13 Fevereiro 2023
A assembleia sinodal das Conferências dos bispos europeus ainda está no início. Em uma breve entrevista com Tomáš Halík, teólogo e filósofo da religião, definido também como um construtor de pontes na Igreja Católica, ele foi questionado sobre o que espera dessa assembleia.
A entrevista é de Ludwig Ring-Eifel, publicada por KNA e republicada por Settimana News, 11-02-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O que espera desta etapa europeia do Sínodo mundial realizada em Praga?
É uma oportunidade muito importante para superar os preconceitos recíprocos. Existem preconceitos entre as Igrejas locais. Aqui em Praga, podemos fazer um longo caminho juntos em um clima fraterno. É uma oportunidade para compartilhar experiências e nos encorajar mutuamente.
Quando fala de preconceitos, refere-se também à Igreja na Alemanha?
Sim, todos nós sabemos disso! (risos). Existe o preconceito de que o Caminho Sinodal alemão esteja esperando demais na mudança das instituições. A maioria sabe que é preciso fazer mudanças. Mas elas devem ser espiritualmente acompanhadas e preparadas. Não podemos considerar como tabu problemas como novas oportunidades no ministério sacerdotal ou um papel diferente para as mulheres na Igreja. Devemos falar disso publicamente. Mas tudo isso requer uma preparação teológica. Antes do Concílio, houve uma geração de teólogos, sobretudo alemães, que o prepararam. Agora também precisamos de teólogos que reconheçam esses novos impulsos.
Portanto, o Concílio Vaticano II não é mais suficiente?
Acho que esse Concílio chegou um pouco tarde demais. Tentou desenvolver o diálogo da Igreja com a modernidade. Mas, na época, a modernidade já havia quase chegado ao fim; a era pós-moderna já se anunciava, e é nela que vivemos hoje. A sociedade radicalmente plural da pós-modernidade traz consigo novas questões. Os maiores desafios que a Igreja deve enfrentar hoje não são mais o ateísmo e o materialismo, mas sim a sede de espiritualidade. Esse é um sinal dos tempos que a Igreja reconheceu tarde demais.
E o que deriva disso?
Não devemos apenas reformular o ensino tradicional da Igreja e as regras sobre o que devemos fazer como cristãos. Isso se chama ortodoxia e ortopráxis. Mas devemos também desenvolver uma boa atitude de pathos, de sentir as necessidades mais profundas das pessoas; portanto, uma nova ortopatia. Naturalmente, devemos mudar algumas coisas na imagem concreta da Igreja, mas sempre nesse contexto mais amplo.
Parece que existem visões muito diferentes na Igreja sobre o tema da ortopráxis ou, em outras palavras, sobre as questões da moral. Alguns querem seguir o ensinamento tradicional da Igreja. Outros pedem mudanças radicais. Isso ainda é compatível?
Chegou a hora de desenvolver uma nova e mais profunda antropologia teológica. Devemos levar a sério as descobertas das ciências naturais e humanas. A sexualidade também muda na história e nos contextos culturais. Devemos nos perguntar: quais são as propostas da Igreja nesse campo tão importante para as relações humanas? A Igreja viveu a revolução sexual há 50 anos como um choque e adotou uma simples posição defensiva. Não temos que aceitar tudo o que ocorre neste campo, mas temos que dialogar, até mesmo com os representantes dos estudos de gênero. Fizemos isso aqui em Praga, na Academia Cristã, há algum tempo e foi muito enriquecedor, tanto para os teólogos morais quanto para os especialistas em estudos de gênero.
Na etapa europeia do Sínodo em Praga, parece haver duas imagens muito diferentes da Igreja. Alguns falam de uma fortaleza sólida que deveria oferecer apoio e orientação às pessoas; outros, de uma tenda escancarada da qual ninguém deveria ser excluído. Como pode haver acordo?
(Halík sorri) A Igreja como fortaleza fortificada não tem nenhuma perspectiva. A tarefa da Igreja é o anúncio do Evangelho. E isso só é possível por meio da inculturação, ou seja, do diálogo com a cultura contemporânea. É preciso ter cuidado para não adotar acriticamente o espírito do tempo, a moda e a linguagem deste mundo. Mas também há os “sinais dos tempos” que devemos compreender, porque são os eventos por meio dos quais Deus se revela no presente. E, para saber distinguir o espírito do tempo e os “sinais dos tempos”, é necessário um bom discernimento espiritual. No século XIX, a Igreja reagiu erroneamente à modernidade e buscou uma saída em uma contracultura. Foi uma espécie de exculturação. Na situação atual, devemos tomar um caminho diferente. Não uma adaptação barata, mas um verdadeiro diálogo.
O Caminho Sinodal alemão pode contribuir para isso? Ou se desvia?
Não, não! Eles articularam questões importantes de forma muito precisa. Devemos levar isso a sério, mas talvez inseri-lo em um contexto mais amplo. A Igreja deve ser sinfônica. Os alemães são uma voz importante, mas ela deve fazer parte de um todo. E espero que aqui em Praga possamos dar um passo nesse terreno comum. Não se deve acabar tocando em uníssono, mas também não deve ser uma cacofonia, mas sim uma sinfonia de respeito mútuo. Esse é o significado da sinodalidade na Igreja.
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Sínodo: além de ortodoxia e ortopráxis, a Igreja precisa de uma nova ortopatia. Entrevista com Tomáš Halík - Instituto Humanitas Unisinos - IHU