16 Dezembro 2022
Os líderes da Conferência Episcopal Francesa e três especialistas leigos em questões de abuso realizam três dias de reuniões com autoridades da Cúria Romana
A reportagem é de Loup Besmond de Senneville, publicada por La Croix International, 15-12-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Autoridades do Vaticano admitiram que houve, às vezes, “disfunções” na forma como a Santa Sé lidou com os casos de abuso sexual do clero que as dioceses locais são obrigadas a denunciar a Roma.
As confissões foram feitas esta semana aos principais líderes da Conferência Episcopal Francesa – CEF, que estiveram em Roma por três dias de reuniões sobre recentes revelações de abuso por parte de vários de seus confrades aposentados e como seus casos foram administrados.
As reuniões de 12 a 14 de dezembro aconteceram um mês depois da mais recente assembleia plenária da CEF, que foi consumida pelos casos de abuso do cardeal Jean-Pierre Ricard, 78 anos, e de dom Michel Santier, 75 anos, e como, em geral, a Cúria Romana trata da violência sexual na Igreja.
Dom Eric de Moulins-Beaufort, presidente da CEF, e seus dois adjuntos – o dom Vincent Jordy e dom Dominique Blanchet – levantaram a questão na manhã de quarta-feira em reuniões com os cardeais Marc Ouellet, prefeito do Dicastério para os Bispos, e Luis Ladaria, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé.
Os três bispos franceses também passaram “pouco menos de uma hora” com o Papa Francisco na segunda-feira e ele garantiu seu “apoio”.
“Ele nos disse: ‘Estou com vocês, estamos com vocês’”, disse o dom Jordy a jornalistas na quarta-feira. Ele disse que o papa “escutou” os bispos, mas não abordou os detalhes dos casos, especialmente o destino do cardeal Ricard. O ex-arcebispo de Bordeaux ainda é membro da Doutrina da Fé do Colégio dos Cardeais. Como tem menos de 80 anos, pode participar de um conclave para eleger o próximo papa.
Dom Moulins-Beaufort, por outro lado, afirmou que o Papa Francisco já sabia do caso de abuso do cardeal quando Ricard veio a Roma no final de agosto para um consistório e uma reunião de dois dias de todo o Colégio Cardinalício.
“Ao se tentar remediar, conseguimos analisar cada uma das disfunções”, disse dom Blanchet, que sucedeu a dom Santier no ano passado como bispo da Diocese de Créteil. Blanchet também afirmou que as autoridades em Roma “reconheceram” as “disfunções em todos os níveis”. “Isso deu origem a discussões muito livres e profundas”, disse dom Moulins-Beaufort. “Encontramos interlocutores totalmente abertos a esse assunto”, acrescentou.
Os bispos franceses vieram a Roma com três especialistas leigos em questões relacionadas a abusos. Entre eles estava Hervé Balladur, coordenador dos grupos de trabalho que foram criados depois que a Comissão Independente sobre Abuso Sexual na Igreja publicou seu devastador relatório. Outro foi Alain Christnacht, que foi conselheiro de Estado e chefe de gabinete do Ministério da Justiça na França, hoje, chefe do grupo consultivo dos bispos para lidar com casos de pedocriminalidade desde 2016. E o terceiro leigo foi Ségolaine Moog, diretora do Serviço Nacional de Proteção a Menores dos bispos.
Segundo várias fontes, os bispos franceses também estiveram em Roma para “criar laços de confiança, a serem mantidos ou fortalecidos” com as autoridades disciplinares romanas. Para a CEF, acredita-se que os “mal-entendidos” que se seguiram à publicação do relatório da CIASE e as tensões geradas com Roma devem ser reparados.
“Este caso é emblemático da distância que pode existir entre Roma e Paris”, disse uma fonte muito familiarizada com a CEF, que insistiu que deve haver “melhor comunicação” entre os bispos e o Vaticano. Acredita-se que os desentendimentos entre os dois lados também se devam ao fato de a Igreja da França não ter uma presença forte dentro da Cúria Romana.
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Vaticano admite “disfunções” no tratamento de casos de abuso sexual - Instituto Humanitas Unisinos - IHU