O Papa em dialeto ao povo de L’Aquila: “Jemo ’nnanzi, sejam resilientes”

(Foto: Reprodução | Vatican Media)

Mais Lidos

  • O “non expedit” de Francisco: a prisão do “mito” e a vingança da história. Artigo de Thiago Gama

    LER MAIS
  • "A ideologia da vergonha e o clero do Brasil": uma conversa com William Castilho Pereira

    LER MAIS
  • A luta por território, principal bandeira dos povos indígenas na COP30, é a estratégia mais eficaz para a mitigação da crise ambiental, afirma o entrevistado

    COP30. Dois projetos em disputa: o da floresta que sustenta ou do capital que devora. Entrevista especial com Milton Felipe Pinheiro

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

30 Agosto 2022

 

L'Aquila. Três imagens contam a parte do dia passado ontem pelo Papa em L 'Aquila como mensageiro de coragem para um povo 'resiliente', como ele o chamou, que desde o terremoto de 2009 teve trezentas mortes e o centro histórico destruído.

 

A reportagem é de Luigi Accattoli, publicada por Corriere della Sera, 29-08-2022. A tradução é de Luisa Rabolini

 

A primeira é de Francisco que conclui a saudação à cidade na Piazza del Duomo - na primeira fila os parentes das vítimas - com as palavras em dialeto abruzês: “Jemo 'nnanzi!”, vamos em frente.

 

Papa Francisco na Piazza del Duomo

Foto: Santa Sé

 

A segunda é o Papa na cadeira de rodas e com um capacete de segurança na cabeça que visita a Catedral ainda a reconstruir ouvindo do cardeal Giuseppe Petrocchi, arcebispo da cidade, o relato do quanto ainda falta fazer – muito, demais - para curar as feridas do terremoto.

 

Papa Francisco durante visita à Catedral

Foto: Santa Sé

 

A terceira é Francisco que se levanta da cadeira de rodas com excruciante esforço (ontem a dor no joelho deve ter sido mais forte do que de costume) e atravessa a pequenos passos a Porta Santa do Perdão Celestino, que acabou de abrir: um particular Jubileu de L'Aquila que remonta a Celestino V, o Papa que o instituiu em 1294; única herança ainda viva do seu pontificado que durou apenas cinco meses e que terminou com a renúncia que parece ter induzido Dante - no terceiro canto do Inferno - a colocar aquele Papa entre os "indolentes".

 

Francisco recordou ontem a passagem de Dante, mas defendeu Celestino: “Recordamos erroneamente a figura de Celestino V como aquele que fez a ‘grande recusa’. Mas Celestino V não foi o homem do não, foi o homem do sim. Não há outra maneira de realizar a vontade de Deus do que assumindo a força dos humildes. Os humildes parecem, aos olhos dos homens, fracos e perdedores, mas na realidade são os verdadeiros vencedores, porque são os únicos que confiam completamente no Senhor”.

 

Papa Francisco abre a Porta Santa (Foto: Santa Sé)

 

É a segunda vez que Francisco se refere a Celestino V, sepultado em L'Aquila, propondo-o como modelo para quem quer uma Igreja pobre e livre do poder: já o havia feito em julho de 2014 em Isernia. “Celestino V - disse ontem Bergoglio durante a homilia diante da Basílica de Collemaggio - foi uma corajosa testemunha do Evangelho porque nenhuma lógica de poder pôde aprisioná-lo e geri-lo. Nele admiramos uma Igreja livre das lógicas mundanas e testemunha daquele nome de Deus que é misericórdia”.

 

Francisco é o primeiro Papa, em 700 anos de história da Igreja, que não elogia Celestino apenas pela santidade e humildade, pelas quais foi canonizado já em 1313 pelo Papa Clemente V, mas que também o indica como inspirador de um modelo de Igreja semelhante àquela que o Papa argentino se propôs a construir desde o início de seu pontificado: "Como gostaria de uma Igreja pobre e para os pobres".

 

Assim, Francisco elogiou a natureza forte dos abruzeses: “Vocês, povo de L'Aquila, demonstraram um caráter resiliente. Enraizado na vossa tradição cristã e cívica, permitiu resistir ao impacto do terramoto e iniciar imediatamente o corajoso e paciente trabalho de reconstrução”. É precisamente à reconstrução da cidade que Francisco exortou com estas palavras: “É fundamental ativar e fortalecer a colaboração orgânica, em sinergia, das instituições e dos órgãos associativos: uma harmonia laboriosa, um empenho de longo prazo. Porque estamos trabalhando pelos filhos, netos, pelo futuro”.

 

Leia mais