10 Dezembro 2022
Há algo de sincero, quase de terno, na consternação com que o Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Lavrov, relata como foi “desumano”, há dois anos, na Suécia, ter sido forçado a fazer xixi em um banheiro unissex.
O comentário é do jornalista, escritor e roteirista italiano Michele Serra, publicado por La Repubblica, 09-12-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Renunciando a considerações óbvias demais sobre o que é realmente “desumano” na vida das pessoas (ser bombardeado, talvez? Ser enviado para morrer na guerra aos 20 anos de idade?), o que importa é captar, em Lavrov e no Estado-Maior putinista, a perplexidade reacionária, igual em todas as épocas, diante dos tempos que mudam.
Latrinas unissex? Confusão de gênero? Os homossexuais e os transexuais que se dão a permissão de interferir no xixi de Lavrov? Coisa de louco! Onde vamos parar, minha senhora, ou, melhor, meu senhor? Volta à mente o patriarca Kirill, quando disse (ilustrando da melhor maneira possível a agressão contra a Ucrânia) que passar para o campo ocidental significa ser forçado a organizar a Parada Gay.
E, no seu âmbito muito, mas muito menor, também vem à mente a muito recente declaração do treinador da Croácia, que nunca, jamais, gostaria de ver seus jogadores comemorarem dançando, como os brasileiros. Serão “bichas”, talvez?
Se, no susto dos reacionários, não estivesse implícita a violência da restauração, poderíamos rir disso. O problema é que, a partir da brusca desorientação dos tempos que mudam e nunca nos pedem permissão para isso, nascem bloqueios emocionais e agressividades violentas, terríveis.
Talvez precisemos de banheiros especiais para os assustados. Os Lavrovs, os Kirills, os líderes religiosos do Irã, para os quais basta uma mecha de cabelo e um banheiro assexuado para fazê-los enlouquecer de medo.
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A desorientação dos reacionários - Instituto Humanitas Unisinos - IHU