01 Setembro 2023
Há um “desnível lógico”, aponta o Vaticano, nas polêmicas que se seguiram às palavras dirigidas de improviso por Francisco, em videoconferência, a um grupo de jovens católicos reunidos na semana passada em São Petersburgo para a Jornada da Juventude Russa. Porque Francisco disse “exatamente o oposto” do que lhe foi atribuído: até convidou garotas e rapazes para serem “semeadores e artesãos da paz no meio de tantos conflitos e polarizações”.
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada por Corriere della Sera, 31-08-2023. A tradução de Luisa Rabolini.
No Vaticano paira uma certa amargura, mas não espanto, pelas interpretações negativas vindas da Ucrânia, especulares aos comentários satisfeitos do Kremlin. Por último, Mykhailo Podolyak, conselheiro de Zelensky disse ao Corriere della Sera que o Papa se tornou um "instrumento da propaganda russa" e as suas palavras são "um encorajamento incondicional ao imperialismo agressivo". Tudo isso porque Francisco convidou os jovens russos a “não esquecerem” a herança cultural e espiritualidade da “grande Rússia dos santos, dos reis, de Pedro o Grande, de Catarina II…”.
O porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, já havia esclarecido na terça-feira: “Como fica claro no contexto, o Papa pretendia incentivar os jovens a promover tudo o que há de positivo na grande herança cultural e espiritual russa, e certamente não exaltar lógicas imperialistas e personalidades governamentais, citadas por indicar períodos históricos de referência". A nunciatura de Kiev recordou que Bergoglio “é um convicto opositor e crítico de qualquer imperialismo".
Mas afinal, pensam no Vaticano, isso não causa surpresa: a missão de paz do Papa – o cardeal Matteo Zuppi irá para Pequim depois de Kiev, Moscou e Washington – tem o objetivo de superar em primeiro lugar aquela “lógica da guerra” que “instintivamente” faz com que tudo seja lido de forma conflituosa, neste caso interpretando equivocadamente. Na audiência de ontem, como todas as semanas, Francisco rezou pela “martirizada Ucrânia”. Desde o início ele diferenciou o agressor do agredido, mas ao mesmo tempo tentou manter aberta uma brecha de mediação.
Hoje partirá para a Mongólia, num voo de 8.200 quilômetros para se encontrar com uma comunidade católica de 1.500 pessoas, num país entre a Rússia e a China. “É a própria presença do Papa na Mongólia que constitui um convite à paz”, explicou o Cardeal Pietro Parolin aos meios de comunicação do Vaticano: “Esta visita leva consigo o apelo pelo respeito a cada país, seja grande ou pequeno, pela observância às leis do direito internacionais, à renúncia ao princípio da força para resolver as controvérsias”.
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A amargura do Vaticano pelas palavras do Papa sobre Moscou lidas com a “lógica da guerra” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU