17 Abril 2023
Em Roma, a conferência para celebrar a atividade da Coordenação reúne 200 estudiosas e docentes.
A reportagem é de Lucia Capuzzi, publicada por Avvenire, 14-04-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
"A mulher não existe", escrevia Lacan.
Existem as mulheres – no plural – e é uma boa notícia para a Igreja e para o mundo. Estão convencidas disso as teólogas da Coordenação Teológica Italiana (CTI), agora como há vinte anos atrás, quando essa realidade inédita foi criada. “Tanto que quando comecei os trâmites burocráticos e apresentava a ‘Coordenação Teólogas’ aos vários departamentos, respondiam ‘Como? Geólogas?’”, conta a biblista Marinella Perroni, que foi uma das fundadoras. Ao lado do efeito surpresa, no início não faltou perplexidade, mas “também um forte interesse. E, superadas as desconfianças iniciais, houve uma recepção calorosa. Com a Conferência Episcopal italiana a relação sempre foi ótima. Como aquela com os colegas teólogos, com quem a troca é contínua e estimulante”, acrescenta a biblista da Pontifícia Universidade Sant'Anselmo.
Duas décadas depois, o desafio da Coordenação – da qual fazem parte cerca de duzentos estudiosas e docentes da disciplina das diferentes confissões cristãs e uma dezena de teólogos homens – permanece “a promoção e a valorização dos estudos de gênero em âmbito teológico, bíblico, patrístico e histórico, na perspectiva ecumênica e para favorecer a visibilidade das teólogas no panorama eclesial e cultural italiano”, explica a presidente Lucia Vantini, que assumiu o cargo depois de Marinella Perroni (2003-2012) e Cristina Simonelli (2013-2021).
“Partimos da consciência de que não existe um discurso neutro sobre Deus. A diferença sexual e as tramas de diferença que a ela se entrelaçam marcam a nossa experiência, inclusive aquela teológica”, sublinha. A “diferença em relação” – de gênero e perspectiva – continua sendo o traço distintivo da Coordenação. “O sonho das mulheres para as mulheres não é só para metade da humanidade, mas recai sobre os homens, sobre todos os seres vivos e sobre todo o cosmos. Porque é um sonho de grandes horizontes, que antevê uma Igreja capaz de honrar as diferenças, uma teologia que saia dos espaços estreitos em que hoje está confinada, uma espiritualidade hospitaleira, uma saída da economia que mata, uma atenção com a vida, uma assonância entre cuidado e justiça”, continua Vantini.
Pensando nisso, o tradicional seminário do CTI está marcado para o vigésimo aniversário amanhã na Città dell’Altra Economia de Roma, intitula-se "Rumo a uma teologia pública. Histórias, conflitos, visões”. “Interessa-nos apontar como a reflexão das mulheres tenha gerado novas modalidades de habitar os conflitos do presente, apostando no cuidado das relações mesmo quando as distâncias são tantas – explica a presidente – as mulheres que vão falar certamente não estão mirando erguer suas vozes para retomar o espaço de uma ágora fechada para elas ou para seu discurso, porque a aposta em jogo é muito maior: não se trata de espaços em que fincar a bandeira, mas de reconfigurar a própria ágora para que nenhuma vida resulte sacrificável”.
Usando a metáfora de Grace Paley retomada por Lia Cigarini, não se trata de ganhar uma fatia do bolo já que é tóxico, mas de tentar mudar a receita, sem venenos ou excessos de açúcar. “Nós, que há tempo conhecemos o ‘teto de cristal’ do patriarcado - que impede o acesso ao topo dos sistemas - e o ‘recinto de cristal’ dos ‘fratriarcados’ onde faltam relações horizontais nos projetos comuns, agora não gostaríamos de ser reparadoras do mesmo tecido, mas sim tecelãs de outro sistema – conclui Vantini. Algo novo está no ar: muitas mulheres parecem mais conscientes da urgência e da fecundidade de sua diaconia, menos disponíveis para segurar edifícios em desmoronamento, mais inteligentes em escapar daqueles papéis aparentemente importantes, mas oferecidos apenas para reparar contextos estilhaçados”.
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Teólogas italianas, 20 anos de elaboração - Instituto Humanitas Unisinos - IHU