Mundo invisível: a teia vital sob os nossos pés. A nova edição especial dos Cadernos IHU ideias

Foto: Public Domain Pictures

23 Dezembro 2022

Estamos vivendo num mundo onde somos obrigados a mergulhar profundamente na terra para sermos capazes de recriar mundos possíveis. Acontece que, nas narrativas de mundo onde só o humano age, essa centralidade silencia todas as outras pertenças – Ailton Krenak (2022, p. 37). 

Esta edição especial dos Cadernos IHU ideias trata de um tema que está cada vez mais em evidência na atualidade, envolvendo um campo multidisciplinar significativo: biologia, botânica, filosofia, antropologia, ciências sociais e literatura. O objetivo é tentar apresentar com clareza as trilhas de entrelaçamento que envolvem o humano em seu meio ambiente. Tal entrelaçamento evidencia que o ser humano não é o umbigo do mundo, mas parte de um todo interligado. É por meio desse magnífico entrelaçamento que se firma a “textura do mundo”, a “trama da vida”.

No singular mundo subterrâneo, ainda tão desconhecido por nossa observação, há uma magnífica arquitetura de teias e filamentos que proporcionam uma interação fabulosa entre as raízes das árvores, conectando esse mundo subterrâneo numa fantástica rede de transações e canais de subsistência. Ali, naquele espaço, ocorrem artimanhas singulares de ressurgência e resiliência diante de um mundo ameaçado e em ruínas. O número revela-se como um convite lançado a todos para ampliar o olhar e rever a dinâmica antropocêntrica que vem marcando nossa civilização e favorecer um novo entendimento do fenômeno da alteridade, que é muito mais amplo do que imaginamos, para além do mundo humano.

 

 

O curioso é constatar que tão poucos humanos captam a existência dessa cidade subterrânea, que é essencial para a sobrevivência de todos. Como mostrou, com pertinência, Merlin Sheldrake, em A trama da vida (2021), sabemos hoje que existem “entre 2,2 milhões e 3,8 milhões de espécies de fungos – de seis a dez vezes o número de espécies de plantas –, o que significa que apenas 6% delas foram descritas até agora”. Esforçar-se para compreender esse “mundo invisível” é tarefa essencial para todos os que buscam um novo modo de habitar a Terra, para além da pegada violenta do antropoceno. A vida social humana não está separada do todo, nem ocupa lugar de destaque ou superioridade. Ela, ao contrário, faz parte intrínseca dessa teia essencial que nos nutre e nos possibilita viver com dignidade.

Faustino Teixeira (Org.)

 

Referência

Krenak, Ailton. Futuro AncestralSão Paulo: Companhia das Letras, 2022. 

 

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