03 Mai 2023
" Volpi deduz que sua atividade [de Jesus] de pregação tivesse sido iniciada já há algum tempo, bem antes do encontro com João Batista com o qual, ao contrário, inicia a narrativa dos Evangelhos", escreve Marco Rizzi, professor de literatura cristã antiga da Università Cattolica del Sacro Cuore, de Milão, em artigo publicado por Corriere della Sera, 01-05-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Estatísticas e dados demográficos podem acrescentar algo ao nosso conhecimento sobre a figura histórica de Jesus? A resposta oferecida por Roberto Volpi, de formação e profissão justamente estatístico e demógrafo, é decididamente positiva. Não que faltem considerações a esse respeito na imensa quantidade de publicações sobre o chamado "Jesus histórico" - ou seja, tudo o que sobre se pode dizer historicamente verificável com base na documentação disponível, independentemente de qualquer consideração teológica e de fé. No entanto, a visão geral oferecida pelo livro de Volpi In quel tempo (Naquele tempo, em tradução livre, Solferino) permite ao leitor formar um quadro global eficaz e ao autor oferecer uma abordagem interpretativa, sob alguns aspectos original, à pregação de Jesus e à primeiríssima difusão de sua mensagem, até chegar, com Paulo, muito além dos confins do Palestina.
Precisamente em relação a esta última, Volpi estima seus habitantes em cerca de 400 mil ao todo, dos quais entre cento e 120 mil deviam povoar a região da Galileia, na qual situava-se Nazaré e onde se desenrolou quase toda a pregação de Jesus, destinada a se concluir dramaticamente em Jerusalém, onde, aliás, Jesus ficou apenas uns poucos dias.
Mais detalhadamente, a partir da informação obtida nos Evangelhos, especialmente nos três sinópticos (Marcos, Mateus e Lucas), é possível constatar que a pregação de Cristo se entendeu durante um período de um ano ou, no máximo, um ano e meio em uma área geográfica ainda mais limitada da própria Galileia, ou seja, os vilarejos situados em torno do chamado "Mar da Galileia", mais precisamente o lago de Tiberíades. Localizado no norte do atual Israel, tem um comprimento de 120 quilômetros por uma dúzia de largura e um perímetro total de cerca 50.
Jesus geralmente se move a pé, frequentemente, porém, utiliza barcos para se deslocar de uma margem a outra, economizando tempo e esforço. Tempo e esforço que ao contrário consumiam aqueles que iam ouvi-lo, vindo dos vilarejos mais próximos, quando se espalhava a notícia de sua passagem. Volpi supõe para esses deslocamentos uma média de duas horas ou pouco mais para ida e o mesmo para a volta, o que teria permitido que uma parte bastante consistente da população da Galileia entrasse em contato direto com a pregação de Jesus.
Então, quais eram as características dos habitantes dessa área restrita? Primeiro, tratava-se de uma população extremamente jovem, pelo menos para os nossos padrões: um em cada três habitantes de Galileia tinha menos de 14 anos; a maioria da população estava na faixa entre 15 e 35 anos, para uma idade média de 25 anos. Bem poucos estariam acima de 50 anos, dadas as prováveis taxas de mortalidade e as condições pobres e desfavorecidas da área.
Já a partir dessas observações, entende-se como a tradicional representação de Jesus como jovem de 30 anos, no máximo um "jovem adulto" como se diria hoje, corre o risco de ser enganosa: em vez disso, tratava-se de um homem no pleno da maturidade, que já tinhas às suas costas mais da metade de sua expectativa de vida. Volpi deduz que sua atividade de pregação tivesse sido iniciada já há algum tempo, bem antes do encontro com João Batista com o qual, ao contrário, inicia a narrativa dos Evangelhos.
Como se sabe, estava destinada a se concluir em Jerusalém. Também nesse caso, Volpi fornece alguns indícios quantitativos interessantes: a cidade devia ter entre 20 e 25 mil habitantes, mas com uma densidade habitacional decididamente elevada, aliás típica das cidades antigas, visto que sua superfície não ultrapassava os três quilômetros quadrados, com uma extensão de muros, de forma quadrada, de cerca de sete quilômetros. Ao longo desses muros se abriam cerca de uma dezena de portas, três das quais davam acesso direto ao Monte do Templo, centro do culto judaico e único local frequentado por Jesus em Jerusalém, antes dos eventos que levaram à sua morte. Desse horizonte aparentemente tão restrito, teria início uma história que viria a ter, ao contrário, uma importância universal.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Os números narram Jesus e as origens do cristianismo. Artigo de Marco Rizzi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU