30 Mai 2014
Qual é o rosto das teólogas cristãs na Itália e o que eles sonham para as Igrejas do terceiro milênio? Quem tenta desenhar um perfil particularizado dele, embora ainda não exaustivo, é o estudo da Carmelina Chiara Canta, socióloga dos fenômenos culturais e religiosos, que respondeu a uma demanda formulada há mais de uma década por algumas teólogas católicas: a necessidade de uma investigação empírica que fotografasse essa realidade pouco conhecida, quase escondida aos olhos dos fiéis – e não só.
A reportagem é de Carlo Marroni, publicada no jornal Il Sole 24 Ore, 29-05-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Foi um dos poucos casos em que o 'encomendador' e o 'sociólogo' se encontraram em harmonia", destaca a autora. "Tratou-se de um pedido-proposta que, no momento, eu não pude levar em consideração, embora compartilhasse plenamente as motivações. Mas eu sentia e sinto a necessidade de compreender uma problemática negligenciada pela sociologia, e pela sociologia da religião em particular, um mundo também ele masculino como o das Igrejas, pouco sensível às questões masculino-femininas e ainda mais ao binômio gênero-religião."
Daí o sentido do título escolhido para o livro publicado pela editora Franco Angeli, Le pietre scartate [As pedras descartadas], que retoma uma expressão evangélica de modo não reivindicativo: o sentido é o de iluminar a vida de "mulheres nem sempre valorizadas nos papéis prestigiados e nos palácios de poder, onde até as religiões preferem geri-lo em termos exclusivos e masculinos", observa a socióloga Canta, que dirigiu uma pesquisa pontual, fundamentada em uma metodologia quantitativa.
Figuras, tabelas e gráficos falam claramente, junto com a análise que os acompanha: ao questionário enviado online de maio de 2012 a maio do ano passado para 335 teólogas cristãs (295 católicas, 36 batistas, metodistas e valdenses, duas anglicanas e outras duas ortodoxas), 181 responderam, entre leigas e religiosas, "um número consistente que nos autoriza a falar de uma amostra probabilística ou significativa".
Metade delas tem entre 46 e 65 anos, mas avançam as jovens entre 23 e 45 anos (35%): a possibilidade de frequentar as universidades pontifícias e, portanto, as faculdades teológicas – é preciso lembrar – remonta a um passado muito recente, ou seja, a 1965. Outro presente do Concílio. Se 56% são núbeis (solteiras ou consagradas), 34% são casadas pelo rito católico.
A primeira questão em aberto é a dificuldade de se manter com o trabalho teológico: embora quase metade das entrevistadas (42%) vivem no centro de Roma e lecionem nas universidades pontifícias romanas – enquanto em 35% dos casos as teólogas se encontram no Norte, 12% nas ilhas e 11% no Sul –, as cátedras provisórias não permitem "chegar ao fim do mês". Porém, observa Canta, "o currículo científico é de bom nível, e muitas têm os requisitos para acessar ao ensino acadêmico".
A sua presença "como docentes nas universidades pontifícias foi e é marginal e minoritária em relação aos homens (presbíteros). No entanto, elas estão presentes e são ativas em associações teológicas e às vezes com papéis de responsabilidade". Não só: elas se sentem "invisíveis" nos momentos decisivos da vida eclesial. A esse nervo à flor da pele, o Papa Bergoglio voltou várias vezes nos últimos meses e o fez com abertura e clareza. E na exortação apostólica Evangelii gaudium ele reiterou que o sacerdócio ministerial é reservado aos homens.
Assunto espinhoso, mas não central na pesquisa, sobre o qual 105 teólogas católicas expressam "uma posição de equilíbrio e maturidade"; 43 se declaram "perplexas"; 24, "decisivamente em desacordo"; 24 "de acordo"; e 14 "muito de acordo".
No entanto – explica a socióloga – "o sacerdócio das mulheres não é o principal problema para as mulheres-teólogas e provavelmente nem para os crentes". Os sonhos cultivados são bem outros, e o mais compartilhado (das 17 entrevistadas) diz respeito ao futuro eclesial: "'Imagina-se' uma Igreja que, em seu interior, viva o evangelho e realize a colegialidade e que, no exterior, tenha uma colocação diferente na história e uma relação mais serena com a modernidade e com o mundo, como desejado pelo Concílio".
Inseridas nas comunidades locais, em associações teológicas e de voluntariado, essas mulheres demonstram estar apaixonadas pelo Concílio Vaticano II e por conhecê-lo a fundo. E se declaram otimista em relação ao futuro: "Um sonho expresso com muita força diz respeito à valorização e o reconhecimento do papel e da competência da mulher, diferentemente conjugado, no plano o reconhecimento cultural, não só pela especificidade do feminino nas relações, mas também na sua valorização".
Em suma, elas gostariam de "ser realmente a outra metade do céu; chega de documentos sobre o gênio das mulheres, mas sim ao reconhecimento de fato, e que os dicastérios vaticanos e diocesanos seja geridos por leigas", aponta pragmaticamente uma teóloga no seu questionário. E outra acrescenta: "Como afirma o cardeal Kasper, 'a Igreja sem as mulheres é um corpo mutilado'. É insensato continuar falando delas sem ouvi-las".
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Teólogas querem mais cátedras e mais espaços - Instituto Humanitas Unisinos - IHU