06 Junho 2023
O sábio é tão receoso como quem atravessa um rio no inverno. Cauteloso como quem teme seus vizinhos. Reservado como o hóspede sensível. Solúvel como o gelo fundente. Genuíno como a madeira bruta e vazio como os vales.
O comentário é do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, ex-prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, publicado por Il Sole 24 Ore, 04-06-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Reunimos essa cascata de imagens daquele texto filosófico-espiritual fascinante, mas também enigmático e fugidio, que é o Tao-te Ching, o "livro do caminho e da virtude" de uma famosa figura semilendária da tradição chinesa, Lao-tzu, que viveu talvez quatro ou cinco séculos antes de Cristo. O retrato do sábio que resulta das linhas que citamos revela uma série de traços destinados a ilustrar suas qualidades. Acima de tudo, há a prudência que orienta o caminho da vida ao cruzar as ondas tempestuosas. Existe a necessária capacidade de juízo em relação ao próximo enganoso, assim como é preciosa a discrição, principalmente quando você é um convidado à mesa.
Mas também é importante ter a doçura e a delicadeza que evitam as durezas glaciais do temperamento. Contra a exterioridade feita de enfeites e hipocrisia, é luminosa a simplicidade de espírito e, para vencer a mesquinhez e o egoísmo, eis a abertura do coração e da mente, semelhante a um vale verdejante e florido. Concluímos com um salto geográfico e espiritual, ainda permanecendo no mesmo horizonte de sabedoria. Deixemos a palavra ao indiano Buda, contemporâneo de Lao-tzu, num dos discursos que lhe são atribuídos, o Dharmapada, com este conselho: “Se encontrares um sábio que te mostra os teus erros e te indica os perigos do caminho, siga-o como seguirias quem possui o mapa de um tesouro".
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#o mapa do tesouro. Comentário de Gianfranco Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU