A sua reflexão fecunda é partilhada com a sociedade civil e a cultura italiana e europeia. A cultura católica qualificada o reconheceu mais do que as instituições católicas. Como outros "padres não clericais", Piana manteve relações e trocas com intelectuais universitários italianos, com filósofos como Pareyson, com Carlo Bo, Italo Mancini, Pietro Prini, e lecionou nas Universidades de Urbino, durante 25 anos, e em Turim.

O livro contém várias dezenas de páginas de bibliografia, porque Piana sempre trabalhou não só em muitos volumes orgânicos, mas também em muitas publicações de qualidade, como a coluna da Rocca. Para Piana, a ética religiosa é a consciência de ser chamados, pois o humano e o divino constituem uma fronteira lábil no coração da pessoa, numa visão de fundo, não puramente “legal”.

Os estudos aqui reunidos são abordados temas frequentemente tratados em sua extensa obra: consciência e discernimento; responsabilidade; uma ética “situada” na pessoa, no corpo, na natureza; multiculturalismo; casamento e família; por uma ética das relações afetivas homossexuais; “consciência utópica” como ética política; reflexão sobre novos modelos éticos do terceiro milênio; as qualidades de um modelo ético para os jovens.

Ao longo de cinquenta páginas, no início do livro, encontramos uma ampla entrevista concedida por Giannino Piana a Pier Davide Guenzi, que é uma verdadeira autobiografia cultural e existencial, um percurso interno e ativo no intenso caminho evolutivo da teologia moral: antes do Concílio era uma casuística negativa sobre o conteúdo objetivo das ações pecaminosas, um manual prático para uso de um confessor-inquisidor, e foi crescendo até a sua ligação essencial com a teologia espiritual, com os valores evangélicos na conduta dos discípulos de Jesus (p. 33, 45-46). Indicamos a leitura, que é de grande interesse, também pelas numerosas referências a Turim.

Editado por P. Benanti e F. Compagnoni. Un’etica per tempi incerti. Studi di undici autori in onore di Giannino Piana, teologo italiano. Posfácio de Gianfranco Ravasi Cittadella editrice, Assis 2021. | Foto: Divulgação/Amazon

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