06 Novembro 2023
"Outros momentos como o 8/1 podem surgir a qualquer hora – inclusive, e principalmente, agora que a GLO assinada por Lula, Flávio Dino (ministro da Justiça) e José Múcio (formalmente, o ministro da Defesa) possibilita o controle militar de portos e aeroportos das duas principais cidades do Brasil".
O artigo é de Carlos Tautz, jornalista e doutorando em História Contemporânea na UFF.
A pretexto de enfrentar um suposto descontrole na segurança pública de Rio de Janeiro e de São Paulo, o decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) que entrou em vigor ontem aparece em um cenário de perigoso emparedamento de Lula e escancara a fragilidade política do governo.
No front externo/interno, a potência hegemônica mostra sua força e a GLO vem logo após o governo do Brasil autorizar inexplicáveis exercícios conjuntos do Exército Brasileiro com o Exército dos EUA em território nacional.
No front financeiro, a GLO surge quando há inequívoca convergência política entre Haddad e a chefia do BC – nomeada por Jair Bolsonaro para funcionar como enclave neoliberal no governo Lula, na mantendo os juros em níveis que inviabilizam a urgente retomada da economia real e os investimentos públicos, mas que atendem o rentismo.
No front da política interna, a GLO aparece durante o processo de permanente ampliação do controle do presidente da Câmara Arthur Lira e do Centrão sobre a dinâmica do Congresso, do orçamento (atribuição exclusiva do Executivo) e, até, de partes importantes da governo, como a CEF e, temo, futuramente, parte da Saúde, (a Funasa, em especial).
Com a permanente mobilização social da direita, ora em fogo baixo, recompondo-se mas atenta a oportunidades como a do terrorismo verificado em 8 de janeiro passado, a GLO pode dar meios e justificativas aos grupos da direita extrema para novas incursões, com desenvolvimentos imprevisíveis.
Neste cenário, se os grupos de mídia encontrarem um mote do tipo Mensalão para fustigar Lula e a frente mais do que ampla que venceu eleitoralmente em 2022, o STF imediatamente abandonaria o legalismo de ocasião, adotado como tática de autopreservação, e abraçaria um golpismo envernizado de discurso constitucional.
Assim vai-se recompondo a aliança que derrubou Dilma e deu o golpe em 2016; que posterior e ilegalmente prendeu Lula; e que interveio financeira e militarmente no Rio de Janeiro em 2018 para criar o clima nacional que viabilizou Bolsonaro.
Temo pela vida de Lula caso este cenário se consolide. A prisão já se provou insuficiente para quebrar a identidade forte dele com a base pobre da sociedade brasileira. Só a morte física de Lula aplicaria o ódio de classe que a burguesia tem pelo presidente.
Diante de tantas evidências, também me espanta o imobilismo das esquerdas que frequentam palácios e congressos, diante de cenário tão perigoso – a exceção é o valoroso MST.
Aliás, um tipo de imobilismo que se manifesta também na covardia das esquerdas – outra vez, a exceção é o MST – que não mobilizam a sociedade brasileira contra o genocídio que Israel impõe sobre o povo palestino.
Outros momentos como o 8/1 podem surgir a qualquer hora – inclusive, e principalmente, agora que a GLO assinada por Lula, Flávio Dino (ministro da Justiça) e José Múcio (formalmente, o ministro da Defesa) possibilita o controle militar de portos e aeroportos das duas principais cidades do Brasil.
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Lula enquadrado. Artigo de Carlos Tautz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU