15 Junho 2023
"Podemos observar neste livro a luta dos judeus contra os opressores e a sedução do poder terreno. Se observarmos bem, o tirano é sempre aquele que detém o poder terreno. E é sempre aquele que quer oprimir o mais fraco para o benefício próprio e para ter mais poder", escreve Alvim Aran, estudante do terceiro ano de filosofia, seminarista no Seminário Provincial Sagrado Coração de Jesus, em Diamantina/MG.
A Bíblia é composta por grandes histórias, e entre elas nos chamou a atenção o livro de Ester, ou rainha Ester, uma das grandes mulheres do antigo testamento de quem quase não ouvimos falar. E hoje paramos para refletir um pouco a história de Ester e colocá-la em nossa realidade atual no Brasil e no mundo. Segundo alguns biblistas, “não se trata de uma história real, mas de uma espécie de ‘novela’ escrita para aquela época”. [1] Sobre a autoria do livro, segundo a Equipe do Curso de Formação a Distância da Região Episcopal Ipiranga (ECFDREI), não se sabe quem o escreveu:
Não sabemos quem é o autor deste livro, mas notamos que ele vivia na Pérsia, pois conhecia bem o ambiente e a topografia daquela imensa região, que se estendia desde a Índia até a Etiópia, englobando cento e vinte e sete províncias, tendo Susa por Capital. [2]
O livro de Ester é composto por dez capítulos (de acordo com a Bíblia de Jerusalém) riquíssimos em reflexões, desde o machismo vigente na época, rompido quando a rainha Vasti se recusa a se apresentar ao rei Assuero, [3] até a metade do reino oferecida à rainha Ester, [4] isto é, o poder terreno. O livro de Ester, segundo o prefacio presente na Bíblia de Jerusalém, “narra libertação da nação por intermédio de uma mulher”. [5] Após a libertação é instituída a festa do Purim [6] que até os dias atuais é comemorada no meio judaico. [7] Passemos ao livro.
Após dar uma enorme festa, [8] o rei Assuero mandou chamar a rainha Vasti que se recusou ir a seu encontro, segundo a ECFDREI: “Embora Vasti fosse rainha, a sua negação ao rei era como se fosse uma rebelião no palácio, com muitas testemunhas, para a vergonha do rei e de todos os homens que lá estavam”. [9] Então o rei, após conversar com o conselho, resolveu escolher outra rainha. E em Susa, a capital, vivia Ester, uma jovem linda, que ficou órfã e seu tio Mardoqueu a tomou sob seus cuidados. [10] Mardoqueu e Ester eram judeus que viviam naquela região, esses eram bons judeus, não aceitavam se curvar diante de nenhum poder terreno. E isso irritava os poderosos da época, mais especificamente a Amã.
Amã era orgulhoso, queria de toda forma que Mardoqueu se curvasse, mas o judeu era resoluto em suas decisões e não se curvou. [11] Vendo isso, Amã temia uma revolta judia e se precipitou para matar todos os judeus. Amã no livro de Ester é conhecido como o “opressor dos judeus”. [12] Mas Ester e os judeus não se curvaram, voltaram-se em orações e Deus os ajudou. [13] Ester ofereceu um banquete ao rei Assuero e convidou Amã, ambos aceitaram. Com o banquete, Ester agradou ao rei que lhe ofereceu tudo, até metade do reino se ela desejasse. Mas ela pediu somente a vida de seu povo. [14] Então Amã descobre que ela era judia, o rei resolve não matar os judeus, Mardoqueu é elevado no reino como segundo, e Amã é morto na corda que preparava para matar Mardoqueu. [15]
Podemos observar neste livro a luta dos judeus contra os opressores e a sedução do poder terreno. Se observarmos bem, o tirano é sempre aquele que detém o poder terreno. E é sempre aquele que quer oprimir o mais fraco para o benefício próprio e para ter mais poder. Diante dessa situação os judeus não desistiram, lutaram bravamente contra os seus opressores em busca da terra santa, em busca do direito de viver.
E o que essa história tem a nos ensinar hoje? Companheiras e companheiros, vejamos bem, Deus é ativo em nossa história, e nos incentiva a não nos calar diante da opressão. Jesus diz que devemos amar nossos inimigos, [16] e concordamos veementemente com Ele. Então o que fazer? Tirar do opressor a capacidade de nos oprimir, isto é, em nome de Deus e pela causa de Jesus, lutar contra toda forma de opressão terrena. No Novo Testamento (NT) temos Jesus que nos leva a lutar contra o pecado. Olha que situação mais triste que vivemos atualmente, o que chamam de pecado social, e aqui deixamos Dom José Maria Pires falar para gente: “O cardeal Suenens, falando sobre sua visita ao Brasil, disse ter visto aqui coisas belíssimas, mas ficou chocado de presenciar o que ele chamou de ‘estado social de pecado’, isto é, uma sociedade que permite a miséria”. [17] Aquele pecado gravíssimo que faz o ser humano não se desenvolver de forma plena e digna.
Esse desenvolvimento que todos falam nunca chegou à periferia, não temos uma política integral em nosso país, e os Amã’s da vida estão destruindo nossa pátria com suas políticas de morte, impedindo as pessoas de viver a maior vocação dada por Deus: a Vida. Essas necro-politicas impostas pelos opressores do povo (agora não é somente do povo judeu) vem matando a população carente. E nós, unidos num só corpo e um só Espírito, [18] inspirados pelo Espírito Santo e guiados pelos ensinamentos de Jesus, e pela reflexão do livro de Ester, devemos lutar fortemente contra esses tiranos e tirar das mãos deles a tirania.
Nós devemos ser Mardoqueu’s e Ester’s, isto é, não nos curvar diante do opressor, devemos lutar para que as pessoas tenham direito a vida, e ainda que nos ofereçam metade do reino dos homens (igual o rei a Ester), não devemos aceitar, pois como diz Sabotage, o dinheiro nunca deve comprar nossa postura. [19]
Sabemos que existem aqueles que se vendem, religiosos ou não, mas não podemos nos conformar com isso. Devemos ser sal da terra e luz do mundo, [20] ajudar as pessoas a se desenvolver integralmente, e alcançar a liberdade das filhas e filhos de Deus. Ester significa estrela, uma estrela guiou os magos até Jesus. [21] Deixemo-nos guiar pela história de Ester e de Jesus, para juntos construirmos um reino de Deus, uma sociedade de justiça e paz, longe de toda opressão.
É nossa missão como cristãos e cristãs lutar por um mundo melhor. Nós alcançamos a salvação aqui nesta terra através de nossas atitudes, isto é, cuidar da nossa casa comum. Deus nos livre de uma espiritualidade, de uma missão desencarnada que não busca cuidar de nosso meio ambiente, que nos ajudará a chegar ao céu.
Nosso destino é o céu, é verdade, mas passa por essa terra. Precisamos ajudar-nos uns aos outros, não nos deixar seduzir pelo poder terreno que despreza a maioria para promover alguns poucos. Lutar para ver os outros felizes que, segundo Dom Luciano Mendes, isso é o céu. [22] Vamos exercer nossa missão de cristãos e lutar por isso.
[1] Arquidiocese de São Paulo, região episcopal de Ipiranga. Curso de Formação a Distância. Bíblia: Caminho de Encontro com Deus. Unidade 6, Livro de Ester. São Paulo, 2012.
[2] Idem, p. 5.
[3] Bíblia de Jerusalém. Est 1, 12. São Paulo: Paulus, 2002.
[4] Est 5, 6.
[5] Bíblia, 2002, p. 663.
[6] Est 9,20-32.
[7] O que é Purim? Chabad.org. Disponível aqui. Acesso em: 5 jun. 2023.
[8] Est 1,5.
[9] Curso de Formação a Distância, 2012, p. 11.
[10] Est 2,7.
[11] Est 3,.4-5.
[12] Est 9,10.
[13] Est 4,1-17 et seq.
[14] Est 7,1-10.
[15] Est 7,10.
[16] Mt 5,44.
[17] Pires, D. José. Do centro para margem. Fortaleza: Acauã, 1978.
[18] Ef 4,4.
[19] Sabotage. Sabotage: "No Brooklin" - Rap é Compromisso. YouTube, 2015. Disponível aqui. Acesso em: 12 jun. 2023.
[20] Mt 5,13-14.
[21] Mt 2,1-16.
[22] Como é o céu? Dom Luciano Mendes responde. Canção Nova. Disponível aqui. Acesso em: 12 jun. 2023.
Arquidiocese de São Paulo, região episcopal de Ipiranga. Curso de Formação a Distância. Bíblia: Caminho de Encontro com Deus Unidade 6, Livro de Ester. São Paulo, 2012.
Bíblia de Jerusalém. Est 1, 12. São Paulo: Paulus, 2002.
O que é Purim?.Chabad.org. Disponível aqui. Acesso em: 5 jun. 2023.
Pires, D. José. Do centro para margem. Fortaleza: Acauã, 1978.
Sabotage. Sabotage - "No Brooklin" - Rap é Compromisso. YouTube, 2015. Disponível aqui. Acesso em: 12 jun. 2023.
Como é o céu? Dom Luciano Mendes responde. Canção Nova. Disponível aqui Acesso em: 12 jun. 2023.
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A luta contra a opressão presente no livro de Ester. Artigo de Alvim Aran - Instituto Humanitas Unisinos - IHU
