Evento promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU discute aumento da fome e da insegurança alimentar em decorrência da guerra
"Ninguém que está em guerra pode dizer: 'não, eu não sou louco'. A loucura da guerra". Essas palavras, ditas pelo Papa Francisco em uma audiência geral em agosto deste ano, fazem coro às manifestações diárias do pontífice contra a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, mas também contra as guerras em curso na Síria, no Iêmen e em outros países do mundo, e suas súplicas pela paz. "Penso nas crianças, tantos mortos e refugiados e tantos feridos. Tantas crianças ucranianas e russas que se tornaram órfãs. O órfão não tem nacionalidade. Eles perderam seus pais e suas mães, sejam eles russos ou ucranianos. Penso em tanta crueldade, em tantas pessoas inocentes que estão pagando pela loucura, pela loucura de todas as partes, porque a guerra é uma loucura. Pensemos em outros países que estão em guerra há muito tempo. Mais de dez anos a Síria. Pensemos na guerra no Iêmen, onde as crianças passam fome. Pensemos nos Rohingya, que percorrem o mundo atrás da injustiça de serem expulsos de suas próprias terras", acrescentou.
Desde o início da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, em fevereiro deste ano, especialistas de todas as áreas têm se manifestado, criticando ou justificando o conflito em curso e chamando a atenção para os seus efeitos locais e globais. Um deles, é o aumento da fome e da insegurança alimentar entre uma parcela das populações ucraniana e russa, que se tornou refugiada, mas também nos países que dependem das relações comerciais com a Ucrânia e a Rússia, especialmente para a compra de grãos.
Há dois anos, a estimativa em torno do número de pessoas em grave situação de insegura alimentar era de 135 milhões, mas, em função dos efeitos da pandemia, o número dobrou: hoje, são 276 milhões de pessoas. Essa situação, de acordo com o secretário-geral da ONU, António Guterres, tem sido agravada por conta da guerra, uma vez que, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas - ONU, 36 estados no mundo dependem da Ucrânia e da Rússia para mais da metade de suas importações de grãos, como, República Democrática do Congo, Líbano, Somália, Síria e Iêmen. "Há alimento suficiente para todos no mundo. O problema é a distribuição e está profundamente ligado à guerra na Ucrânia”, disse.
Para tratar sobre essa temática, o Instituto Humanitas Unisinos - IHU promove hoje, 11-10-2022, a conferência virtual intitulada "Guerra na Ucrânia e as repercussões na segurança alimentar em nível mundial", com a professora do curso de Relações Internacionais da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos, Eduarda Figueiredo Scheibe, e o pesquisador Augusto César Dall'Agnol, mestre e doutorando em Estudos Estratégicos Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. O evento integra o "Ciclo de Estudos Sindemia Global. Obesidade, desnutrição e novo regime climático. O (re)pensar das cadeias agroalimentares globais", promovido pelo IHU em parceria com o curso de Nutrição da Unisinos, e será transmitido na página eletrônica do IHU, nas redes sociais e no Canal do IHU no YouTube às 19h30min.
Em maio deste ano, em outro pronunciamento oficial, durante uma reunião de lideres mundial para discutir a crise de segurança alimentar global, Guterres advertiu para o risco de "os níveis de fome no mundo atingir um novo pico máximo". De acordo com ele, a guerra "ameaça levar dezenas de milhões de pessoas a uma condição de desnutrição e carestias, agravando uma crise que provavelmente durará anos"
Entre as regiões que também enfrentam problemas relativos à fome e à desnutrição alimentar destaca-se a América Latina. Segundo o novo representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura – FAO na América Latina, Mario Lubetkin, "quatro a cada dez habitantes da América Latina vive com insegurança alimentar".
Apesar de América Latina e o Caribe estarem entre os maiores exportadores de alimentos do planeta, informa, "neste momento há 56,5 milhões de latino-americanos e caribenhos que passam fome e 268 milhões de pessoas com insegurança alimentar moderada ou grave. E ainda temos que agregar cem milhões de adultos com obesidade, isso é, mal alimentados. O país mais afetado é o Haiti que tem 47% da população, ou seja, 5,4 milhões de habitantes em situação de fome". Na avaliação dele, "a fome no mundo vem se agravando por erros na política social”. A tendência, adverte, "é o aumento da fome, não a diminuição como se havia destacado há cinco anos". Segundo estimativas internacionais para este ano, a previsão é que 2022 termine com quatro vezes mais pessoas em situação de fome do que no ano de 2017.