Há uma grande festa jesuíta esta semana – não, não aquela, a outra – não Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, mas São Pedro Fabro, um dos primeiros companheiros de Inácio e cofundador da companhia que se tornou a Companhia de Jesus.
A opinião é de Chris Altieri, editor de Crux, 02-08-2023.
O dia de São Pedro Fabro é quarta-feira, 2 de agosto, e é um grande dia para o Papa Francisco, que colocou seu confrade do século XVI oficialmente nos livros e no calendário como um santo no início de seu pontificado.
A história de como o beato Pedro Fabro passou a ser venerado como São Pedro Fabro pode conter uma chave interpretativa para a maneira como o Papa Francisco pensa sobre o poder e como ele o usa para governar a Igreja.
O que Francisco fez foi basicamente renunciar ao processo formal de canonização e, em vez disso, responder a três perguntas centrais: sabemos que o sujeito viveu uma vida de virtude exemplar? Os fiéis têm pedido sua intercessão com bastante regularidade e por um bom período de tempo? Existem milagres atribuídos à sua intercessão desde o momento de sua morte?
O Papa Francisco respondeu afirmativamente às três perguntas e decidiu por sua própria – infalível – autoridade que Pedro Fabro deveria estar nos livros como um santo e venerado em toda a Igreja como tal. O termo técnico para isso é canonização “equipollent”, e Francisco não chegou nem perto de inventá-lo. Já existe há muito tempo, assim como a maioria das coisas na Igreja, de uma forma ou de outra.
O Papa Bento XVI usou a canonização equipolente para elevar Santa Hildegarda de Bingen aos altares, e Francisco também a usou em outros casos.
Foi no início de seu pontificado que Francisco fez isso por Pedro Fabro. Francisco, visivelmente impaciente em suas novas moradas romanas e empolgado com o sucesso de sua primeira Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, ainda impressionava o mundo com seus gestos inovadores e atos espontâneos de testemunho quase caprichoso do evangelho. O “efeito Francisco” estava em pleno andamento, mas seus comentários improvisados e frequentes e seus desvios espetaculares do protocolo eram desconcertantes para algumas pessoas de disposição mais convencional e positivamente irritavam os tacanhos.
“Este papa simplesmente não entende o ofício que ele tem, ou seu poder”, várias pessoas me disseram grosso modo a propósito das várias surpresas papais naqueles primeiros meses. Outros se perguntaram em voz alta, nas redes sociais, e alguns ocasionalmente em comentários publicados. Essa leitura sempre me pareceu, bem, errada.
Veja bem, o Papa Francisco colocou São Pedro Fabro nos livros em 17-12-2013, seu próprio 77º aniversário, fazendo de seu ato – seja lá o que fosse – um “presente de aniversário para si mesmo”, como eu brinquei uma vez. Para mim, isso apenas mostrou exatamente o quão bem Francisco realmente entende o ofício e seu poder. Concorde com ele ou discorde sobre como ele usa o poder em geral ou em qualquer caso particular, goste ou não, mas não diga que ele não entende.
A propósito, São Pedro Fabro é um personagem fascinante por si só, cuja vida e cujo legado também são uma chave para entender a abordagem do Papa Francisco para governar a Igreja.
Ele foi o primeiro grande mestre dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio, e um poderoso pregador que teve grande sucesso especialmente na Alemanha, onde o papa o havia enviado para defender a doutrina católica contra os luteranos e ajudar a restaurar a unidade religiosa no Sacro Império Romano. Em vez disso, Fabro evitou a disputa teológica e preferiu pregar a reforma pessoal radical e a renovação espiritual por meio de um rigoroso autoexame.
Quando os cardeais elegeram Francisco, eles lhe deram um mandato para reformar o governo central da Igreja. O novo papa tinha uma visão diferente do trabalho.
Já em 2014 – certamente não depois do fim daquele ano – o Papa Francisco usou a tradicional reunião natalina com altos funcionários do Vaticano para listar os males que afligem o aparato governamental do papa e, mais precisamente, os homens que ocupam cargos nele. Francisco, como Pedro Fabro, estava colocando a reforma espiritual à frente da reforma institucional.
Você teria dificuldade em encontrar alguém disposto a dizer que a reforma espiritual não é essencial para a vida de um cristão. Cinco minutos na batida do Vaticano serão suficientes para convencer até o mais ingênuo de que os altos funcionários da Cúria precisam disso tanto quanto qualquer outro.
Mesmo assim, a Cúria Romana é uma burocracia. Mesmo que os santos vivos fossem funcionários e chefiassem todos os departamentos da cúria, ainda seria uma burocracia. Como já disse em outro lugar, reformar a burocracia é uma coisa. Reformar os burocratas é outra bem diferente.