19 Junho 2023
O confronto entre a União Soviética e os Estados Unidos. A audiência privada do Papa Roncalli com o embaixador cubano Luis Amado Blanco. O papel do Papa na crise dos mísseis 60 anos atrás.
A reportagem foi publicada por Il Sismógrafo, 17-06-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
O conhecido sacerdote diocesano cubano, Carlos Manuel de Céspedes Garcías-Menocal (15 de julho de 1926 - 3 de janeiro de 2014), por muitos anos vigário geral da diocese de Havana, em um artigo no nº 98 da revista "Palabra Nueva" (2001), publicou a terceira parte do ensaio Chaves para entender João XXIII, no qual recordava um seu compatriota leigo, jornalista e embaixador de Cuba junto à Santa Sé durante 14 anos, até à sua morte: Luis Amado Blanco. Foi o próprio Fidel Castro, em 1961, quem nomeou esse ilustre cubano, católico – nascido na Espanha – como representante junto ao Vaticano, onde foi por muito tempo Decano do Corpo Diplomático.
Em suas lembranças, Mons. C. M. de Céspedes coloca sua memória nos difíceis meses da crise dos mísseis em Cuba (outubro de 1962), seis meses antes da publicação da encíclica Pacem in Terris do Papa Roncalli (11 de abril de 1963) e que em grande parte inspirou o documento do magistério pontifício entre os mais relevantes da Rerum novarum de Leão XIII até hoje.
Antes do famoso discurso de São João XXIII de 25 de outubro de 1962, viva exortação para evitar as graves consequências da crise, o Pontífice convocou o embaixador Amado Blanco para uma audiência privada. O diplomata cubano estava bem informado e sabia que a Santa Sé vinha conversando com os Estados Unidos e a União Soviética há tempo para evitar o pior: um conflito nuclear. O diplomata de Havana pensou que se conversaria sobre a crise e as relações entre as potências nucleares.
Assim que se encontrou com o Papa no Palácio Apostólico, entendeu que se tratava de uma conversa sobre um documento, aliás, sobre os rascunhos do discurso que o Papa Roncalli se preparava para gravar como mensagem de rádio para 25 de outubro de 1962. De fato, o Pontífice, entregando-lhe algumas páginas datilografadas, disse ao embaixador: Excelência, trata-se de um texto delicado, por favor, leia-o e se tiver alguma sugestão, faça-o. Ainda temos tempo para ajustar o texto se eventualmente ofender as autoridades cubanas.
O embaixador relatou tê-lo lido na presença do Papa e ter respondido: Santo Padre, não teria nenhuma observação a fazer.
Luis Amado Blanco contou, anos depois, que ficou admirado com a gentileza e sabedoria do Papa Roncalli, explicando também que as surpresas do encontro ainda não haviam acabado. O diplomata-jornalista acrescentou a Mons. C. M. de Céspedes: "Quando eu já estava na porta do gabinete do Santo Padre para me despedir, ele me disse: 'Embaixador, diga ao meu filho [Fidel] que resista e que o Santo Padre reze por ele e por Cuba'".
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“Embaixador, diga ao meu filho [Fidel Castro] que resista e que o Santo Padre reza por ele e por Cuba”. Audiência de Papa João XXIII com embaixador cubano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU