21 Outubro 2023
Psicólogo jesuíta da Costa do Marfim afirma que adolescentes e jovens adultos, que constituem 75% da população africana, estão na faixa etária mais suscetível à depressão e ao suicídio.
A reportagem é de Guy Aimé Eblotié, publicada em La Croix Africa, 20-10-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“A Igreja não pode se distanciar da saúde mental dos fiéis”, afirma Jean Messingué, o padre e psicólogo jesuíta que dirige o Centro de Aconselhamento Profissional e Cuidado Pastoral Clínico (Copac) de sua ordem religiosa, na capital da Costa do Marfim, Abidjan.
O centro realizará um congresso neste sábado com o objetivo de ajudar os agentes de pastoral da Igreja e outros interessados a prevenirem os riscos de depressão e de suicídio entre os jovens. E Messingué diz que o motivo do congresso é mais do que óbvio.
“Uma pesquisa nacional sobre suicídios realizada na Costa do Marfim revelou que, entre 2019 e 2021, 61,5% das tentativas de suicídio envolveram adolescentes e jovens”, lamenta.
Nesta entrevista, o psicólogo jesuíta fala sobre o congresso do Copac e “a urgente necessidade de corresponsabilidade na promoção do bem-estar psicológico de adolescentes e jovens”.
Qual é o objetivo do congresso do Copac sobre saúde mental?
Este congresso sobre depressão e suicídio entre adolescentes e jovens, que estamos organizando em colaboração com o programa nacional de saúde mental, certamente faz parte do Dia Mundial da Saúde Mental (10 de outubro), mas também faz parte do programa de atividades do Copac. A promoção da saúde mental começa nas famílias, nas comunidades educacionais, nos locais de trabalho, nas igrejas e nas mesquitas. É responsabilidade de todos e não apenas dos profissionais. Jovens, pais e mães, educadores, agentes de pastoral e lideranças religiosas são o público-alvo deste congresso, que será realizado presencialmente e online.
Por que vocês escolheram especificamente os jovens como tema deste congresso?
Os adolescentes e jovens representam mais de 75% da população em todos os países africanos. As crianças são reconhecidas como pessoas vulneráveis. Na África, os jovens também constituem uma categoria vulnerável. Sua saúde mental, portanto, deve ser uma prioridade, tal como afirma a OMS. Uma pesquisa nacional sobre suicídio realizada na Costa do Marfim revelou que, entre 2019 e 2021, 25,36% dos casos de suicídio registrados foram entre adultos jovens (25 a 35 anos de idade) e 19,17% eram adolescentes (10 a 24 anos). Além disso, o mesmo estudo revelou que 30,54% das tentativas de suicídio envolveram adolescentes, e 30,51%, adultos jovens. Ou seja, 61,5% das tentativas de suicídio envolvem adolescentes e jovens.
Esses números são o suficiente para justificar a relevância deste congresso e a necessidade urgente de intensificar a ação para promover a saúde mental dos adolescentes e jovens. A ligação entre depressão e suicídio é muito estreita, razão pela qual o congresso se concentra na depressão e no suicídio. Queremos sensibilizar para a necessidade urgente da corresponsabilidade na promoção do bem-estar psicológico de adolescentes e jovens.
O que a Igreja pode fazer para promover a saúde mental?
A Igreja sempre assume os gritos e as tristezas dos filhos e filhas de Deus, e tem como missão promover a alegria de viver. A Igreja é muito ativa na promoção da saúde. Talvez seja menos ativa na saúde mental, como é o caso dos nossos países.
A escala dos pedidos de escuta e apoio dentro da Igreja revela o estado de sofrimento psicológico e emocional entre os fiéis. Isso exigirá formação em saúde mental e em aconselhamento para os agentes de pastoral, especialmente aquelas pessoas que se sentem chamadas a escutar e a oferecer apoio. Sem querer transformar os agentes de pastoral em psiquiatras, as demandas dos fiéis os obrigam a oferecer apoio espiritual e psicológico na linha da frente. A Igreja não pode se distanciar da saúde mental dos fiéis.
Quais são os planos do Copac para a promoção da saúde mental?
Dentro de três semanas, mais precisamente no dia 18 de novembro, organizaremos um dia de psicoeducação sobre os fatores de risco do comportamento aditivo entre adolescentes e jovens. Além da formação certificada em acompanhamento psicoespiritual e apoio psicológico na linha de frente, estamos planejando diversas ações comunitárias e oferecendo serviços de escuta terapêutica. Todos devemos estar comprometidos com a saúde mental e o bem-estar psicológico de todos, especialmente das pessoas vulneráveis.
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Padre e psicólogo africano diz que questões de saúde mental devem ser prioridade pastoral - Instituto Humanitas Unisinos - IHU