22 Março 2023
Para os bispos dos Estados Unidos, os profissionais de saúde devem usar recursos para ajudar as pessoas a lidar com sua incongruência de gênero, mas os meios usados “devem respeitar a ordem fundamental do corpo humano”.
A reportagem é publicada por La Croix Internacional, 21-03-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Os bispos católicos nos Estados Unidos pediram aos profissionais de saúde que não realizem intervenções de “transição de gênero”, dizendo que elas interferem na unidade corpo-alma de cada pessoa humana conforme Deus a criou.
“O corpo não é um objeto, um mero instrumento à disposição da alma, de que cada um pode dispor segundo sua própria vontade, mas é parte constitutiva do sujeito humano, um dom a ser recebido, respeitado e cuidado como algo intrínseco à pessoa”, escreveu a Comissão de Doutrina da Conferência dos Bispos dos Estados Unidos em sua declaração de 20 de março, intitulada “Nota doutrinal sobre os limites morais da manipulação tecnológica do corpo humano” [disponível em inglês aqui].
“À medida que o alcance do que podemos fazer se expande, devemos perguntar o que devemos ou não fazer. Um critério indispensável para fazer tais determinações é a ordem fundamental do mundo criado. Nosso uso da tecnologia deve respeitar essa ordem”, escreveram os bispos.
Por isso, “os serviços de saúde católicos não devem realizar intervenções, sejam cirúrgicas ou químicas, que visem a transformar as características sexuais de um corpo humano nas do sexo oposto ou participar do desenvolvimento de tais procedimentos”, afirmaram.
“Eles devem empregar todos os recursos apropriados para mitigar o sofrimento das pessoas que lidam com sua incongruência de gênero, mas os meios usados devem respeitar a ordem fundamental do corpo humano. É somente usando meios moralmente apropriados que os profissionais de saúde demonstram pleno respeito pela dignidade de cada pessoa humana”, assinalaram os bispos.
“Os serviços de saúde católicos são chamados a ser um modelo de promoção do bem autêntico da pessoa humana. Para cumprir esse dever, todos os que colaboram na pastoral da saúde católica devem fazer todos os esforços, usando todos os meios adequados à sua disposição, para fornecer o melhor atendimento médico, assim como o acompanhamento compassivo de Cristo, a todos os pacientes, independentemente de quem sejam ou de que condição estejam sofrendo. A missão dos serviços de saúde católicos é nada menos do que continuar o ministério de cura de Jesus, para fornecer cura em todos os níveis, físico, mental e espiritual”, disseram.
A tecnologia moderna oferece vários meios químicos, cirúrgicos e genéticos para intervir no funcionamento do corpo humano. Esses desenvolvimentos, “um grande benefício para a humanidade”, proporcionaram a cura de muitas doenças humanas e prometem curar muitas outras.
No entanto, a tecnologia moderna também produz possibilidades de intervenções que são prejudiciais ao verdadeiro florescimento da pessoa humana, disseram os bispos. “É necessário um cuidadoso discernimento moral para determinar quais possibilidades devem ser realizadas e quais não devem, a fim de promover o bem da pessoa humana. Para fazer esse discernimento, é necessário empregar critérios que respeitem a ordem criada inscrita na nossa natureza humana”, escreveram os bispos.
Os bispos argumentam que as intervenções de transição de gênero “não visam a reparar algum defeito no corpo nem a sacrificar uma parte pelo bem do todo, mas, ao contrário, visam a alterar a ordem fundamental do corpo. Tais intervenções não respeitam a ordem e a finalidade inscritas na pessoa humana”.
Eles acrescentaram que a pessoa humana, corpo e alma, homem ou mulher, “tem uma ordem e uma finalidade fundamentais, cuja integridade deve ser respeitada. Devido a essa ordem e a essa finalidade, nem pacientes, nem médicos, nem pesquisadores, nem quaisquer outras pessoas têm direitos ilimitados sobre o corpo; eles devem respeitar a ordem e a finalidade inscritas na pessoa encarnada”.
Os bispos apontam que muitas pessoas estão sinceramente procurando maneiras de responder a problemas e a sofrimentos reais, mas confiar em certas abordagens que não respeitam a ordem fundamental é um erro.
“Uma abordagem que não respeita a ordem fundamental nunca resolverá verdadeiramente o problema em questão. No fim, só criará mais problemas”, disseram os bispos.
Os bispos citam o Papa Francisco, que em sua encíclica Laudato si’ escreveu: “A aceitação do próprio corpo como dom de Deus é necessária para acolher e aceitar o mundo inteiro como dom do Pai e casa comum; pelo contrário, uma lógica de domínio sobre o próprio corpo transforma-se numa lógica, por vezes sutil, de domínio sobre a criação” [n. 155].
Por isso, “qualquer intervenção tecnológica que não esteja de acordo com a ordem fundamental da pessoa humana como uma unidade de corpo e alma, incluindo a diferença sexual inscrita no corpo, em última análise, não ajuda, mas, ao contrário, prejudica a pessoa humana”, disseram os bispos.
Os bispos dos Estados Unidos reconheceram que a busca de soluções para os problemas do sofrimento humano deve continuar, mas deve se dirigir para soluções que realmente promovam a pessoa humana em sua integridade corporal.
“À medida que novos tratamentos são desenvolvidos, eles também devem ser avaliados de acordo com princípios morais sólidos, baseados no bem da pessoa humana como sujeito com sua própria integridade”, disseram.
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Bispos dos EUA proíbem profissionais de saúde de realizar procedimentos de transição de gênero - Instituto Humanitas Unisinos - IHU