03 Junho 2023
Realizou-se em Madri de 7 a 11 de maio de 2023, o Seminário organizado pela Comissão Teológica Internacional dos Padres Dehonianos (cf. o site oficial da Congregação). O Seminário, celebrado na sede da Universidade ESIC (instituição acadêmica que é expressão da Província Espanhola dos Dehonianos), enfrentou a questão econômica como uma urgência do nosso tempo. Depois de um intenso dia de conferências (8 de maio) e de dois dias em que as comissões teológicas continentais apresentaram as reflexões preparadas em vista do evento (9 a 10 de maio), os participantes identificaram nos contextos a que pertencem os desafios mais urgentes, as oportunidades a serem aproveitadas e os recursos que os dehonianos podem colocar em jogo para acompanhar a transição "para uma economia para todos: inclusiva, sustentável e justa". Reproduzimos a Mensagem final entregue à Congregação como conclusão.
A mensagem é publicada por Settimana News, 14-05-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a mensagem.
(1) A sociedade muda de forma tão vertiginosa que parece que não temos tempo de nos acostumar com nada novo. Um instante muda e imediatamente outro se apresenta. Como anunciar o Evangelho num mundo tão mutável, com um mercado que nos seduz com promessas de felicidade à venda nas lojas? No final do seminário Rumo a uma economia para todos: inclusiva, sustentável e justa, realizado em Madri de 7 a 11 de maio, os membros participantes desejam compartilhar com vocês, irmãos da Congregação, as respostas a essas importantes perguntas.
O Padre Dehon também teve que pensar em como anunciar e viver o Evangelho em seu mundo em transformação. Assumiu o risco de pensar, de consultar pessoas do mundo da indústria, de aprofundar o nascente pensamento social cristão e, graças a esse esforço, forjou-se uma parte da nossa espiritualidade.
(2) As comissões teológicas continentais tiveram que refletir durante um ano sobre como falar de uma economia para todos. Elaboraram reflexões nas quais justiça, sustentabilidade e inclusão foram consideradas como elementos essenciais para viver de forma cristã.
Depois de um ano, aqui em Madri, as comissões se reuniram com especialistas em economia, interlocutores sábios que abriram nosso espaço para o diálogo teológico intercontinental. Surgiram três desafios inquietantes que acreditamos devem ser explorados e aprofundados em nível intelectual, pastoral e espiritual.
(3) É possível uma economia justa para todos no Antropoceno e na pluralidade das culturas? A nossa resposta é que é possível e implica a superação de uma visão única da economia que se impõe atualmente. Somos chamados a trabalhar sinodalmente com diferentes experiências, vozes e visões, acertando as contas todos juntos com as injustiças das nossas economias.
Palavras como Ubuntu, Buen Vivir o Commons, lembram-nos que o Evangelho deve ser pensado no contexto atual, difícil, plural, mas ao mesmo tempo fascinante. Fascinante porque rico de ideias, sonhos e interpretações diferentes. O nosso desafio é saber reparar as feridas causadas por uma visão dominante e nos escutar reciprocamente para construir um poliedro de vozes e visões cativantes.
(4) O desenvolvimento sustentável e respeitoso é possível em um mundo caracterizado por uma economia predatória? Mais do que questionar se é possível, temos que dizer que é realmente necessário.
Devemos optar por uma economia humana e ecológica, em que a natureza seja vista como espaço de vida e não como recurso para a rentabilidade financeira. É necessário pensar, implementar e gerir boas práticas na utilização dos recursos para deixarmos de ser predadores daquilo que pertence à comunidade viva do planeta (água, terra, vegetação e fauna).
Nosso desafio: repensar a oblação como modalidade de relação dada pelo Espírito. Oblação é o oposto de predação. A oblação é respeitosa, sincera, dócil, empática e generosa.
(5) É possível um modelo econômico inclusivo? Este talvez seja um dos maiores desafios e não pode ser isolado dos dois aspectos anteriores.
É possível estabelecer um sistema justo e ao mesmo tempo ficar surdos a quem pensa diferente de nós. Podemos construir parques, jardins, utilizar energia limpa e comprar os produtos mais econômicos feitos por empresas que poluem em outros países. É possível tranquilizar as consciências com as ajudas e, ao mesmo tempo, construir muros para se defender de eventuais ameaças externas. É comum falar em direitos humanos e ao mesmo tempo tribalizar a cidadania e negar autorização de residência a pessoas oriundas dos países mais pobres.
A inclusão não é uma tarefa fácil. É um grande desafio: reconhecer, conhecer, amar e trabalhar em favor de quem é diferente. É um desafio imenso, que vai contracorrente; exige sair do espaço tribal, desabsolutizar a propriedade privada e apostar no que é comum, abrir-se ao outro diferente, que deve deixar de ser um estranho para se tornar um irmão ou uma irmã.
(6) O objetivo do Seminário não termina com o nosso encontro. Deve continuar. A Assembleia convida as Comissões Continentais a assumirem a tarefa de continuar a reflexão sobre a nossa espiritualidade e sobre a economia e divulgar os resultados às respetivas entidades. A missão do P. Dehon deve continuar no nosso tempo.
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