19 Outubro 2022
O artigo é de José Maria Castilho, teólogo espanhol, ex-professor de teologia e Doutor Honoris Causa pela Universidade de Granada, em artigo publicado por Religión Digital, 19-10-2022.
Em 13 de outubro, uma importante reunião dos representantes da Igreja e do Estado foi realizada em Madri para especificar como devem ser especificadas as relações entre os dois poderes: poder religioso e poder político. Como é, era necessário fazê-lo. E acho que foi bem feito.
Mas confesso que este encontro, do meu ponto de vista, deu-me (pelo menos) a oportunidade de pensar no enorme problema que estes “Acordos” escondem. Se ao invés de gerenciar adequadamente os "Acordos Igreja-Estado", apenas uma palavra tivesse sido alterada, de modo que o tema a ser discutido fosse "Acordos Evangelho-Estado", tal colóquio ou debate faria sentido? Além disso, como muitos pensam, em nossa sociedade atual, essa pergunta faz sentido? Não é um absurdo simplesmente prateá-lo?
Claro, tudo isso é bobagem, se pensarmos na Igreja como uma “instituição religiosa” e pararmos de contar. Se a Igreja nasceu do Evangelho, não pode agir contra o Evangelho. Jesus, de quem nasceu a Igreja, não fez “acordos” com Pilatos ou Herodes. Jesus foi morto pelos líderes da Religião. Porque enfrentou tais líderes a ponto de provocar neles a convicção de que eram incompatíveis com Jesus e seu Evangelho (cf. Jo 11, 47-53).
Ora, se a Igreja não deve – nem pode – organizar-se e funcionar de tal maneira que, se quer realmente ser fiel a Jesus e ao seu Evangelho, não deve antes de tudo pensar e decidir, em profundidade, se os seus acordos com o Estado são compatíveis com o Evangelho, ao qual deve sobretudo ser fiel e coerente?
Os "Acordos Igreja-Estado", entre a Santa Sé e o Estado espanhol (assinados em 3 de janeiro de 1979), estabelecem uma série de privilégios econômicos para a Igreja, que contribuem - especialmente para o clero - com vários milhões a cada ano. A isenção dos impostos fiscais e dos valores recebidos pela Igreja, para assegurar o salário dos bispos, padres, capelães e demais cargos eclesiásticos, nada mais, dá aos "homens da Igreja" a segurança econômica, que está ao alcance de poucos cidadãos. Por outro lado, uma Igreja protegida e paga pelo Estado estará – como é lógico – ao serviço do Estado. O que chega à Política como uma luva. E também é conveniente para a Religião, que assim se sente mais protegida e segura.
E o Evangelho? O que fazemos com isso? Não sei como conseguimos, mas o fato é que, digam o que dizem, tanto os homens da Religião como os da Política, o fato é que tudo continua igual. E do Evangelho, repito, o que fazemos? Isso é despachado em pouco mais de um quarto de hora, todos os domingos.
Sei muito bem que não disse uma palavra sobre os Acordos Igreja-Estado. Eu não entendo muito disso. Em todo caso, devo dizer que, se escrevi esta breve e simples reflexão, é porque me preocupo muito com a relação que o Estado tem com o Evangelho. Em suma, o que mais nos preocupa é: os privilégios e o dinheiro que o clero precisa ? Ou melhor, saúde e pão de cada dia, urgentemente necessários para os mais necessitados?
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“Jesus, de quem nasceu a Igreja, não fez ‘acordos’ com Pilatos ou com Herodes”. Artigo de José Maria Castilho - Instituto Humanitas Unisinos - IHU